Não conheço ninguém que não tenha brincado com uma delas.
Acho que era, e é, uma brincadeira muito prazerosa que reúne a família, os amigos da escola, os vizinhos
e permite que a imaginação voe junto com as pipas. Meu pai, Sr. Pascoal (Pasqualino, para os meus tios), era mestre na sua
fabricação. Meu marido, também. Ou seja, meus filhos e eu, distanciados algumas décadas, brincamos com coisas similares. Às vezes, não dava muito certo, a pipa não subia, a rabiola se perdia no ar, mas.... tudo valia a pena, como já disse certo Pessoa.
Linha (ou cordel) para empinar, papel de seda para o corpo e para a rabiola, varetas de bambu e grude, como se chamava aquela cola especial. Não era uma simples cola branca como as vendidas nas papelarias de hoje. Não era Cascolar, Tenaz ou Pritt. Não, mesmo! Tinha que ser feita no fogo com água e farinha de trigo até chegar ao ponto certo, de ficar pegajosa e grudar nos dedos. Daí o nome, grude. Bom, era esse o material necessário para fazer as tais pipas planarem no ar, presas lá no alto por uma ponta e, aqui embaixo, pelo novelo em nossas mãos. À medida que soltávamos a linha, elas subiam e subiam, abrindo nossos sorrisos e fazendo-nos erguer o olhar. Vez ou outra havia certa guerra lá no alto, alguém querendo laçar a pipa do vizinho, mas tudo era diversão. Isso fazia de agosto um mês menos temeroso com o céu salpicado de pipas... As tardes eram longas e coloridas...
Aliás, empinar pipas sempre foi uma grande aventura para muitos povos, uma atividade que reunia magia, beleza e encantamento. O antigo sonho de voar nos remete à mitologia grega. Presos no labirinto de Creta, cuja saída era protegida pelo furioso Minotauro (metade homem, metade touro), Dédalo e seu filho Ícaro tentaram fugir voando, construindo asas com penas e cera. No entanto, Ícaro chegou muito perto do sol, a cera derreteu e ele caiu no mar, afogando-se. Desde então, o homem continuou desafiando a natureza para tentar voar. Talvez, as pipas tenham sido a primeira forma de concretizar essa vontade.
Embora outros povos como os africanos, os indianos e os polinésios também tenham feito uso delas ao longo de sua história, a origem das pipas é atribuída aos chineses, há mais de 3000 anos. Lá, os famosos objetos voadores assumiam variadas formas de animais: pássaros (símbolo de felicidade), dragões (prosperidade), tartarugas (vida longa), corujas (sabedoria) ou peixes (adaptação). Qualquer que fosse o significado e o formato, acreditava-se que as pipas ajudavam a afastar os maus espíritos.
De qualquer forma, o antigo sonho de estar acima das nuvens se concretizou, em primeiro lugar, no prazer de fazer voar um pedacinho de papel controlado com um novelo de linha. Empinar pipa. Uma brincadeira sadia que se tornou mortal quando alguns indivíduos sem noção e sem coração decidiram utilizar cerol, linha chilena ou aproximar-se de cabos elétricos aéreos. Oxalá, a pipa, inocente e leve, sobreviva mais uma vez.
Referências
https://www.portalsaofrancisco.com.br/curiosidades/historia-da-pipahttps://escola.britannica.com.br/artigo/pipa/481662#toc-288985
Logo se ve que, pelas fotos, o meu forte não era soltar pipa !! Mas que era divertido era... :)
ResponderExcluirMe lembro da primeira pipa que o pai ajudou a fazer ! Que luta ...
hahaha, você era pequenininho... foi o maior esforço e a pipa era meio pesada...., mas foi divertido mesmo, né?
ExcluirCerol e linha chilena, matam a brincadeira e pessoas. A Humanidade andando para trás a cada dia!
ResponderExcluirPois é, Eustáquio. depois fui ver que linha chilena é produzida industrialmente e nasceu em BH. confesso que o cerol já me deixava de cabelo em pé...Imagine isso, então, realmente, dá um desânimo... Obrigada por participar... um abraço
ExcluirComo era bom brincar. Chegava em casa, ralada e suja. Qdo não levava uns petelecos por ter sumido junto com a molecada. Hoje a linha chilena acabou a inocência da brincadeira. Bons tempos
ResponderExcluirPois é, muito triste. Acho que vender ou usar minha chilena é falha de caráter, mesmo!!!!! Abraços
ExcluirAnita que saudades vc trouxe hoje, para mim. Soltar pipa,ou papagaio como era por nós chamado. Reuníamos muitas crianças para preparar o grude, as varetas de bambu e o papel de seda. Encantador. Soltar o papagaio, vê-lo no alto era motivo de vitória e grande conquista. Obrigada pela lembrança escrita com um toque de criança e poetiza.
ResponderExcluirVocê não assinou, mas também é um poeta. Obrigada, são coisas que vão pulando na frente dos meus olhos e vou transcrevendo loucamente .. a memória é intrigante. Abraços
ExcluirMaria Inês, descobri quem era! Obrigada, querida...
Excluir" Brincando a criança aprende o que ninguém pode ensinar"
ResponderExcluirAdorei. Bjs
Você, como professora de Brinquedos Cantados, sabe bem do que estamos falando, né? Obrigada, querida! Beijos
ExcluirAmei, especialmente as fotos do seu filhote ♥️😊🤗😘♥️
ResponderExcluirTelma, não é uma graça? ... Eu babo com essas expressões dele.. hahahahah. Obrigada, meu bem. Beijos
ResponderExcluirAnita, que nostalgia deliciosa! Brinquei de pipa quando criança, mas estava longe de ser habilidosa. Corria até cansar tentando fazer ela voar. Sempre era outra pessoa quem conseguia levantá-la para mim. Obrigada por nos presentear com o seu texto e a chance de reviver nossas lembranças de infância. Um beijo!
ResponderExcluirOi Silvia, obrigada, meu bem... do jeito que você gosta de correr, dever ter perseguido muitas pipas na sua infância...um beijo, querida
ExcluirMinha amiga Emanuela Silva postou um comentário e eu o excluí sem querer, mas ela reuniu pipas e piquenique. quer coisa melhor para as crianças?
ResponderExcluirNeste sábado fui fazer Pic Nic com meus filhotes e soltamos pipa! Eles passaram horas voando com aquele pedacinho de seda! Aprendi muito hoje com vcs! Gratidão a todos!
Emanuela
Anitinha!com certeza a pipa ajuda a colorir o céu e trás alegria a todos que participam deste contagiante momento.Bebel
ResponderExcluirOi Amiga, que bom relembrar das coisas boas...
ResponderExcluirComigo a pipa nunca subiu, eu preferia observar e permitir que meus pensamentos voavam junto com elas
Outra lembrança gostosa é de um pique nique com as meninas no Ibirapuera, ficamos encantados com tantas pipas no céu, lindo!!! Bjs pra todos
Lá na minha cidade, Pitangueiras, além de pipa, papagaio, conhecíamos também por cartola (geralmente um papagaio com rabiola mais curta, ou até mesmo sem rabiola - nesse caso tinha grandes franjas, que saíam de seus dois lados inferiores). Havia também a capucheta, um tipo de pipa muito simples e que não precisava de varetas.
ResponderExcluirA sensação de empunhar a linha com a pressão do vento sustentando o papagaio ou pipa era única, sem similares, mágica.
Olha só, capucheta eu não conhecia. vivendo e aprendendo. Obrigada, Victor!
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