domingo, 23 de fevereiro de 2020

Ecos Urbanos | Mobiliário Urbano



Mobiliário urbano é o conjunto de elementos que ajudam na ambientação, organização e funcionalidade das cidades: pontos de ônibus, quiosques, bancos, sanitários públicos, floreiras, lixeiras, placas de sinalização e de ruas, bebedouros, apoio para bicicletas, postes de iluminação, corrimãos, grelhas para árvores, balizadores, obras de arte, estruturas para sombreamento etc. Na foto ao lado, bancos feitos pela marcenaria municipal de Sinop, MT, com madeira apreendida pelo Ibama (aqui).  

 Respeito ao cidadão. Coimbra, Portugal. Foto: Anita Di Marco
Enfim, o conceito engloba todos os elementos construídos e dispostos na área urbana, responsáveis por tornar uma cidade mais agradável, funcional e convidativa. Como sempre disse e continuo dizendo, a cidade é nossa casa maior e, portanto, precisa e merece ser tratada com carinho e cuidado. O objetivo é garantir mais segurança, conforto e bem-estar a todos, criando ambientes prazerosos, seguros, confortáveis, cheios de vida e atrativos. Jamais impedir ou dificultar a passagem dos pedestres, gerar situações de perigo, dificultar a visão, diminuir a largura da calçada etc... Segurança, por exemplo, é item essencial, mas se os moradores não frequentam ruas, praças e espaços públicos da cidade, como garantir segurança em um lugar deserto? Por outro lado, como frequentar espaços sujos, feios, mal iluminados, sem conforto nem segurança para o deslocamento e permanência do cidadão? 

Por isso, Jane Jacobs (1916-2006), jornalista americana, escritora e grande batalhadora pela construção de cidades mais humanas, em seu clássico livro Morte e Vida das Grandes Cidades (1961), já falava a favor da humanização das áreas urbanas, buscando reverter o processo de criar cidades que esqueciam o indivíduo e privilegiavam o automóvel. Ressaltava que a teia de relações criada entre os membros de uma mesma comunidade ou bairro e a movimentação constante de pessoas nos espaços públicos são elementos essenciais para uma vida segura e pulsante nas cidades.

Jane Jacobs.
Jacobs considerava moradores e usuários como os olhos da rua que, com sua presença ativa nos espaços públicos e ruas, fiscalizavam esses espaços e garantiam a segurança. Defendia ideias simples e inovadoras na época, como a valorização do patrimônio cultural, a mistura de usos, o adensamento equilibrado e o cuidado com pedestres e espaços públicos. São ideias que, a cada dia, têm mais e mais defensores. A segurança, por exemplo, passa a ser consequência natural nos espaços que favorecem a permanência e a movimentação de pessoas, pois elas se sentem convidadas a vivenciar a cidade, sentem-se parte afetiva, efetiva e responsável pela comunidade. Quanto mais espaços agradáveis uma cidade tem, quanto mais respeito o poder público demonstra à sua população, mais seguros e vibrantes serão seus espaços, porque a população se apropria deles como seus. E, todos sabemos, quem ama cuida.

Tragédia no Mar, bronze patinado, 2005 (aqui). Obra do escultor
José João de Brito. Matosinhos, Porto, Portugal. Foto: Anita Di Marco



Para começar a recuperar o sentido do urbano e do encontro nas cidades, é preciso sair dos guetos e deixar de esconder-se atrás de muros e cercas; é preciso humanizar o espaço público, repensar o projeto de praças, espaços e equipamentos para possibilitar a arte do encontro. É preciso pensar na estética, sim, porque todos valorizam a beleza e sentem prazer em frequentar espaços agradáveis. As peças do mobiliário urbano, portanto, devem abrigar-se sob um projeto conceitual global que contemple a cidade como um todo. Se vistas e pensadas isoladamente, o resultado parecerá desconexo e, no mínimo, estranho, afastando os usuários. Devem ser peças bem projetadas, resistentes, criativas, com certa uniformidade para garantir acessibilidade, conforto físico e visual, segurança e clareza de informações. 

Em muitas cidades, no entanto, o bom senso parece estar de férias, longas férias, se é que algum dia existiu. Calçadas estreitas, escuras e esburacadas, com postes, placas de rua e lixeiras que atravancam o ir e vir do cidadão (ver aqui). Nas praças, bancos danificados, lixeiras destruídas ou mal resolvidas, canteiros sem manutenção, painéis informativos fechando o horizonte. Nas vias públicas, enormes placas comerciais pensam disputar a atenção dos clientes, mas, na verdade, criam uma horrível e confusa paisagem urbana. É tão mais agradável fazer compras a céu aberto, em lojas com placas que não aviltem nem obstruam nosso olhar...

