quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Ecos Urbanos | A cidade impermeabilizada

É impossível um cidadão consciente não se abalar com as cenas dramáticas de deslizamentos, enchentes, pessoas se agarrando a árvores ou postes, carros sendo levados pelas águas, sofás e geladeiras boiando, crianças sobre os móveis de casas alagadas, mortes etc., infelizmente imagens bem comuns nos últimos tempos. A crise climática chegou e não vai embora tão cedo e, como a maioria da população mundial vive em cidades, é preciso, de novo, de novo e de novo, lembrar de, além de um melhor e constante uso da tecnologia com sistemas de mapeamento, alerta e monitoramento, atitudes permanentes que podem ser tomadas por todos, sociedade e poder público sem exceção, além de possibilidades para driblar, mitigar ou interromper de vez esse doloroso processo a cada estação de chuvas:

Imagem: Divulgação

- Descartar e acondicionar, de forma adequada, o lixo (reciclável ou não) é a primeiríssima delas. As imagens recentes de “rios de lixo”, literalmente falando, não nos deixam dúvidas da importância desse simples ato de civilidade e boa convivência; quando não boia criando essas cenas chocantes, o lixo se deposita no fundo dos córregos e diminui o espaço de vazão das águas;

- Interromper/punir o desmatamento e a ocupação das várzeas, áreas naturais de espraiamento das águas de rios e córregos;

- Desocupar áreas de risco, aumentar a fiscalização e fazer cumprir a lei no que tange à ocupação irregular de locais indevidos como áreas de preservação permanente, escarpas, beira de córregos, rios, represas, baixadas etc. Afinal, o rio corre para o mar, então, é óbvio que as águas de chuva vão se acumular nas baixadas;

- Planejar e investir em políticas públicas efetivas destinadas a diminuir o déficit habitacional, designando locais adequados para construção dos imóveis (há anos, arquitetos falam disso);

- Priorizar políticas sérias que visem ao adensamento razoável das cidades, em oposição à infindável e enganosa expansão urbana;  

- Esclarecer a população em geral quanto à necessidade imperiosa de diminuir a impermeabilização das cidades e das nossas casas (áreas como quintais e jardins, por exemplo);

- Criar cidades esponja, parques alagáveis, jardins de chuva, piscinões, corredores verdes, parques lineares etc, tornando as cidades mais porosas (leia aqui); 

- Proteger as matas ciliares existentes e implantar mais áreas verdes, pois árvores limpam o ar, diminuem os ventos e o calor, permitem absorção da água da chuva no solo, o que alimenta o lençol freático, entre outros benefícios;

- Modificar os materiais empregados na pavimentação de ruas, utilizando pisos ecológicos e drenantes, inclusive em calçadas e calçadões;

- Investir em pesquisas (sempre e mais) em materiais alternativos ao típico asfalto, material impermeável, sujeito às variações do preço do petróleo e à radiação solar, aumentando, portanto, o calor nas cidades;

- Enfim ouvir, educar-se, educar a sociedade, compreender e atender aos pedidos de socorro da mãe Terra.  

No que se refere à pavimentação, por exemplo, basta lembrar das ruas com os simpáticos paralelepípedos, usados desde os romanos. Assentados sobre areia ou pedriscos, sem cimento, esses blocos de pedra têm um espaço de 1 a 2 cm entre eles, o que facilita a absorção da água no solo, favorecendo o escoamento e prevenindo enchentes.

Outra opção seria o uso de asfalto ecológico (vale a pesquisa), ou mesmo piso de concreto, a exemplo de várias cidades do Nordeste, como Fortaleza e Salvador. Embora o custo inicial de implantação seja mais alto, a longo prazo a opção vale a pena, já que pisos de concreto são mais resistentes, se desgastam menos com o tempo, requerem menos manutenção, absorvem menos a radiação de calor e melhoram a iluminação das vias no período noturno, como explica Iuri Bessa, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e como mostram vários artigos dos boletins da  Votorantim Cimentos (Mapa da Obra) e o da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entre outros.
 

