Quando algum órgão público vinculado à questão urbana fala sobre cidades, um dos temas mais abordados refere-se à urgência de conscientizar a população como um todo, sobretudo no que se refere a temas como saneamento básico, habitação, mobilidade urbana e transporte, equipamentos e serviços de saúde e educação, patrimônio
histórico, coleta de lixo, meio ambiente, áreas verdes etc. Fala-se o tempo todo em ações
do poder público para criar mecanismos e promover educação em geral: patrimonial, ambiental, urbanística etc.
Sim, educação. São
atitudes válidas e corretas, com certeza, mas sem
educação essencial básica, vinda de casa e da escola, nada vai mudar. Se sou pessimista? Normalmente, não, mas a
cada dia que passa, sinto que estamos afundando cada vez mais como sociedade,
como humanidade. Ou então, o que é bom está atuando tão discretamente e é tão pouco noticiado que
só o malfeito aparece.
É comum vermos ações de destruição do
nosso patrimônio; eventos climáticos extremos acontecem dia sim,
dia também; a falta de educação e respeito (em geral) no trânsito, às normas urbanas de
convivência em espaços públicos, estacionamentos, na implantação de loteamentos e de projetos
que formam a cidade, atos de vandalismo, equipamentos e serviços inadequados, déficit habitacional cada vez maior, apesar dos programas existentes e mais uma infinidade de situações.
O poder público tem o dever de fornecer
condições dignas de moradia, serviços e equipamentos de qualidade à população, sem dúvida.
É urgente lembrar todos os dias que a gestão de uma cidade, de um estado e de um país fica nas
mãos de políticos, mas a consciência de "para quem governam e para que
foram eleitos" parece estar sendo ofuscada por interesses individuais e
de certos grupos. Esse é um ponto crucial: devolver essa consciência aos políticos, ao
menos àqueles que, um dia, já a tiveram. Fazer o melhor à sociedade com esse trabalho é consequência dessa consciência. Aliás, o pagamento a vereadores e deputados deveria ser repensado, não? Mas isso é tema para outro texto.
Como toda moeda tem dois lados, o outro lado é a sociedade. Regras e normas,
legislação urbanística, leis de loteamento e de uso do solo, código de obras e de posturas e outras mais. Para quê? Quero crer que os
técnicos, em geral, até tentam, eu mesma já briguei muito por essa causa, mas... Se olharmos nossas cidades, é fácil perceber que não estou
exagerando. Não vou ficar me repetindo, mas quase não vejo luz no fim do
túnel. Quando observamos cidades europeias em documentários, filmes ou ao vivo, com
suas edificações uniformes, de altura compatível com a escala humana, paisagem urbana agradável e harmônica, ruas acompanhando as
curvas de nível e algum tipo de verde em vasos, floreiras ou arbustos, espaços
urbanos agradáveis e seguros, como largos ou praças... dá uma inveja
danada!
Vá lá! Você pode até argumentar que aquelas cidades são muito mais
velhas que o nosso Brasil (que só tem 500 anos), que também passaram por fases
de autodestruição, como de fato passaram, etc. etc. etc... Mas mesmo assim,
fico muito triste com a falta de consciência das pessoas em geral, políticos e
sociedade (não excluo ninguém), sobre a necessidade de cuidar do que é de todos em termos
coletivos: das nossas cidades, dos parques, espaços públicos e áreas verdes, equipamentos urbanos, patrimônio, ruas e largos, enfim... Onde vai dar tudo isso? Não me pergunte, minhas hipóteses não são as mais
promissoras.