Se navegar é preciso, escrever também o é. É uma forma de se colocar no mundo, de se expressar, de deixar registrados fatos, pensamentos, ideias, ações. Sempre escrevi e, pelo jeito, devo ter sido escriba em outras vidas, porque escrevo desde sempre e o tempo todo – em aulas, em seminários, em palestras, em filmes... ao ler, ao estudar, ao pensar, ao dar aula... para me acalmar, para me entender, para sintetizar, para gravar conhecimentos. Escrevo. A princípio, escrevia só para mim, depois... Depois, o Blog Anita Plural surgiu para canalizar meus escritos.
E ao longo de tantos anos escrevendo, traduzindo (outra forma de escrita) e dando aulas (de inglês e de yoga), confesso que percebi esse dom em alguns alunos. Uma redação aqui, um poema ali, um conto ou uma pesquisa acolá. Mas só. Meus ex-alunos alçaram outros voos e, hoje, trabalham como professores universitários, advogados, promotores, veterinários, médicos, arquitetos, administradores, gestores, veterinários, comissários de bordo, terapeutas, mas não me lembro de nenhum que tivesse seguido pelos caminhos da escrita, seja de poemas ou de prosa.
Nenhum? Engano meu. Há pouco tempo, ganhei dois livros de dois alunos de yoga. Ela, uma gentilíssima bisavó, avó e mãe, curiosa, ativa, amiga do conhecimento e da filosofia, aluna assídua há quase 20 anos. Ele, 15 anos mais jovem, advogado, tranquilo, bonachão e aluno mais recente de yoga, uns 8 anos, talvez. Ambos aplicados, atentos e interessados na teoria e na prática dos ensinamentos da filosofia do yoga.
Ela, Noêmia Leite Alvarenga, escreveu seu primeiro livro Minhas Lembranças de Família como se estivesse contando a história para filhos, netos e bisnetos, ao redor de uma grande mesa ou de uma fogueira. A arte de contar histórias vem de muito longe... Com simplicidade, a autora vai puxando os fios da memória e narrando as histórias de sua família do sul de Minas Gerais, desde seus ancestrais. Resgata a formação de seu tronco familiar – as famílias Prado, Leite e Alvarenga, de Paraguaçu, fala dos acontecimentos políticos e históricos, das mudanças de cidade para estudar, das gerações sucessivas, das mudanças tecnológicas vividas, do núcleo familiar atual e do elemento que cimentou essa trajetória – o afeto. É uma leitura leve, gostosa, despretensiosa, curiosa e com direito a árvore genealógica.
Ele, Geraldo Rezende Neto, assina Geraldo das Geraes e é funcionário de carreira da Fazenda Estadual de Minas. Ex-redator de um jornal de Paraguaçu, até hoje corrige os exercícios de inglês como um revisor preciso, utilizando as conhecidas marcas de revisão. Leitor voraz de literatura nacional e estrangeira de qualidade, Geraldo já teve seus contos premiados e, por insistência de um amigo professor de Literatura, resolveu juntar alguns escritos no volume Com a mulata Efigênia. De leitura alegre, divertida, criativa, cheia de chistes e inusitada, os contos remetem ao famoso autor mineiro Murilo Rubião, o chamado Kafka brasileiro.
Ambas
são leituras agradáveis e divertidas. Mais do que isso, dão a seus autores a oportunidade
de criar, viajar nas letras e na memória, escrever, registrar e se expressar. Eu, a eterna
professora-escriba, adorei, parabenizo esses queridos alunos, peço bis e
incentivo os demais a traçarem suas linhas. Escrever é preciso!