Serra do Quebra-Cangalha. Cunha ao fundo. Foto: Anita Di Marco |
Admiradora
da antiga arte em cerâmica, fez uma visita a Cunha, no interior de São
Paulo, cidade de bela paisagem serrana e conhecida pelos trabalhos em cerâmica, muitos ateliês e artistas com suas técnicas especiais.
Encantou-se pela região. Envolveu-se com a atividade dos ceramistas locais e
daí para contribuir a fundar um instituto para divulgar a cerâmica queimada
nos fornos Noborigama (o forno que sobe montanhas) foi um passo. As
atividades do Instituto e a paisagem levaram Fernanda a alugar um imóvel
naquele município para evitar as constantes viagens entre Cunha e São Paulo,
onde morava.
O horizonte é logo ali... Foto: Anita Di Marco |
Perspicaz, não deixou
escapar a oportunidade; estudou, investigou e analisou as condições de solo e clima da região. Os resultados confirmaram sua ideia inicial; no entanto, como nunca
havia atuado na área agrícola, decidiu, literalmente, fazer uma experiência.
Plantou dez pés de lavanda compradas no Ceasa de São Paulo para verificar,
empiricamente, se aquela sensação inicial de "parece-ter-um-quê"
da Provence fazia sentido. Ao perceber que aquelas mudinhas se desenvolviam bem, continuou seu estudo atento das espécies, das técnicas de plantio, dos suprimentos necessários
para corrigir o PH do solo, de períodos, formas e técnicas para poda, corte,
extração do óleo essencial e das possibilidades que a plantação lhe oferecia. Alugou destiladores, mergulhou na pesquisa das espécies mais
adaptáveis ao nosso clima, investiu na terra, na educação da mão de obra e no sonho.
Cultivo em Kent, Inglaterra, 2013. Foto: Anita Di Marco |
Decidida,
voltou ao Brasil com a decisão tomada e pronta a embarcar e concretizar um novo
sonho. Aumentou a área do sítio e começou a prepará-lo para o plantio.
Comprou livros, vídeos, fez cursos e, a partir de 2012, investiu no
cultivo da planta. De sonho abstrato de unir aroma, beleza e
saúde, o cultivo das lavandas passou a negócio concreto. Dois anos depois
daquelas dez plantas, já no final de 2013 a empresária inaugurava
O Lavandário, seu sonho do cultivo de lavandas, extração de óleos essenciais,
pesquisa e desenvolvimento de produtos naturais. Aquelas dez mudas não
só vingaram como foram as matrizes de toda a plantação de hoje, que conta mais
de 45.000 pés. Nesse meio tempo, visitou
fazendas de cultivo de lavanda na França, na Inglaterra, nos Estados
Unidos, na Nova Zelândia e na África do Sul. Hoje, ainda segue
pesquisando, aprendendo e inovando.
Agora especialista em lavandas, a empresária lembra que, além de ornamental, a
lavanda - ou alfazema - é planta nativa da região mediterrânea e muito cultivada
para a extração de seu óleo essencial, utilizado em perfumaria e produtos
cosméticos. Salienta que a grande vantagem em relação à região provençal
francesa é que o clima brasileiro, mais tropical, permite uma florada a cada
três ou quatro meses, a depender da poda. Esta é a etapa mais importante e
delicada do plantio e deve ser feita logo que a planta começa a secar, após a
florada exuberante. Assim, o manejo eficiente e a poda rotativa garantiriam
áreas floridas o ano todo.
Diz ela que, no mundo, existem seis famílias de lavanda que se
desenvolvem de acordo com as características geográficas do local. A mais
popular e a que mais encanta é a Lavanda angustifolia, em suas mais de 70
variedades, mas a espécie precisaria de um clima pouco mais frio do que o
nosso para hibernar por mais tempo e explodir em florada exuberante. No
Brasil, de clima mais tropical e um pouco mais quente, a espécie que melhor se
adapta é a Lavanda dentata, mais canforada do que a L. angustifolia o que
lhe dá um aroma mais forte, mas de excelente qualidade para uso terapêutico.
Mel de lavanda é um dos produtos oferecidos. |
Incansável,
Fernanda Freire continua a estudar e a fazer experiências. Hoje, sua propriedade tem
quatro espécies da planta: Lavanda stoechas (cujas pétalas secas são usadas
para decoração de bolos, pudins ou saladas); Lavanda multifida sidonie
(usada, sobretudo, no temperos de carnes e no molho pesto, substituindo o
manjericão); L.angustifólia (mais perfumada e que dá um agradável
toque aos pratos doces); e, a grande vedete da propriedade, L.dentata, a mais adaptada ao solo da região e empregada para extração de óleos
essenciais.
Hoje, além da lavanda, são plantadas outras ervas como alecrim, gerânio, manjericão e verbena, para extração de óleo e desenvolvimento de produtos.
Hoje, além da lavanda, são plantadas outras ervas como alecrim, gerânio, manjericão e verbena, para extração de óleo e desenvolvimento de produtos.
