O autor moçambicano Mia Couto (1955) me encanta com sua verve, me surpreende com sua calma, me representa com seus ideais. Como com o poema “Espelho”, do
livro Idades, Cidades, Divindades. Fala da estranha sensação que, um dia, todos teremos: a de
não nos reconhecermos na imagem refletida.
A imagem, afinal, é incapaz de revelar a multiplicidade, os muitos eus que somos ou os inúmeros "quase-somos" - o quase-ser como ele diz aqui e, sobretudo, porque em geral só assumimos o que queremos ver, nunca o que o espelho que mais interessa, o da consciência, nos aponta e mostra.
Espelho
Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.
Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.
A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.
Referências:
https://www.youtube.com/watch?v=LhB5o0wyMII
Muito bem lembrado … neste tempo de espera do quase voto …
ResponderExcluirConheci Mia Couto num encontro das Letras em Ouro Preto. Muito simpático e simples. Foi uma tarde memorável! Conversou com a plateia, sentou-se entre nós, fanedo- me refletir o que realmente importa: a consciência.
ResponderExcluirUm privilégio, né? Ele é encantador, simples, humilde, como todos deveriam ser... Obrigada, Emanuela pelo comentário. Saudades
ExcluirEle me parece encantador.Suas escritas são esplêndidas!
ResponderExcluir❤️❤️❤️
ResponderExcluirComo retratista da alma humana , Mia Couto usa o espelho dos versos também para mostrar a discronia da velhice. Sentimo-nos jovens, mas o espelho nos esfrega aos olhos a realidade --essa mesma que até,socialmente, , negamos .
ResponderExcluirParabéns, Anita, pela escrita e escolha sempre brilhante dos temas que você traz a nós, seus leitores!