sexta-feira, 4 de julho de 2025

Ecos Culturais | Congados e Reinados: patrimônio cultural brasileiro

"Onde estiver um homem aí viverá uma fonte de criação e divulgação folclórica. O folclore estuda a solução popular na vida em sociedade."

- Luís da Câmara Cascudo, Dicionário do Folclore Brasileiro


Em 18 de junho de 2025, na 109ª reunião do Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foram aprovadas, por unanimidade, e registradas no Livro dos Saberes do instituto as manifestações artísticas tradicionais e populares, conhecidas como Reinados, Congados e Congadas, tornando-se oficialmente Patrimônio Cultural do Brasil. O pedido foi feito há quase duas décadas por diversos grupos, comunidades e lideranças de Goiás, Minas Gerais e São Paulo, mas só agora o pedido foi aprovado. 

Essas manifestações englobam um conjunto diversificado de saberes da ancestralidade afro-brasileira, movidos pela devoção e pela fé, e atualizados por meio da devoção a Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Ifigênia, conhecidos pela proteção aos negros. São tradições com mais de 300 anos de história que chegaram ao século 21 com transformações e ressignificações, mas sempre mantendo a identidade fundamental:  a ancestralidade de matriz africana com canto, ritmo e dança. 

Em geral, essas manifestações abrangem festividades que duram vários dias e incluem coroação de reis e rainhas congos (ou do Congo), levantamento de bandeiras, rezas, cortejos e missas. Os grupos mais conhecidos são os chamados massambiques (moçambiques), congos (congados, conguistas, congueiros), catopês (catupés, catopés), marujos, caboclos (caboclinhos, penachos, cabocladas), tamborzeiros, pifeiros, entre outros, além dos reinados (côrtes ou tronos coroados) descritos e registrados por pesquisadores, em diferentes regiões brasileiras, sobretudo em Goiás, Minas e São Paulo

A notícia foi recebida com imensa alegria pelos grupos de Congados e Reinados. As lideranças destacaram que, apesar do preconceito e do racismo ainda presentes na sociedade brasileira, o registro e a proteção darão mais tranquilidade para que essa herança cultural ancestral, há tanto tempo presente na vida desses povos, continue sendo passada, celebrada e preservada pelos descendentes. Afinal, sempre é bom lembrar que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. 

Segundo a conselheira, historiadora, mestra (detentora) e líder na Comunidade Jongo Dito Ribeiro em Campinas (SP), Alessandra Ribeiro Martins, o tombamento finalmente alcançou comunidades que são fortalecidas culturalmente, em seus saberes e fazeres, por sua resistência às violências da escravização e pelo modo de vida ancestral presente nas práticas cotidianas, nos ritos celebrativos e na criação de comunidades afetivas.

Em nota, a atual gestão do Iphan, órgão responsável pela salvaguarda de nosso patrimônio em todas as suas nuances e formas, salienta que vem priorizando a ancestralidade africana e indígena e os patrimônios culturais afro-brasileiros.  A propósito desse tombamento, Leandro Grass, presidente do Iphan, destacou que esse foi um “ato de reparação histórica, de justiça social que resgata a ancestralidade africana e mantêm vivas nossas tradições.” Tião Soares, diretor de Promoção das Culturas Tradicionais e Populares do Ministério da Cultura, reforçou que, como símbolo de resistência e fé, “o reinado se ergue como um farol na penumbra da indiferença, iluminando os caminhos da proteção, valorização e do respeito, e é um convite para dançar com os ancestrais, ouvir suas vozes e vibrar com a força da tradição.”   

Viva a nossa imensa, ampla e diversificada tradição cultural. Um riquíssimo cadinho que vamos preenchendo e misturando ao longo de toda a nossa História.

Referências

https://folclorevertentes.blogspot.com/p/links-importantes.html  

https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/noticias/reinados-e-congados-sao-reconhecidos-como-patrimonio-cultural-do-brasil  

Imagens: https://www.todamateria.com.br/congada/  

https://www2.ufjf.br/noticias/2024/08/12/mostra-reverencia-jongo-congado-e-folia-de-reis/  

9 comentários:

  1. Um trabalho de muito estudo, pesquisa, muitas horas de entrevistas, empenho e fôlego de minha colega do Iphan Corina Moreira, que se dedica ao patrimônio imaterial desde 2006 quando entramos por concurso no Iphan.
    Infelizmente os técnicos que trabalham duro nos bastidores desses bens a serem acautelados não são citados nem mesmo reconhecidos, e pior, recebendo salários irrisórios. Estamos cansados de tanta dedicação e nenhuma recompensa .
    A CULTURA reVOLTOU!

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    1. Sim, Eneida.... é um trabalho longo, de anos, às vezes, profundo, de muita pesquisa, muitas andanças e fôlego.Parabéns sempre aos técnicos do Iphan que fazem um trabalho admirável de preservar o patrimônio de uma sociedade que, ao que parece, não se interessa muito por nossas coisas...Também já trabalhei anos no DPH... naquela época éramos jovens, o departamento era novo e havia tudo por fazer, mas não pense que o resultado era diferente... Era uma luta, mas hoje estamos aqui, ainda tentando preservar... e seguimos assim... Obrigada e um beijo.

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  2. Viva a riqueza da cultura africana que nos forjou. Lembro-me que em Machado tinha uma festa de congado muito forte. Zé Marcelino

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    1. É isso, Zé, você usou o termo perfeito - a cultura que nos FORJOU!!!! Não podemos nos esquecer disso, jamais, sob pena de perdermos a própria identidade... Abração e obrigada

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  3. É nosso e pertence a nossa cultura. O congado nos remove ao passado.Bebel

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    1. Sim, nos remete ao passado, nos traz ao presente e também nos aponta o futuro, já que fez, faz e fará sempre parte da nossa tradição cultural... beijos

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  4. Nossa, Anita! Com esse texto você se superou! Vou compartilhar com minha irmã e meu marido. E viva, mais uma vez Oneyda Alvarenga e as pessoas do Ipham!

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    1. Viva Oneyda, Mário de Andrade e todos os que pesquisam, trabalham e se esfircam para preservar a nossa cultura... Abração, sumida!

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    2. Viva Oneyda, Mário de Andrade e todos os que pesquisam, trabalham e se esfircam para preservar a nossa cultura... Abração, sumida!

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