Imagem: pavablog.com |
Nunca fui muito fã de
listas que premiem o aspecto qualitativo das coisas... os mais, os melhores, os mais criativos, os mais sensíveis, os mais bonitos ... Se beleza, aptidão, criatividade
e sensibilidade são qualidades individuais e subjetivas, o critério de seu
julgamento também o é.
Assim, não me convence muito esse tipo de listagem,
sobretudo em arquitetura e mais ainda com o uso abusivo de superlativos: os melhores, os mais belos, os mais feios... Afinal, exceções são exceções. Bom
seria se tivéssemos uma grande quantidade de bons projetos que tornasse difícil
nossa escolha. Ei, espere aí.... Nós temos, sim...
No caso de coisas devidamente
mensuráveis – altura, largura, área, inclinação, profundidade, tudo bem.
Pode-se criar uma lista, já que réguas e escalas são as mesmas em todos os
lugares. Mas critérios qualitativos como beleza, aparência, funcionalidade, presença e outros são um pouquinho diferentes, já que são subjetivos. No
tema abordado aqui, arquitetura, além do gosto pessoal, aquele que julga e
faz essa listagem deve ter outros critérios, a meu ver, indispensáveis como
tempo de familiaridade com o tema, conhecimento especializado, pesquisa e
repertório, entre outros quesitos.
O jornal inglês The Guardian (link: http://www.theguardian.com/culture/series/the-10-best ) publica semanalmente uma série intitulada ‘Os dez melhores’, abordando os
mais variados temas: teatros, peças, edifícios de concreto, atores, monumentos,
cidades, restaurantes, entre tantos outros. Muitas outras publicações também fazem esse tipo de
seleção “os dez mais”, mas não tão
sistematicamente. Aliás o Brasil aparece nessa listagem, em várias oportunidades e temáticas.
Desculpem-me os fãs de carteirinha
desse tipo de listagem, mas discordo da maioria delas e vou dizer o motivo. Com todo o respeito que o jornalismo e a profissão de jornalista merece de mim... [afinal, já trabalhei em revistas de arquiteturas e sites na elaboração de artigos, resenhas de livros, entrevistas, traduções e revisões), pelo menos aquele praticado pelos BONS profissionais, Jornalistas com J maiúsculo, que buscam a
notícia, informam-se, verificam o interesse pessoal da fonte na informação 'oferecida', checam
os fatos, ouvem os dois lados antes de publicar e não escrevem baseando-se no
critério subjetivo e preguiçoso do “ouvi dizer”, “li”, “me disseram”, ou do
consagrado “Gillette Press” (simplesmente
recortar e colar)...], por mais que um jornalista conheça o tema arquitetura, não acho que se deva elencar qualquer coisa a partir de critérios puramente subjetivos e, portanto, arbitrários, sem especificá-los claramente. É sempre um risco, pelo menos para mim, que sempre questiono a lista final.
É evidente que o profissional da imprensa
pode listar o que quiser com base em seu gosto pessoal, com base no que seus amigos indicam, em alguma enquete realizada entre conhecidos sobre o tema, em indicações a partir de lugares
frequentados, em viagens e publicações... Enfim, com base em qualquer coisa, desde que explicite com clareza os
critérios (subjetivos) utilizados: meu
gosto, minha escolha, minha intuição, meus amigos sugerem.... Perfeito. Poderá
até buscar explicar as razões para ter escolhido aqueles critérios e não outros, mas, que fique claro, aquela lista e aqueles critérios serão sempre SEUS.
A história da arquitetura está
repleta de fantásticos edifícios de concreto, de alvenaria de tijolos, de pedra, de estrutura
metálica, de terra, belíssimos (ou não), atemporais (ou não), inimitáveis ou não, mas que sempre trazem a marca
de seu tempo e que fazem/fizeram história em suas respectivas épocas e lugares. Mas daí, a selecionar os 10 'melhores', ou cinco ou um, acho arriscado. Corre-se o risco
de deixar de lado um ícone, um referencial, um patrimônio em tal ou qual país, um referencial urbano único local,
mas que, com certeza, faz parte de um compêndio da história da arquitetura
daquele lugar. Corre-se o risco de estreitar o olhar do leitor, em vez de
expandi-lo.
Como exemplo, tomo o caso aqui mencionado Ponte ou Belvedere? do edifício conhecido como Walkie-Talkie, projeto de Rafael Viñoly, em Londres, recentemente considerado o edifício mais feio da cidade. Quem votou? Quais os critérios? Beleza é mensurável? Aposto que o arquiteto o considerava fenomenal... Podemos elencar inúmeros outros exemplos, na arquitetura, na arte, no design. Antonio Gaudi é amado por uns e detestado por outros. O mesmo acontece com Picasso e suas telas, ou com Philippe Starck. Ou Anish Kapoor com sua famosa escultura-torre-mirante para os jogos olímpicos de 2012, em Londres. E por aí vai...
Como exemplo, tomo o caso aqui mencionado Ponte ou Belvedere? do edifício conhecido como Walkie-Talkie, projeto de Rafael Viñoly, em Londres, recentemente considerado o edifício mais feio da cidade. Quem votou? Quais os critérios? Beleza é mensurável? Aposto que o arquiteto o considerava fenomenal... Podemos elencar inúmeros outros exemplos, na arquitetura, na arte, no design. Antonio Gaudi é amado por uns e detestado por outros. O mesmo acontece com Picasso e suas telas, ou com Philippe Starck. Ou Anish Kapoor com sua famosa escultura-torre-mirante para os jogos olímpicos de 2012, em Londres. E por aí vai...
De qualquer modo, mesmo sendo
arquiteta, não me arriscaria a elencar os melhores e os piores, os mais bonitos
e os mais feios. Nada de superlativos... Poderia fazer (como já fiz!) uma lista com minhas obras e
cidades preferidas, meus arquitetos e projetos favoritos, com os parques onde
mais gosto de caminhar, assim como já fiz uma lista dos filmes e livros com os quais mais
me identifiquei, mas essa sou eu.
Referências
The Guardian: http://www.theguardian.com/artanddesign/2015/dec/11/the-10-best-theatres-architecture-epidaurus-radio-city-music-hall
The Guardian: http://www.theguardian.com/artanddesign/2015/dec/11/the-10-best-theatres-architecture-epidaurus-radio-city-music-hall
Nenhum comentário:
Postar um comentário