A edição de 2020, realizada nos dias 3 a 9 de outubro, foi a primeira
da qual pude participar, já que o evento foi inteiramente virtual. Com certeza, participarei das próximas edições. Diversidade, riqueza e seriedade foram as marcas do festival: palestras, mesas redondas, discussões e oficinas com convidados da melhor
qualidade: cientistas, psiquiatras, psicólogos, antropólogos, ambientalistas, nutricionistas, médicos,
biólogos, advogados, administradores, economistas, sociólogos, lideranças da sociedade civil, professores de yoga e de tai chi chuan, em atividades que contaram com o valioso trabalho dos mediadores e dos interpretes de Libras, garantindo
imediata inclusão na prática.
Em resumo, a tônica do evento foi apelar para uma urgente mudança de paradigmas se não quisermos sucumbir como sociedade e raça humana. Na noite de abertura, por exemplo, o tema foi O futuro que não tem bordas, que reuniu, nada mais nada menos, do que duas personalidades conhecidas e respeitadas no mundo: Noam Chomsky e Pepe Mujica.
Noam Chomsky (1928) é linguista, historiador, filósofo e pensador, ativista engajado em questões ambientais e na reformulação dos sistemas político e econômico, em especial nos EUA. Ele destacou a prática do capitalismo financeiro de não só fomentar a acumulação de poucos em detrimento de muitos, mas também sua capacidade de desinformar a sociedade, criando consumidores acríticos, autômatos e dependentes. Destacou que as massas são manipuladas pela ausência de educação e informação, salientando que é preciso mudar a mentalidade dos indivíduos para que eles se tornem mais solidários e empáticos. Afirma que a grande chave para essa mudança de paradigma é a educação, o cultivo do pensamento crítico e a formação de cidadãos mais solidários e menos consumistas. Finalizou alertando que seremos destruídos se, nos próximos 10-20 anos, não cuidarmos dos recursos do planeta para criar uma sociedade mais justa e cooperativa, controlada pelo interesse da maioria das pessoas.
Por outro lado, Pepe
Mujica (José Alberto Mujica Cordano), (1935), agricultor, ex-presidente
uruguaio entre 2010-2015 e ex-senador que, há pouco abdicou dessa função, criticou o tempo gasto pelas
sociedades modernas para acumular e consumir cada vez mais, o que rouba das
pessoas o tempo dedicado à liberdade e aos afetos. Deu exemplos práticos dessa
simplicidade quando, na presidência, rejeitou os benefícios do cargo e preferiu
viver com simplicidade, doando 90% dos seus ganhos. Mujica salientou ainda que o capitalismo criou uma massa acrítica de
consumidores/compradores compulsivos, mas não de cidadãos, reforçando que
aprender a viver com sobriedade e simplicidade, sem aderir à loucura
capitalista, é um ato quase revolucionário. Frisou que somos a sociedade do
desperdício, com parâmetros de obsolescência programada para que os objetos tenham curta duração e tenham que ser repostos o tempo todo. Finalizou lembrando que vê um fio de esperança na prática da simplicidade e
na geração futura...
“Acho que a política da cooperação, da solidariedade, da sobriedade, do menor consumo, da simplicidade e do cuidado com o meio ambiente é o que garante que apliquemos nossa liberdade no que queremos, não naquilo que o capitalismo nos impõe. ”
“Esta é uma linda causa para os jovens, uma vez que a gente vive porque nasce; mas depois de nascer, pode-se dar uma causa ao milagre de ter nascido e lutar pela sobrevivência da espécie.... É uma forma de agradecer ao milagre da vida. ”
(Pepe Mujica, no Festival de Vida Sustentável do LIVMUNDI, 03 out.2020)
Referências
(1)https://www.livmundi.com/o-que-e/
https://super.abril.com.br/cultura/dentro-da-cabeca-de-noam-chomsky/
https://www.hypeness.com.br/2015/03/o-legado-de-pepe-mujica/