quinta-feira, 24 de abril de 2025

Ecos Humanos | A difícil arte de ficar em silêncio

É um tema recorrente e já abordado aqui, no blog Anita Plural, outras vezes: a  imensa dificuldade que as pessoas têm de ficarem em silêncio. Por quê? Qualquer barulho serve para romper o silêncio - a TV, o rádio, o celular, música ambiente, a tal 'Alexa'.... Não importa. Basta qualquer coisa que faça algum barulho. Várias situações me vieram à mente e sei de pessoas que, mal chegam em casa, já ligam o som ou a TV, mas, logo, se concentram em outras coisas. 
Certa vez, perguntei a uma delas: — Por que ligar o rádio, o som, se você não está prestando atenção?  
A resposta não foi o que eu esperava, ou seja, "para ouvir música, para saber das notícias, saber da previsão do tempo"... Nada disso. Foi simplesmente: — Para fazer barulho; assim, eu me esqueço de que estou sozinha.

Por que será? Essa atitude é mais comum do que se pensa. Mesmo em ocasiões especiais, de pesar ou celebração, quando autoridades, por exemplo, pedem um minuto de silêncio aos presentes, é fácil perceber que são mantidos menos que 60 segundos de silêncio. Sessenta segundos! Definitivamente, a maioria não consegue ficar em silêncio. Por quê? 

Talvez porque o silêncio amplifique tudo, exponha verdades, traga à tona sentimentos e lembranças que queremos esquecer ou abafar; e o barulho faz exatamente isso – inibe, abafa e afasta os pensamentos, dores, tristezas, erros, arrependimentos mais profundos. É uma pena que nem todo mundo consiga ficar bem e em paz quando está sozinho e em silêncio...

Contudo, é no silêncio que acalmamos a mente e o coração, que descansamos a alma, que temos insights que nos ajudam a resolver situações difíceis. A meditação é uma ótima forma de começar a praticar o silêncio. Está difícil sentar e meditar? Comece prestando atenção na sua atividade, seja ela qual for. Fique inteiramente absorvido no que estiver fazendo e desenvolva o que o monge tibetano Thartang Tulku, em seu livro Gestos de Equilíbrio (Pensamento), chama de "percepção meditativa". 
 

No entanto, se quiser tentar a meditação tradicional, comece por prestar atenção  na respiração - e só na respiração - no ar que entra e sai das narinas, na temperatura do ar, no percurso e no som suave do inspirar e do expirar pelas narinas. Um pouco mais de prática a cada dia e, aos poucos, você percebe e entra nesse rico e pleno silêncio interior. Isso mesmo, o silêncio não é vazio, é pleno e rico. Tente, fique atento, respire, silencie e aproveite!

quinta-feira, 17 de abril de 2025

Ecos Urbanos | Consciência cada vez menor

Quando algum órgão público vinculado à questão urbana fala sobre cidades, um dos temas mais abordados refere-se à urgência de conscientizar a população como um todo, sobretudo no que se refere a temas como saneamento básico, habitação, mobilidade urbana e transporte,   equipamentos e serviços de saúde e educação, patrimônio histórico, coleta de lixo, meio ambiente, áreas verdes etc. Fala-se o tempo todo em ações do poder público para criar mecanismos e promover educação em geral: patrimonial, ambiental, urbanística etc.

Sim, educação. São atitudes válidas e corretas, com certeza, mas sem educação essencial básica, vinda de casa e da escola, nada vai mudar. Se sou pessimista? Normalmente, não, mas a cada dia que passa, sinto que estamos afundando cada vez mais como sociedade, como humanidade. Ou então, o que é bom está atuando tão discretamente e é tão pouco noticiado que só o malfeito aparece.

É comum vermos ações de destruição do nosso patrimônio; eventos climáticos extremos acontecem dia sim, dia também; a falta de educação e respeito (em geral) no trânsito, às normas urbanas de convivência em espaços públicos, estacionamentos, na implantação de loteamentos e de projetos que formam a cidade, atos de vandalismo, equipamentos e serviços inadequados, déficit habitacional cada vez maior, apesar dos programas existentes e mais uma infinidade de situações. 

O poder público tem o dever de fornecer  condições dignas de moradia, serviços e equipamentos de qualidade à população, sem dúvida. É urgente lembrar todos os dias que a gestão de uma cidade, de um estado e de um país fica nas mãos de políticos, mas a consciência de "para quem governam e para que foram eleitos" parece estar sendo ofuscada por interesses individuais e de certos grupos. Esse é um ponto crucial: devolver essa consciência aos políticos, ao menos àqueles que, um dia, já a tiveram. Fazer o melhor à sociedade com esse trabalho é consequência dessa consciência. Aliás, o pagamento a vereadores e deputados deveria ser repensado, não? Mas isso é tema para outro texto.

Como toda moeda tem dois lados, o outro lado é a sociedade. Regras e normas, legislação urbanística, leis de loteamento e de uso do solo, código de obras e de posturas e outras mais. Para quê? Quero crer que os técnicos, em geral, até tentam, eu mesma já briguei muito por essa causa, mas... Se olharmos nossas cidades, é fácil perceber que não estou exagerando. Não vou ficar me repetindo, mas quase não vejo luz no fim do túnel. Quando observamos cidades europeias em documentários, filmes ou ao vivo, com suas edificações uniformes, de altura compatível com a escala humana, paisagem urbana agradável e harmônica, ruas acompanhando as curvas de nível e algum tipo de verde em vasos, floreiras ou arbustos, espaços urbanos agradáveis e seguros, como largos ou praças... dá uma inveja danada!

Vá lá! Você pode até argumentar que aquelas cidades são muito mais velhas que o nosso Brasil (que só tem 500 anos), que também passaram por fases de autodestruição, como de fato passaram, etc. etc. etc... Mas mesmo assim, fico muito triste com a falta de consciência das pessoas em geral, políticos e sociedade (não excluo ninguém), sobre a necessidade de cuidar do que é de todos em termos coletivos: das nossas cidades, dos parques, espaços públicos e áreas verdes, equipamentos urbanos, patrimônio, ruas e largos, enfim... Onde vai dar tudo isso? Não me pergunte, minhas hipóteses não são as mais promissoras.