Direta,
diz que mais que ser um ponto turístico ou de venda de
produtos, seu objetivo primeiro foi reunir beleza, aroma,
bem-estar e saúde, despertando nas pessoas a sensação e o privilégio de ver e sentir de
perto a lavanda e suas propriedades terapêuticas. Foi trazer para nosso meio o imenso potencial dessa
planta suave e resiliente que se adapta às colinas e ao tempo frio; que
devolve os cuidados recebidos com múltiplos benefícios para o corpo e para a mente, já que o óleo essencial de lavanda tem propriedades
anti-inflamatórias, antibacterianas, antivirais, antidepressivas, relaxantes,
descongestionantes e tonificantes, combate a insônia e alivia queimaduras e
picadas de insetos.
Juntas desde o início Foto: Anita Di Marco |
Cores e aroma no ar. Foto: Anita Di Marco. |
Vivências Foto:Anita Di Marco |
A lojinha provençal. Foto: Anita Di Marco |
Foto: Anita Di Marco |
- As lavandas são lindas em qualquer horário, mas o pôr do sol realça o colorido das flores e o azul do
céu.
-
Os visitantes podem caminhar por praticamente todas as áreas plantadas, em torno dos
canteiros. Por serem flores rágeis e sujeitas a danos, a proprietária instalou cercas de
proteção. Sem isso, não teríamos a beleza das lavandas o ano todo.
Afinal, a área é de cultivo agrícola.
-
Não se esqueçam de que o trabalho de campo ocorre quando não há visitação;
assim, é imprescindível que a visitação seja limitada. Se quiser continuar a
ver campos de lavanda floridos o ano todo, respeite os horários e as regras.
- As massagens, vivências, fotos, filmagens e visitas de grupos devem ser agendados pelo site.
Tour O Lavandário:
Publicado em 13 set. 2016.
Localização
Rodovia SP-171, Km 54,7, s/n. Cunha – SP.
CEP:12530-000. Tel.: (12) 3111-6034
Horários de visitação e entradas:
De
sexta-feira a domingo e feriados: das 10h até o pôr do sol, dependendo da
estação do ano. Confira os horários e as entradas no site.
Como chegar
De carro:
Para quem vem de carro de São Paulo, a
viagem dura mais ou menos três horas. O melhor caminho é a Dutra (BR-116)
até Guaratinguetá. À direita, pegue a saída para Cunha, a
rodovia Paulo Virgílio (SP-171), chamada Estrada Cunha-Paraty.
Siga por ela, em meio a um cenário cheio de colinas e
diferentes tons de verde até Cunha. Se for direto para o
Lavandário, siga por mais dez quilômetros (km 54,7) até a entrada
à esquerda, sinalizada por um banner vertical de 12 m. de
altura.
Para quem vem do Rio de Janeiro, o
percurso é mais longo, quatro horas em média, pela Dutra até
Guaratinguetá. Nesse caso, a SP-171 fica à esquerda.
Outra
opção é vir por Paraty, subindo a serra em direção a Cunha, atravessando
um trecho do Parque Nacional da Serra da Bocaina. Após subir pela sinuosa estrada, o viajante chega ao Lavandário, agora à sua direita. Embora recuperada, o trecho dessa estrada tem trechos bastante íngremes e estreitos.
Observações:
- A estrada Cunha-Paraty, desde Guaratinguetá, é
cenário de torneios de ciclismo ou simplesmente ciclistas em busca de descanso.
- Para acessar o interior da propriedade, após a
guarita, há uma rampa bastante íngreme de cerca de 100 metros. Recomenda-se que
os carros desliguem o ar-condicionado para subir de forma mais tranquila.
- Carros grandes como vans ou ônibus não podem
subir a rampa de acesso ao interior da propriedade e podem estacionar na área
ao lado do portão de entrada.
Mais informações:
E-mail:
olavandario@lavandario.com.br - SAC (11) 98334 7172
Todas as fotos de autoria de Anita Di Marco.
Todas as fotos de autoria de Anita Di Marco.
Muito bom e completo esse post.
ResponderExcluirAjuda a entender o processo, fundamental para quem se interessa pelo assunto, para quem visita e também para quem quer conhecer a origem dos produtos.
Oi Soninha,
ExcluirFaltou muita gente na foto, inclusive você... Achei que ajuda a entender o todo e a origem, claro! um beijo, meu bem e volte sempre.
Anita
Anita, matérias como esta valem a Internet. Parabéns pela percepção e pela elaboração.
ResponderExcluirEu ousaria palpitar que você está enveredando por ecos não estampados no blog: rurais. Há muitos lavandários mais entre uma cidade e outra... avante nesta rica trilha!
Abraço!
Donizete,
ResponderExcluirQue bom vê-lo por aqui... obrigada pela visita. Tenho um grande afeto pelo Lavandário e me sinto meio parte daquilo... As pessoas costumam esquecer as histórias das coisas, por isso resolvi contar...Você precisa conhecer, tenho certeza de que vai amar... grande abraço e apareça sempre por aqui.
Anita