Sevilha. Espaço público enriquecido. Foto: Anita Di Marco
Decisões simples e criativas podem criar situações inusitadas e agradáveis, locais que atraiam o olhar e convidem o indivíduo a permanecer; espaços nos quais as pessoas tenham prazer em circular. No mundo todo, há soluções fantásticas. Um deles é a Plaza de la Encarnación, em Sevilha, na Espanha,  com a estrutura chamada Metropol Parasol, ou Las Setas de Sevilla (2005-11). Sobre seis pilares, a estrutura de madeira cobre a praça a 26 metros de altura, protege e convida as pessoas a caminharem sob e sobre ela em suas rampas sinuosas, de onde se tem uma bela vista de 360 graus da cidade. O conjunto abriga ainda museu, ruínas arqueológicas, centro de eventos e lojinha. Projeto do arquiteto alemão Jürgen Mayer-Hermann, resultado de concurso arquitetônico, a intervenção cria referências, orienta, protege e enriquece aquele espaço absolutamente vibrante, unindo tradição à contemporaneidade. 

Av. Paulista, anos 1970. Imagem: divulgação
No Brasil, várias cidades buscaram adotar tais práticas. Dentre elas, destaque para o projeto pioneiro Nova Paulista, da década de 1970 em SPaulo. Projeto dos arquitetos João Carlos Cauduro e Ludovico Martino (design gráfico, comunicação visual e mobiliário urbano) e Rosa Kliass (paisagismo), a intervenção mudou a face da Av. Paulista. Infelizmente, o projeto foi descontinuado e a ideia de unidade estética se perdeu.  

Projeto Nova paulista. Imagem: https://adplog.wordpress.com/2012/02/22/mobiliario-da-paulista/

Parklet. Cascavel:https://www.jornaldooeste.com.br
Nessa busca por harmonizar o mobiliário à cidade, outras cidades não ficaram atrás e, na década de 1990, por exemplo, o Rio de Janeiro criou um manual para orientar a implantação do mobiliário urbano. Mais recentemente, os parklets, cujo conceito surgiu em 2005 em San Francisco, representam outra possibilidade de criar áreas de convívio utilizando o espaço de uma ou duas vagas do estacionamento para veículos junto a calçadas. Há exemplos em inúmeras cidades brasileiras, nem sempre com bons resultados práticos e estéticos. 

Os exemplos poderiam ser muito mais numerosos, mas não se trata aqui de imitar soluções ou espaços, apenas de alertar para que a população cobre vontade política dos homens públicos e que estes deem liberdade de ação para nossos criativos urbanistas. Basta aprender a olhar para as nossas cidades; e também educação, que nunca é demais. Afinal, retomando uma frase absolutamente verdadeira, a cidade é nossa casa maior. Todos somos responsáveis por ela, sem exceção, mas em maior grau os homens públicos, já que receberam nosso voto para transformarem concretamente e para melhor a vida dos cidadãos.

Referências:
https://adplog.wordpress.com/2012/02/22/mobiliario-da-paulista/ 

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Ecos Imateriais | Aquarianos


Como ninguém deveria viver trabalhando o tempo todo e, sim, intercalar estudo e trabalho com momentos mais leves, resolvi dar um tempo na minha seriedade e suavizar um pouco. Rir é bom, brincar é bom, ler coisas não relacionadas ao nosso trabalho também é bom. São atividades que nos trazem calma e as indispensáveis pausas, tão necessárias ao raciocínio, à mente, à dureza da vida.

Resolvi, então, falar um pouco sobre Aquário, último signo do elemento Ar (Gêmos e Libra são os demais). Não me pergunte o porquê. Não sou estudiosa da Astrologia (estudo do movimento dos astros e sua influência na vida das pessoas), mas acho bem interessante esse conhecimento que é tão antigo quanto a humanidade. Afinal, faraós, reis e líderes dos povos antigos não iniciavam guerras, plantações ou acordos sem antes consultar os astros. Os três reis magos eram  conhecidos como sábios astrólogos. O suíço Carl Gustav Jung também fez alguns estudos sobre a Astrologia. 

Pois bem, como boa aquariana que sou, sempre ouvi os estudiosos sérios (porque há muitos que não são mesmo!) da Astrologia dizerem que os nascidos sob o signo de Aquário buscam, durante toda a vida, progredir como seres humanos e atingir níveis mais altos da consciência. São indivíduos idealistas, visionários, independentes, desapegados e racionais, mas também criativos, inovadores e com a cabeça no futuro, que querem romper com o velho e instaurar o novo.

