domingo, 1 de abril de 2018

Ecos Musicais | O Mestre-Sala dos Mares


A peça de bronze e dois metros de altura, é do artista plástico Walter de Brito. 
João Cândido segura um leme em uma das mãos e aponta o mar com a outra.  
Imagem: www.obomdorio.blogspot.com.

 A Arte sempre foi boa companheira, boa professora e uma boa forma de traduzir a realidade. As artes, as letras e as músicas ajudam a entender e a contar um pouco da nossa história, por vezes, tão esquecida e ofuscada pelas imagens midiáticas e fake-news dos nossos tempos.  São excelentes formas de discutir a história, mantendo-a viva. 

A música O Mestre-Sala dos Mares, imortalizada na voz de Eliz Regina, foi composta nos anos 1970 por Aldir Blanc e João Bosco e falava da Revolta da Chibata, ocorrida no Rio de Janeiro, em 1910. O samba exaltava João Cândido Felisberto (1880-1969), o marinheiro negro, filho de escrava, que liderou uma revolta  contra seus oficiais para impedir o uso da chibata, os castigos físicos e as péssimas condições de trabalho. Um grupo de marinheiros revoltados e cansados das humilhações tomou quatro navios e ameaçou bombardear o Rio de Janeiro se os castigos não parassem. A repressão veio forte e os revoltosos foram presos ou mortos. 

O assunto tornou-se tabu e, só mais tarde, o nome do almirante negro seria sinônimo de "luta política" por mais direitos. O samba é da década de 1970 e só em 2008 é que foi concedida anistia aos revoltosos. Hoje, João Cândido tem estátua na Praça XV de Novembro, no Rio de Janeiro, como exemplo de luta pela justiça na busca por direitos iguais (ver aqui).
Pinceladas sutis do ocorrido foram mostradas em recente novela da televisão brasileira, com certo “cunho histórico”.

No vídeo abaixo, Elis Regina canta o samba na inauguração do Teatro Bandeirantes, em 1974.
Mestre-sala dos mares
Por João Bosco e Aldir Blanc
Há muito tempo nas águas da Guanabara, o dragão no mar reapareceu
Na figura de um bravo feiticeiro a quem a história não esqueceu
Conhecido como Navegante Negro, tinha a dignidade de um mestre-sala
E ao acenar pelo mar na alegria das regatas foi saudado no porto,
Pelas mocinhas francesas, jovens polacas e por batalhões de mulatas...

Rubras cascatas jorravam das costas dos santos entre cantos e chibatas
Inundando o coração do pessoal do porão que, a exemplo do feiticeiro, gritava então
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glórias a todas as lutas inglórias
Que, através da nossa história, não esquecemos jamais
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas, faz muito tempo...
Salve o navegante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais
Mas, faz muito tempo...

No vídeo, Elis Regina canta o samba na inauguração do Teatro Bandeirantes, em 1974, em São Paulo. 
Vídeo publicado por Jordão Qualquer em 26 nov. 2008 

Letra original, antes da censura pelo regime militar de 1964-1985

Há muito tempo nas águas da Guanabara, o dragão do mar reapareceu
Na figura de um bravo marinheiro a quem a história não esqueceu
Conhecido como o almirante negro tinha a dignidade de um mestre sala
E ao navegar pelo mar, com seu bloco de fragatas, foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas, jovens polacas e por batalhões de mulatas...
Rubras cascatas jorravam das costas dos negros pelas pontas das chibatas
Inundando o coração de toda tripulação que a exemplo do marinheiro gritava não!
Glória aos piratas, às mulatas, às sereias
 Glória à farofa, à cachaça, às baleias
Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais
Salve o almirante negro que tem por monumento as pedras pisadas do cais...
Mas faz muito tempo...

Referências:
http://www.projetomemoria.art.br/JoaoCandido/saibamais3.html
https://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/revolta-da-chibata---100-anos-marinheiros-exigem-tratamento-justo.htm

5 comentários:

  1. Parabéns professora! Um grande abraço! Luciano

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  2. O samba é maravilhoso, não? Também pudera... é obra do grande Aldir Blanc... Abraços e obrigada pela visita. Volte sempre...
    Anita

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  3. A nossa história e brilhantemente interpretada pela Elis nesta música íncrível de João e Aldir. Que ótimo Anita nos lembrar destes grandes nomes.

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  4. Que maravilha o texto, a composição, o vídeo. Aula completa sobre a nossa historia.

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    1. Que bom que gostou... eu sou suspeita, amo a nossa música e as nossas histórias, sobretudo quando contadas com o coração... Obrigada por estar aqui. Seja bem-vindo. abraços

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