quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Ecos Urbanos | Futuro verde na China

Tudo na China traz números astronômicos e, há algum tempo, vemos que a China moderna vem se transformando num poço de novas tecnologias e um imenso canteiro de obras, em busca de eficiência e sustentabilidade. As novas e numerosas obras surgem num ritmo alucinante e projetos gigantescos são um atrativo extra para arquitetos do mundo todo. Um deles é o brasileiro Fernando Brandão, já com longa carreira internacional e que, desde 2009, já fez mais de trinta viagens àquele país.
  
Em 2015, Brandão recebeu um convite/desafio: projetar uma cidade totalmente sustentável em Shenzhen, no sul da China com o objetivo de transformar o novo núcleo urbano em modelo, como uma das cidades mais avançadas em termos de arquitetura ecológica. Seu projeto, denominado CO2 LOW CITY, foi idealizado tendo emissão zero de carbono e inspiração para futuras áreas urbanas no país. Ainda que não tenha sido executado, a proposta do projeto, em uma área de 45.000 metros quadrados, era usar energia solar, "o que tornaria autossuficiente o futuro complexo que contaria com área residencial, escritórios, hotéis, fábricas farmacêuticas e de eletrônicos."
 

Shenzhen, China. Inovação e sustentabilidade
Sobre suas escolhas, Brandão destaca que sustentabilidade e arquitetura ecológica não devem ser exceções, mas características do que considera boa arquitetura. Em suas palavras, desde o início, “o projeto deve estar diretamente ligado ao melhor uso de materiais, eficiência energética e uso racional da água; e, na China, onde os custos são mais baixos, isso é ainda mais fácil de implementar".  O arquiteto destacou ainda que, nos últimos trinta anos, a China se renovou rapidamente e, apesar dos desafios ainda existentes, eles buscam resolver todos os problemas com eficiência e uso de tecnologia moderna, ecológica e sustentável, buscando um futuro mais verde e eficiente. Não há como negar isso...

Assista aqui a uma entrevista de Brandão para o canal CGTN em Espanhol, sobre sua experiência.

Referências

https://www.youtube.com/watch?v=swbnRD0FoIg

https://revistaforum.com.br/global/chinaemfoco/2025/6/17/fernando-brando-arquiteto-brasileiro-que-props-uma-cidade-sustentavel-na-china-181677.html

https://www.archfb.com/

https://www.brasil247.com/globaltimes/china-transforma-lixo-em-energia-e-impulsiona-cidades-verdes  

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Ecos Urbanos | Os mitos da colonização

Sempre fui adepta de um aprendizado contínuo na vida, sobre tudo e em qualquer idade. Como se sabe, conhecimento não ocupa espaço e, uma vez adquirido, o novo conhecimento vai se somando ao já existente, formando novas sinapses ou conexões e reforçando (ou questionando) o que já sabemos, ou achamos que sabemos. (Ver aqui Tradução e Vitamina C). O novo se soma ao que já temos consolidado e, assim, vamos aprendendo um pouco mais, a cada dia, e aumentando nosso repertório de conhecimentos. Porém, se não reforçarmos as tais ligações com o que já temos acumulado, o novo se perde. Por isso, não se pode parar de observar, ler, estudar, refletir, analisar, comparar com que já sabemos e continuar aprendendo. Sempre com olhar atento, pensamento crítico, dimensão histórica e capacidade de análise e síntese. 
 
No campo da arquitetura e do urbanismo, a questão urbana sempre me interessou mais do que o projeto, propriamente dito. A cidade é nossa casa coletiva, nosso palco e espaço de ação, troca, aprendizado e intervenção. A cidade ideal é democrática, segura, arborizada, harmoniosa em termos visuais, com ruas largas, amplas calçadas, fachadas ativas, prédios a meia altura, bons equipamentos de saúde, educação e esportes, e qualidade de vida para todos. Quem não gostaria de viver numa cidade assim? Onde o meio ambiente, o cidadão, os equipamentos, espaços públicos e privados fossem respeitados? Onde o direito à cidade fosse respeitado?  Como coletiva, porém, é preciso relembrar o tempo todo que o que é público é de todos, ou seja, de responsabilidade coletiva: gestão, organização, limpeza, manutenção, segurança e cuidados. Tudo é dever de todos. 

