quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

Ecos Urbanos | Parquinhos: risco ou estímulo?

Todos nós sabemos da importância dos espaços e parquinhos infantis para nossas crianças. A história nos mostra que nem sempre foi assim, mas o fato é que sempre foram necessários e o são até hoje, ainda mais em tempos de crianças coladas às redes sociais e aos celulares. Pesquisas recentes indicaram que que muitas dessas crianças acabam tendo uma perda na sua capacidade de comunicação oral e escrita, de criatividade, de conhecimento de seus limites, de gestão de riscos e, sobretudo, de autoestima, autoconfiança, autonomia e resiliência. 

Parquinho na Alemanha. Fonte Wiki
A natureza nos propicia terra, pedra, vento, areia, barro, água, madeira, plantas, cascas de árvore, folhas, grama, mil texturas diferentes que permitem à criança identificar  sentir, perceber nuances, cores, odores e sabores... As cidades nos trazem asfalto, cimento, concreto, alvenaria, pedra e também, em menor quantidade, grama, terra, madeira.... O ideal, portanto, é juntar os dois universos e os parquinhos infantis são uma parte essencial desse elo de ligação e, ainda que muitos deles não estejam com a manutenção em dia, é importante que os pais aproveitem e reivindiquem esses espaços, seguros, mas também desafiadores. Nada substitui a natureza no desenvolvimento de habilidades motoras das nossas crianças.

A amiga e tradutora Joana Arari sugeriu um post sobre esse tema, a partir de um artigo que leu no The Guardian. O artigo destacava a ansiedade gerada nos pais, não nas crianças, por parques infantis nos arredores de Berlim, Alemanha, que  têm equipamentos e brinquedos muito altos, chegando a até dez metros do chão. O artigo destaca que, a princípio, esse tipo de equipamento estimula mais as crianças do que a chamada “santíssima trindade” dos parquinhos: balanço, escorregador e gangorra, aparentemente em declínio.

Os tais parquinhos “perigosos” juntaram equipamentos com corda, arame, plataformas, escadas, redes e tubos. Destacado na reportagem, o Triitopia foi construído em 2018 e segue uma tendência, mais ou menos recente (uma década), defendida por vários profissionais, pedagogos e educadores, não só na Alemanha: a de que esses espaços ajudam a preparar as crianças para o risco e, ao mesmo tempo, as capacitam para avaliarem, enfrentá-los e superá-los. Argumentam que é preciso deixar os filhos  ter contato com essas possibilidades se quisermos que  estejam preparados para a vida, a começar pelo sagrado ato do brincar. É brincando e se desafiando que as crianças poderão desenvolver seu lado motor e cognitivo; se a criança for insegura, ela pode demorar mais tempo para se arriscar, mas não vai desistir, apenas vai ficar mais atenta e cuidadosa em suas movimentações. Nessas tentativas, a criança poderá falhar nove vezes até subir em um brinquedo, mas na décima, ela vai conseguir e isso fará toda a diferença na sua autoestima, autonomia e resiliência. 

Em outras palavras, dizem os estudiosos que desafiar-se a entrar em contato com riscos, calculados e bem projetados, aumenta a resiliência, a coragem, a autonomia e a autoestima dos pequenos. Dizem ainda que uma perna quebrada, um joelho ralado ou um braço machucado fazem parte dessas investidas infantis para domar os tais “locais mais perigosos”. Será?

Quando minhas crianças eram pequenas, eles brincavam em parquinhos públicos e eu sempre estava por perto, com um olho no livro (que nunca conseguia ler) e outro nas crianças. Como em geral, mães são superprotetoras, o pulo do gato vai acontecer quando essa responsabilidade de levar os filhos para brincar for entregue e assumido aos papais.

Imagem: Archdaily
Os artigos listados nas referências também trazem a linha histórica dos parquinhos (aqui). Estranho pensar que “naqueles” equipamentos, o risco era menor. Aliás, muitos estudiosos dizem, inclusive, que a distância entre os parquinhos de aventura e os tradicionais estão desaparecendo cada vez mais. O importante, em qualquer caso, é que as empresas que projetam e constroem esses equipamentos se responsabilizem pela sua qualidade e segurança, e os gestores públicos, pela manutenção dos equipamentos e dos parquinhos. 

Enfim, lembrando o que o pediatra carioca Daniel Becker (ferrenho defensor do controle constante, proibição ou uso moderado das telas para crianças e adolescentes, a depender da idade) sempre diz, a natureza tem todos os remédios... Então, a ver o que o futuro reserva para nós, pais, avós e para nossos pequenos descendentes.

Referências

 

 https://www.theguardian.com/world/2021/oct/24/why-germany-is-building-risk-into-its-playgrounds?CMP=Share_AndroidApp_Other

https://www.dw.com/pt-br/por-que-a-alemanha-est%C3%A1-elevando-o-perigo-de-seus-parquinhos/video-70642595 

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2024/09/07/os-playgrounds-alemaes-sao-construidos-para-serem-perigosos.ghtml

https://porvir.org/na-alemanha-parquinhos-apresentam-o-risco-as-criancas/

https://www.archdaily.com.br/br/990386/conquistando-espacos-publicos-a-historia-dos-parquinhos-e-playgrounds

https://www.instagram.com/reel/DBtzfz2izqp/?igsh=MWh6c2xnM2plZDRleQ%3D%3D

https://www.terra.com.br/noticias/educacao/por-que-os-playgrounds-na-alemanha-sao-feitos-de-madeira-e-aco,8688cffbe60158add153f636d9eb45efq9rglep6.html

https://www.selanca.com.br/melhores-parques-em-berlim/

https://www.instagram.com/reel/DEC7HeKJPyE/?igsh=ODdvOTF6N2QzODkx  

https://www.fronteiras.com/

https://cataventura.com.br/competencias-de-risco-entenda-o-que-sao-e-quais-os-beneficios-para-as-criancas/

https://cataventura.com.br/competencias-de-risco-entenda-o-que-sao-e-quais-os-beneficios-para-as-criancas/

https://www.fronteiras.com/leia/exibir/jonathan-haidt-ao-superprotegermos-nossos-filhos-estamos-cultivando-transtornos-mentais-entre-adolescentes

 

12 comentários:

  1. Êeee! Amo este assunto! Sou super fã dos parquinhos perigosos, mas é importantíssimo a supervisão bem de perto, especialmente no início, quando as crianças começam a frequentá-los até que vc se sinta seguro com as habilidades deles. Mas encontro muitas mães que não gostam. Aqui onde moro é super difícil encontrar barras paralelas pq são consideradas perigosas, na Austrália são super comuns. As crianças de lá se machucam bem menos.

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    1. A resposta acima é da tradutora Joana Arari que tem duas crianças e mora na Escócia.....expert em parquinhos, obrigada, querida. Bjs

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  2. Sempre gostei de levar as minhas crianças no parquinho e concordo plenamente na existência e preservação dos brinquedos, obrigada pela reportagem🌸

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    1. Juliana, querida, obrigada por comentar.... A gente precisa ocupar os espaços públicos, certo? Porque só assim eles se tornarão melhores e mais seguros. Beijos

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  3. E' un vero peccato che di parco giochi le citta' e i piccoli paesi ne hanno pochi,perche' li considero, essendo accessibili a tutti grandi e piccini, come un asilo a cielo aperto o un ritrovo dove si puo' socializzare,dialogare ecc.ecc.Un caro saluto

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  4. É verdade que muitas vezes são as mães e os pais que ficam morrendo de medo que suas crianças se machuquem. Em geral, elas são destemidas, ou pelo menos até que a sociedade (outras crianças, os pais, família, comunidade, etc.) comece a reprimi-las. Os parquinhos são uma delícia e qualquer ser humano, em qualquer idade, deveria poder aproveitá-los. O risco nos ajuda a crescer e a envelhecer, né? Digo isso daqui dos meus 60 e tantos anos! =)

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  5. Que reivindiquemos melhores espaços públicos, melhores calçadas, melhores e mais seguros pontos de encontro nas cidades. Abração.

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  6. Muito interessante seu texto.Eu sempre levei os filhos nos parquinhos de Varginha.
    Hoje minha filha leva meu neto aqui.Bel

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  7. Muito importante para a criança brincar! Morro de pena, quando alguém conta que teve de trabalhar e não pôde brincar... os parquinhos são, para as crianças, locais que as abrigam. Para elas , encontrar um parquinho é uma recepção natural em suas atividades lúdicas.

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  8. De: Maria Inês
    Para: Anita
    Nos parquinhos também nós podemos ampliar as amizades conhecendo os pais das outras crianças.
    Espaços essenciais da vida urbana.

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    1. Oi, querida, e nós duas sabemos muito bem disso, né? E nossas crianças... Beijos

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