terça-feira, 1 de junho de 2021

Ecos Literários | Poesia Concreta

MASP, 1956
Todo mundo já deve ter visto aquelas poesias não convencionais e “de formato estranho”. São exemplos da Poesia Concreta, movimento parente do Modernismo, que quebrou paradigmas e rompeu com a forma usual de fazer poesia, indo além da ideia e do formato tradicional do verso. Com influência das vanguardas europeias, os idealizadores do movimento foram os irmãos e poetas Haroldo e Augusto de Campos, além de Décio Pignatari.
Juntos, criaram a revista literária Noigandres (antologia poética em 5 números), onde publicaram “O Manifesto da Poesia Concreta” (1956) e o “Plano Piloto da Poesia Concreta” (1958). A proposta era romper o caráter intimista do poema, superar o escrito, trabalhar a geometrização do texto, a sonoridade das palavras, os neologismos, a disposição na página, o espaço tipográfico e os sentidos. Por isso, a poesia concreta ficou conhecida como poema-objeto. O Museu de Arte Moderna-MAM de São Paulo  realizou em 1956 a Exposição Nacional de Arte Concreta.  Na mesma época, surgiram outros movimentos culturais como a bossa nova, o cinema novo, o teatro de arena, tudo abafado pelo malfadado AI-5, em 1968. 

Mas por que estou falando deles? Primeiro porque os três nomes acima compõem a tríade da poesia concreta no Brasil. Depois, porque a trajetória dos irmãos Campos é similar, dois monstros sagrados, mas apenas um continua vivo, produzindo, traduzindo e publicando aos 90 anos, completados em fevereiro de 2021. O ativíssimo Augusto de Campos, neste ano, recebeu e continua recebendo homenagens pelos seus 90 anos e sua trajetória. Uma delas é a mostra Trans Letras, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, com visitação até 11 de junho. Corra! Finalmente, porque Décio Pignatari foi meu professor na época da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-USP). Um privilégio! 

Lixo, 1966. Augusto de Campos

Paulistano e aquariano (14 fev.1931), Augusto de Campos (1931) chegou a cursar Direito pela USP, mas enveredou pela poesia. Além de poeta, é tradutor, ensaísta e crítico literário atuante. Com numerosos títulos publicados, entre ensaios e traduções, já recebeu diversos prêmios, como o Jabuti (1979 e 1993) e o Prêmio Pablo Neruda (2015).

Poema nascemorre, 1965. Haroldo de Campos

Seu irmão, Haroldo de Campos (1929-2003), paulistano e leonino (19 ago.), fez Direito na USP, mas a poesia sempre falou mais alto. Poeta, tradutor, crítico literário, ensaísta e autor premiado com o Jabuti (1991) e pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (2009). Trabalhou na transcriação de poesias japonesas e chinesas. Hoje, a Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, na Avenida Paulista em São Paulo, guarda os 35.000 volumes de sua sua biblioteca pessoal, doados pela família.   

 

Décio Pignatari (1927-2012) é o terceiro do grupo, também leonino (20 ago.). Fez Direito na USP, foi poeta, romancista, tradutor, ensaísta, dramaturgo e professor. Paulista de Jundiaí, faleceu aos 85 anos em São Paulo. Recebeu o prêmio Jabuti em 1962. O poema concreto ao lado, beba coca cola, de 1957, é um clássico, na forma, na sonoridade das palavras, na repetição e no visual, explorando a influência da publicidade no cotidiano das pessoas. O poema já foi musicalizado e fez parte do repertório de inúmeros corais. 

 

Gente. 1960.  Arnaldo Antunes
Velocidade. 1957. Ronaldo de Azevedo

Aqui no Brasil, outros poetas concretos mais conhecidos são Ronaldo Azeredo, José Lino Grünewal, Ferreira Gullar, Arnaldo Antunes, Paulo Leminski, entre outros.

 



Referências

https://www.bbc.com/portuguese/geral-56045361

https://www.culturagenial.com/poemas-para-entender-poesia-concreta/ 

http://www.iea.usp.br/noticias/as-exposicoes-inaugurais-da-arte-concreta-e-neoconcreta 

https://brasilescola.uol.com.br/literatura/poesia-concreta.htm

8 comentários:

  1. Adoro Poesia Concreta. Obrigada por este texto, me instigou isso do Poema Objeto.

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    1. Também gosto muito e eu sabia que você ia gostar. Algumas pessoas/artistas são meu alvo preferido! beijos e obrigada

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  2. Muita gente boa bebeu dessa fonte. Gênios da raça esses grandes poetas. Cito um dos meus preferidos que escreveu:
    ETERNAMENTE
    É TER NA MENTE
    TERNAMENTE
    ÉTER NA MENTE.
    (Walter Franco).
    bjs.

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    1. Sim, sem dúvida. São lindos os poemas, simples e objetivos. Musicados também, né? Obrigada, bjs

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  3. Parabéns Anitinha! Grandes poetas que nos incentiva a leitura e vontade destes tipos de poema.Bebel

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  4. Gostei muito, Anita!
    Amo essa poesia concreta. Que movimento! Esse valeu a pena.
    Qual era a disciplina que o Décio Pignatari lecionava na FAU?
    grande abraço, parabéns.

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    1. Também gosto muito, Valquíria. Ele dava aula de Semiótica. Deveria ter aproveitado mais.. bjs e obrigada por estar sempre por aqui.

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  5. Que previlégio ter Décio Pignatari como professor. Obrigada pelo texto

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