-Verdade, estou o tempo todo querendo progredir e, convenhamos, não é uma tarefa fácil. Autoconhecimento sincero, honesto e corajoso é um processo difícil, mas inevitável, ao menos para mim. E, sim, visionária e idealista ao extremo, apesar de, às vezes, ficar desanimada com o rumo que as coisas estão tomando, mas respiro fundo e sigo adiante...


Aquarianos prezam a amizade, são leais, humanitários, solidários, com grande senso de justiça e de coletividade. Organizados, criativos e perfeccionistas não seguem padrões, nem concordam com algo sem muita avaliação e análise crítica, ou seja, podem ser considerados "do contra" e querem modificar quase tudo.  
-Outra verdade. Sofro com injustiças, falta de respeito, preconceitos, hipocrisia e, você há de convir comigo, no mundo de hoje a coisa anda difícil. Tenho olhos de águia e percebo de longe o que vem do outro e, dependendo do que vejo, prefiro ficar só. Vejo também o desequilíbrio nos espaços e na natureza: a falta de harmonia dos ambientes naturais ou construídos, praças e espaços públicos; a má organização e disposição de quadros, objetos, livros e cômodos de uma casa etc.

Do lado negativo, seu perfeccionismo não deixa que aceitem traições nem falhas, podendo ser duros e rudes, às vezes. Também são vistos como revolucionários, questionadores e radicais. Seu maior desafio talvez seja aceitar ideias conservadoras e individualistas, além de injustiças, é claro. Isso tira um aquariano do sério.

- Ooops, a própria.... Mas também é algo que tento corrigir em mim. Um pouquinho a cada dia, cada vez com mais consciência. Quem me conhece sabe, mas ainda tenho um longo caminho pela frente. Como todos nós...
 
 http://www.geocities.ws/ca_mello/signos.html
Curiosa, gosto de conhecer origem e símbolo de cada signo. Segundo a mitologia, Aquário está associado a Ganímedes, jovem pastor da Frígia que guardava os rebanhos de seu pai, o rei Trós. O jovem chamou a atenção de Zeus que o raptou e o levou para o Olimpo, onde o jovem passou a desempenhar as funções do garçom, servindo aos deuses o néctar e a ambrosia, símbolos da imortalidade e do alimento que plenifica. Depois, despejava sobre a Terra o que restara da bebida dos deuses. Por isso, o símbolo de Aquário é um aguadeiro que segura um vaso de onde jorra água da vida, ligando a humanidade ao conhecimento e à sabedoria divina.
Assim, Aquário corporifica o famoso dito de Hermes Trimegisto: “Assim como é em cima é embaixo”. Ou seja, ele nos lembra que o macro (o Universo) e o micro (o Ser Humano) estão interligados, são reflexos um do outro e se influenciam mutuamente. Na essência de cada ser humano, portanto, encontram-se a perfeição, a sabedoria e a harmonia absolutas.  Em mim, em você, no outro. Em todos nós.

Dizem os especialistas que Saturno e Urano são os planetas regentes. Confesso total desconhecimento sobre isso. Só sei que, desde criança, adorava os anéis de Saturno e me via escorregando neles, como a Emília do Sítio do Picapau Amarelo, no livro Viagem ao Céu. E Viva Monteiro Lobato! Quanto a Urano, o planeta parece simpático (como Mercúrio e Netuno), bem mais do que Marte (me lembra guerra), Vênus (vaidade) e Plutão, um planeta numa galáxia muito, muito distante.....

Por isso, mesmo sem entender muito do tema, acho divertido descobrir os colegas de signo. Alguns desses aquarianos, de fato, não me representam (não vou citar nomes). Outros, em vários campos, me enchem de orgulho:
Na música: Mozart, Kitaro, Bob Marley; George Harrison, John Williams (compositor do tema de Star Wars) Tom Jobim, Martinho da Vila, Djavan;
Na Filosofia: Dom Hélder Câmara, Leandro Karnal e Francis Bacon;  
Na Literatura: Charles Dickens, Júlio Verne, Lewis Carroll, Boris Pasternak, Bertolt Brecht;
Na Ciência: Galileo Galilei, Charles Darwin, Thomas Edison;   
Na Política: Abraham Lincoln, Fernando Haddad;    
Na Arte: Edouard Manet, Anna Pavlova, Mikhail Baryshnikov, Yoko Ono;     
Nos esportes/entretenimento: Michael Jordan, James Dean, Daiane dos Santos.

Além deles, é claro, os meus queridos amigos aquarianos.  Também não vou mencioná-los, mas eles sabem quem são e que moram no meu coração. 
Loucura? Sim, dizem que os aquarianos são meio loucos (ou irreverentes, como diz minha amiga Ione), mas o cineasta japonês Akira Kurosawa dizia uma frase com a qual eu me identifico: “Num mundo louco, só os loucos podem ser considerados sãos”.

Referências: