sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Ecos Literários e Tradutórios | Os cidadãos Campos

Mercado. Augusto de Campos.

O mundo da poesia concreta conhece os irmãos Campos. O mundo da crítica literária conhece os irmãos Campos. O mundo da tradução conhece, respeita e admira  os dois irmãos Campos: Haroldo Eurico Browne de Campos e Augusto Luís Browne de Campos, ambos paulistanos, ambos formados em Direito, ambos brilhantes e seguindo rumos paralelos: da crítica literária, da modernidade, da poesia concreta e da tradução. Após cursarem Direito na Universidade de São Paulo, seguiram outros caminhos. Fundaram, junto com Décio Pignatari, a revista literária Noigandres (palavra extraída de uma canção do trovador provençal Arnaut Daniel e que significa "o olor que afasta o tédio), na qual publicaram “O Manifesto da Poesia Concreta” (1956) e o “Plano Piloto da Poesia Concreta” (1958).   

Parente do modernismo, o Concretismo quebrou paradigmas, rompeu com a forma tradicional das poesias e, por isso, a poesia concreta é chamada de poema-objeto. Tudo muda na poesia concreta: a forma visual do poema e dos versos, o efeito sonoro das palavras, as rimas internas, a relação entre os termos, os neologismos, a metalinguagem, a ocupação do espaço da página, a tipografia, as formas resultantes. 

Haroldo de Campos. Divulgação

Haroldo de Campos (1929-2003), o premiadíssimo paulistano e leonino (29 de agosto), era poeta, tradutor, crítico literário, ensaísta e autor. Trabalhou na transcriação de poemas japoneses e chineses, transitou entre os campos da literatura e da arte visual, e ainda inovou na tradução, com seu famoso ensaio“Da tradução como criação e como crítica” —, no qual traz o revolucionário conceito de transcriação (1962). Hoje, sua biblioteca pessoal foi organizada como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, na Casa das Rosas, na Avenida Paulista, São Paulo. Valorizava a leitura em voz alta, ao dizer que as “palavras oralizadas podem ganhar força talismânica, aliciar e seduzir como mantras. Alguns de seus poemas: “Âmago do ômega”, de 1955; nascemorre” (1958). 

Nascemorre. Haroldo de Campos.  

Augusto de Campos. Wiki.

Augusto de Campos (1931), também premiado poeta, ensaísta, tradutor e crítico literário, foi homenageado, em 2021, pelos 90 anos de intensa atividade. Os poemas deste ativíssimo aquariano (14 de fevereiro) podem ser vistos na sua conta do Instagram @Poetamenos, onde ele se manifesta como cidadão a cada momento marcante da nossa sociedade e dos nossos tempos. Alguns de seus poemas: Greve (1962); Luxo/Lixo (1965); Colidouescapo(1971); O Pulsar (1975). Seus poemas sonoros podem ser ouvidos aqui.

Luxo/Lixo. Augusto de Campos

Ambos fazem parte daquele rol de mestres cuja obra extrapola o papel, a arte, o texto, porque mostram uma forma de participar, de agir, de criticar e se expressar. Do alto de seus 91 anos, Augusto de Campos, por exemplo, dá exemplo de cidadania e de visão humanista, pensando no coletivo. São daqueles mestres que marcam gerações, que apontam caminhos pela sua obra e, sobretudo, pela sua ação coerente. Minha imensa gratidão aos dois!   

5 comentários:

  1. Bonito de ler e ver Anita. Zé.

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    1. Obrigada, Zé Marcelino. Sabia que você ia gostar! Tomara que cheguemos à idade do Augusto (91) com toda essa lucidez e capacidade de discernimento, né? Beijos

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  2. O frescor de um poeta de 91 anos... e força.
    A tradução é um de seus dons, Anita. E veja-se que bebeu e bebe de boa fonte!
    Por mais criadores e zéfiros da liberdade. Infinitas formas de poema e de ser.

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    1. Querida Valquíria, muito obrigada pelos comentários e presença constante. Grande abraço e boa votação para todos nós, com consciência em prol de um país mais inclusivo, por um modelo de sociedade para as próximas gerações.

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  3. Muito bom Anitinha! Extremamente saudável de ler,nos preenche os olhos e a alma.

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