Jane Jacobs. Divulgação
Evidentemente, sem isentar o poder público, aqueles que foram eleitos e são pagos para pensar e gerir bem nossas cidades, incluindo-se aí, com certeza, o poder legislativo. Ademais, deveria ser desnecessário lembrar que os objetivos primeiros dos que foram eleitos devem ser o de garantir um espaço inclusivo, seguro, democrático, agradável, com qualidade de vida e ambiental, ou seja, boas oportunidades de moradia, saúde, educação, lazer e esportes, cultura e segurança para toda a população. 
A jornalista e ativista Jane Jacobs (1916-2006), autora do conhecido livro Morte e Vida das Grandes Cidades (Martins Fontes), de 1961, dizia que a segurança das cidades está nos moradores, ou seja, nos habitantes e usuários da urbe. Nós somos os olhos da rua. Ela fala da importância da rua, do bairro, das relações humanas, da paisagem e do organismo vivo que é a cidade. Mas, vamos ao que me motivou a escrever sobre a cidade. 
 
Um ótimo artigo do ativista e humanista Thomas Angotti, professor de Planejamento Urbano de Nova York, trouxe afirmações que vieram ao encontro de convicções minhas, oriundas do meu aprendizado, experiência de vida e de conversas que tenho, todo dia, com meus botões, quando caminho pelas cidades. Ao caminhar, a gente olha, vê, analisa, compara, critica, repensa e age. Pois bem, em seu livro Mitos e transformações na Metrópole: Nova York e cidades da América Latina (Thomas Angotti, 2017, 102 p.), o autor questiona o fato de o rumo para certo desenvolvimento das questões urbanas ser sempre o fornecido pelo Norte Global e destaca que, antes de uma nova proposta surgir em qualquer área urbana, é preciso desconstruir conceitos criados/impostos há muito  tempo, como os modelos hegemônicos dos países centrais sobre os periféricos. 
 
www.gc.cuny.edu/people/thomas-angotti
O autor explica alguns dos mitos vendidos a ingênuos moradores. Defende os planos de bairro em contraponto a ações excludentes, como os processos de gentrificação e substituição dos moradores locais, nas intervenções de revitalização de grandes áreas urbanas. Fala da necessidade de uma ação transformadora do cidadão por meio de ações que integrem terra, moradia, mobilidade, transporte, participação cidadã, além do combate ao racismo e à desigualdade. Para espanto de muitos, ainda afirma que as áreas mais ricas de Nova York, portanto, com melhores condições e habitações, recebem mais subsídios do que os bairros mais pobres. 
 
Ora, ora, descobrimos, portanto (como desconfiávamos), que não são exclusivas daqui, do Sul Global, as lutas dos movimentos sociais por moradia e qualidade de vida. Como destaca Angotti, invariavelmente é preciso "enfrentar o capital imobiliário e, por extensão, sua simbiose com governos e parlamentos”.      
O tema não é novo e, em todas as áreas e campos do conhecimento, vemos explodir ações e reivindicações do Sul Global contrapondo-se ao Norte Global, como no caso da bióloga marinha Asha de Vos (ver aqui). Vamos?

Referências:

https://anitadimarco.blogspot.com/2024/04/ecos-humanos-inspiracao-do-sul-global.html

http://www.annablume.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=454%3Amitos-e-transformacoes-na-metropole&catid=6%3Asite&Itemid=177

https://www.gc.cuny.edu/people/thomas-angotti 

segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Ecos Culturais | Mais uma vez Oneyda...

