sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Ecos Culturais | Sobre o Dia do Professor

Mural em Florianópolis
Volta e meia vemos algumas profissões subirem e descerem no termômetro das mais "descoladas" e rentáveis. Muitas vezes, não entendo tal movimentação. A meu ver, de todas as profissões, uma das mais importantes (ou a mais importante) é a de professor. Nenhum de nós seria o que é hoje se não tivéssemos tido bons professores que nos estimulassem e ensinassem a olhar, pensar, buscar. Muitos viraram modelos e exemplos. Antiquíssima, esta deveria ser uma profissão muito, mas muito bem paga e professores deveriam ser homenageados todos os dias com gratidão, respeito e salário digno.   
 
A propósito, o Dia do Professor foi um projeto (Lei Estadual nº 145, de 12 outubro de 1948) da professora e deputada estadual de Santa Catarina, Antonieta de Barros (1901-1952). Pioneira, ela foi a primeira deputada estadual negra daquele estado e a primeira do país. Na primeira eleição em que as mulheres puderam votar e ser votadas, em 1934, foi eleita suplente e, desde sempre, defendeu o papel libertador da educação para todos. Eleita suplente novamente, em 1945, assumiu o cargo de deputada estadual, em 1947, no qual ficou até 1951. No país, o Dia do Professor só foi oficializado quase 20 anos depois, em outubro de 1963, pelo então presidente João Goulart. 

Educar é ensinar os outros a viver; é iluminar caminhos alheios; é amparar debilitados, transformando-os em fortes; é mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avançar, sem muletas e sem tropeços.... 

Trecho do discurso da Deputada Antonieta de Barros, na promulgação da Lei 145 que instituiu o Dia do Professor, 1948.

Filha de escrava liberta e órfã de pai, Antonieta teve infância pobre e difícil. Foi alfabetizada na pensão da mãe pelos estudantes que lá moravam. Tomou gosto pelos estudos e enveredou pelos caminhos do magistério, jornalismo e política, defendendo e valorizando a educação para todos, a emancipação feminina e a cultura negra. Aos 17 anos, já professora, montou um curso de alfabetização de  adultos e pelo que defendia e por criticar os desmandos políticos, era atacada pelas elites e oligarquias do estado, da mídia e da política. Publicou artigos e crônicas em jornais locais e, em 1937, escreveu o livro Farrapos de Ideias, sob o pseudônimo Maria da Ilha.

Hoje, sua história faz parte do Guia de Floripa e ela empresta seu nome a escolas, auditórios, ruas, viadutos, obras de arte, concursos, medalhas de mérito e premiações nas áreas da educação, defesa do direito das mulheres e de jovens comunicadores negros do país. Um grande mural com sua imagem (32m x 9m) foi inaugurado em Florianópolis, em 2019, num trabalho desenvolvido  pelos artistas Thiago Valdi, Tuane Ferreira e Gugie (Monique Cavalcanti). 

Que não só num dia do ano, mas todos os dias, possamos festejar e celebrar histórias como a de Antonieta de Barros, na defesa da educação ampla e de qualidade, na busca pela justiça social e pelo respeito aos direitos de todos, em especial das mulheres e dos negros. A esses batalhadores é que devemos nossos saberes e o avanço da civilização! 

Referências

https://memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/68-Antonieta_de_Barros

https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2021/10/4955458-quem-e-antonieta-de-barros-primeira-deputada-negra-que-criou-o-dia-do-professor.html

https://cotidiano.sites.ufsc.br/antonieta-de-barros-o-semblante-do-ativismo

https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-10-15/antonieta-de-barros-a-parlamentar-negra-pioneira-que-criou-o-dia-do-professor.html 

10 comentários:

  1. Que interessante! Obrigada por escrever sobre ela e me instruir sobre essa heroina que os livros de história não nos ensinaram na escola.

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    1. Exatamente, obrigada por comentar.....abraços e deixe seu nome da próxima vez.

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  2. Parabéns Anitinha! O professor tem um papel importantíssimo na vida de todos nós. Deviam homenageia -los todos os dias mesmo.Parabens a Antonieta de Barros!

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  3. É impossível não se emocionar com tal trajetória.
    Surpreendente história! Local; etnia; época; classe social; circunstâncias... tudo contra. Mas lá estavam a coragem da mãe (ex-escrava) e os voluntários, estudantes que lhe alçaram a condição para sempre.
    Deve-se levar em conta que seu papel como jornalista certamente ajudou muito em suas conquistas como escritora e política.
    Tem um mural, bem merecido. E ainda podemos verificar que Antonieta de Barros não foi covardemente abatida a tiros, como um animal de caça.
    Esse texto seu, Anita, é um dos muitos que deveria alcançar mais fronteiras. Vou encaminhar.

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    1. Obrigada, querida. E é o tipo de coisa que não é divulgada, né? Pode mandar ver... Bjs

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  4. Imagine o que ela passou, nas chuvas de pedradas!..

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    1. E não desistiu! Valquíria, obrigada, por compartilhar comigo.😘

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  5. Parabéns pelo texto! Não conhecia a história. Vou repassar para colegas professoras. A profissão já é difícil até hoje. Imagino o que ela teve que enfrentar...

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    1. Exato..... Quanto mais melhor, quem sabe um dia as pessoas acordam... Abraços

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  6. Caminho desvalorizado pelos que detêm o poder, mas pelos clientes ainda me sinto rainha pelos alunos, são eles que me fazem acreditar que "tudo vale a pena se a alma não é pequena!"-parafraseando Fernando Pessoa.

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