De modo geral, não gosto de
generalizações, as pessoas não são iguais, nem podem ou devem usar ou fazer as mesmas coisas. Por isso, não
gosto de modismos, tendências, tampouco de me sentir um número.A meu ver, o mundo generaliza em demasia e o resultado está
muito longe de ser um dado da realidade. Quem disse que aquilo que está em alta é o ideal, o mais correto, o melhor para mim? Ou que aquela cor que querem me vender
é a que me cai bem? Ou que aquele material que todos usam
é do que eu preciso?
A propósito, um antigo comercial de tintas, de início dos anos 70, mostrava bem isso com a pergunta: "O que seria do verde, se todos gostassem do amarelo?" Quando compro algo (aliás, hábito cada vez mais raro), se existe algo que me incomoda é o vendedor me mostrar um produto e tentar me convencer de que devo levá-lo porque “está em alta”, “todo mundo usa” ou, pior ainda, “apareceu nas novelas”. Pronto! Desisto no ato.
Afinal, o que é moda? Sem desmerecer o trabalho de tantos envolvidos com o tema, sobretudo quando se refere a vestuário, moda me parece uma forma de tirania, porque é quase impossível achar uma peça de roupa que não atenda àqueles padrões “da moda”. É desanimador, porque essa indústria prefere vestir jovens magros e "sarados" a pessoas mais velhas e não tão magras. Além disso, é perigoso, porque nem todos têm autoestima e bom senso para continuar com seu estilo, apesar das tendências. Para tentar se encaixar, muitos acabam usando o que não lhes cai bem e outros se desestruturam, fazendo o possível e o impossível para se encaixar naqueles padrões. Exemplos disso não faltam.
Um outro exemplo: materiais de construção. Não me acostumo a ver vidro substituindo nossos velhos muros de blocos de concreto, tijolos, elementos vazados ou simples grades. Culpa da “tal tendência” e do modismo! De repente, só se usa vidro como muro, numa monotonia sem fim... Além disso, quem sofre são os que limpam os tais “muros” transparentes e os passarinhos, que se arrebentam contra os ditos cujos.
Quer outro? Objetos, em geral. Outro dia fui comprar um presente. Encantei-me com um jogo de tigelinhas para sopa (por sinal, ninguém mais chama de tigelinha, hoje usa-se o termo em inglês, bowl), mas caso alguém se interesse, o nome desse utensílio de cozinha é tigela, TI-GE-LA, ou terrina, cumbuca, vasilha, pote. Há de vários tipos: grandes,
pequenas, de barro, de cerâmica, de louça. Mas, voltando... quando
estava quase me decidindo por certo conjunto, a vendedora me
diz que aquele jogo era tendência porque tinha aparecido na novela das 18h, ou das 19h, das 20 horas, em uma delas. Desisti na hora. Não compro algo porque está na
moda, quero algo prático, simples e bonito que me agrade (e também ao presenteado).
Vestuário,calçados, objetos em geral, móveis, materiais de construção, festas, maquiagem
e até corte de cabelo. Para mim, tudo deve atender a critérios objetivos de respeito a si mesmo e ao outro, conforto e simplicidade. Ademais, desde sempre, correntes filosóficas propõem o consumo mínimo, o que funciona também em arquitetura desde a célebre frase do arquiteto alemão Mies van der Rohe, 'Menos é mais'.
Há não muito tempo, ouvi uma frase genial da escritora Fernanda Young (1970-2019). Ela dizia que “...a elaboração do pensamento crítico e o raciocínio são tão necessários ao ser humano como cesta básica”
(entrevista no programa Sempre um papo). Achei ótimo. De vez em quando, é bom saber que não estou só no
universo e que há vida inteligente fora das redes sociais, das novelas, da TV, da moda e dos shoppings
centers, porque parece que muitos não pensam mais por si mesmos, apenas engolem
o que lhes é passado, no mais das vezes subliminarmente. Não temos de seguir nenhuma tendência. Não generalizemos, caso contrário, viraremos clones uns dos outros. Viraremos?!?
Para se precaver contra a mesmice que assola o planeta, é bom que, desde cedo, a criança aprenda a se perceber como um indivíduo singular, a se conhecer, não como ser isolado, mas único no meio de um grupo, percebendo seus próprios interesses e gostos. Só a partir do autoconhecimento é que se chega à autoestima e ao equilíbrio. O que vale é o indivíduo estar bem consigo mesmo, consciente de suas escolhas, respeitando sempre a si mesmo e ao outro.