Desde a primeira montagem em 2015, a exposição Oneyda Alvarenga & Eu. Seu tempo, sua busca, sua obra’ sobre a figura de Oneyda Alvarenga continua atualíssima. A mostra traz textos, fotos, informações e a linha do tempo da musicista, pesquisadora e etnomusicóloga varginhense, aluna e amiga de Mário de Andrade, e diretora da Discoteca Pública Municipal de São Paulo, hoje no Centro Cultural São Paulo.

Além disso, a mostra também propõe aos visitantes uma atividade lúdica: escrever cartas. Cartas treinam o pensamento, a reflexão, as emoções e a escrita, sobretudo em tempos de emojis e abreviações incompreensíveis das redes sociais. Ponto para quem incentiva essas ações. Ponto, então, desta vez, para o SESC-Varginha, que aceitou montar a exposição em sua unidade, com acesso livre para o público em geral e, sobretudo, para participantes de suas oficinas. Com esta, a mostra completa onze montagens, destacando que a exposição é montada sempre de acordo com o espaço que a acolhe.  

Oneyda Alvarenga (1911-1984) é figura indissociável do grande intelectual brasileiro Mário de Andrade, de quem foi pupila, amiga, colaboradora e indicada por ele como primeira diretora da Discoteca Municipal de São Paulo, fundada por ele em 1935. ela permaneceu como diretora até 1968, data em que se aposentou. Aos 19 anos, a jovem Oneyda deixou Varginha para estudar piano em São Paulo e dedicou sua vida à pesquisa, cultura, música e dança. Participou da compilação do material levantado pela Missão de Pesquisas Folclóricas (1938), idealizada por Mário de Andrade, missão de estudos e documentação que percorreu 30 cidades do Nordeste brasileiro, registrando diversas manifestações culturais e folclóricas, em especial de dança e música. O resultado foi a base do trabalho organizado e desenvolvido por Oneyda ao longo da vida. Esta exposição, portanto, é uma homenagem à sua vida, sua obra e à organização da obra fonográfica essencial para a construção da identidade cultural brasileira.     

A exposição é a mostra inaugural do Projeto|Nômades: Circuito Cultural de Exposições Ela, Ele & Eu, cujo objetivo é divulgar o trabalho e a vida de personagens-chave de nossa história, promovendo atividades de formação e o resgate cultural do cidadão. O propósito-bônus é incitar o observador, o “eu” do título, a assumir seu papel no projeto: refletir, repensar e construir (ou alterar) sua própria linha do tempo, despertar o prazer pelo aprendizado, pelo exercício da cidadania, pelo pensamento crítico e pela abertura ao novo, ao diferente em seu cotidiano. Sem que o observador questione sua própria atuação na construção da sociedade, não se alcança um dos objetivos principais do projeto.    

As responsáveis tanto pelo Projeto Nômades quanto pela concepção e curadoria da mostra ‘Oneyda Alvarenga & Eu. Seu tempo, sua busca, sua obra são Anita Di Marco, arquiteta e tradutora, e Vanessa CTReis, artista visual e fotógrafa. Montada, pela primeira vez em 2015, a partir do interesse despertado pela leitura do livro À Outra Margem (2014), de autoria de José Roberto Sales, psicanalista e historiador, a mostra já foi levada a várias cidades do Sul de Minas, além de algumas vezes em Varginha, em diferentes espaços. No SESC - Varginha, sob a coordenação de Ana Paula Bacolli, a décima montagem da mostra foi objeto de várias rodas de conversa entre diversos grupos e as curadoras, e fica em cartaz até 09 de agosto de 2025, das 8h às 18 horas.

Instagram do SESC Varginha: @sesc.varginha   

Evento | Exposição Oneyda Alvarenga & Eu. Seu tempo, sua busca, sua obra.
Onde: SESC Varginha – Rua Santa Cruz, 757. Centro, Varginha-MG 
Quando: De 29 de julho a 09 de agosto de 2025, das 8h às 18h.
Concepção e curadoria: Anita Di Marco & Vanessa CTReis
Pesquisa: José Roberto Sales