Ana Gabriela Saraiva, representante regional da ABCP e professora do curso de Engenharia de Produção Civil da UNEB, por exemplo, destaca várias ações para transformar a paisagem urbana e criar espaços seguros e agradáveis para todos, dentre eles a pavimentação de vias públicas e os sistemas de drenagem, priorizando ações à base de cimento para melhorar o desempenho, a durabilidade das soluções propostas e a questão de sustentabilidade. Hoje, é sabido que muitas indústrias e cimenteiras estão preocupadas com questões ambientais e aplicam essas soluções em seu processo produtivo.  

Evidentemente, é preciso pesquisa antes da tomada de decisão, mas o sistema viário e sua pavimentação são itens cruciais no planejamento urbano de qualquer cidade que vise ajustar-se aos novos tempos de grandes mudanças climáticas. Tudo para ontem, é claro!

Referências

https://www.mapadaobra.com.br/calendario/pavimento-urbano-concreto/

https://www.linkedin.com/posts/pavimento-de-concreto_pavimento-de-concreto-%C3%A9-usado-na-br-163-activity-7117532109992333312-mld8/?originalSubdomain=pt

https://www.instagram.com/p/DExjJC0tXIG/?img_index=1&igsh=bjl4NW16ZTFqeXgz

www.solucoesparacidades.com.br

https://abcp.org.br/solucoes-para-cidades-alternativas-em-concreto-sao-excelentes-opcoes-e-adequadas-para-climas-quentes-e-chuvosos/

https://summitmobilidade.estadao.com.br/guia-do-transporte-urbano/conheca-as-3-principais-opcoes-de-pavimentacao-de-vias-publicas/  

https://ecotelhado.com/blog/prevencao-de-enchentes-o-que-fazer-em-grandes-centros/

 

18 comentários:

  1. Pois é, outro dia encontrei uma pessoa de São Lourenço toda feliz, porque a cidade ia trocar os paralelepípedos por asfalto...

    ResponderExcluir
  2. https://catalogo-sbn-oics.cgee.org.br/
    Questão crítica, Anita. Acima link enviado pela Gabriela, minha filha, que trabalha em projetos com o pessoal da faculdade de arquitetura da USP de São Carlos. Abraços Zé Marcelino

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Trabalho importantíssimo, obrigada, Zé! Segue o link aqui de novo:
      https://catalogo-sbn-oics.cgee.org.br/

      Excluir
  3. População e governantes = cada um cumprir sua responsabilidade. Transcender a exclusividade de olhar para os próprios benefícios e perceber e agir pelo bem comum. Inclusive harmonização com quem nos acolhe para experimentar a vida: planeta Terra.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Exatamente, trabalho conjunto de todos para todos, senão não vai....

      Excluir
  4. Brava Anita ,questo è un problema attuale che registriamo anche in Italia ,come in tutto il mondo,a tutti i livelli dobbiamo impegnarci affinchè la situazione,diventata molto pericolosa,possa essere sconfitta per salvare questo vecchio pianeta.Ciao un abbraccio

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Grazie, Tonino. Hai detto bene, dobbiamo impegnarci, tutti quanti....e presto....prestissimo....grazie ed un abbraccio

      Excluir
  5. E também é importante dar uma destinação inteligente pra todo o asfalto que é raspado a cada recapeamento. Eu penso que asfalto só devia ser utilizado em auto-estrada e pistas rápidas.

    ResponderExcluir
  6. Questão urgentíssima, Anita! O povo precisa se informar/ser informado e nossos governantes governar! Seu dever e missão são para o público e não para seu próprio ganho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Difícil, né, estamos numa fase de individualismo atroz... Esqueceram a função dos políticos, dos que governavam a polis grega para o bem comum. Bjs

      Excluir
  7. Tarefa gigantesca, sobretudo considerando o poder da especulação imobiliária !

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Nem me fale.....é só ver I que estão fazendo em cidades como SP e Balneário Camboriú....

      Excluir
  8. Boa tarde!

    A abordagem está perfeita. A várzea, além de ser a área mais baixa e vulnerável a inundações, geralmente recebe o escoamento das redes de galeria de águas pluviais, que deságuam nos córregos. Não é incomum que essas redes enfrentem desafios, como tubos de concreto submersos, o que impede o fluxo adequado da água. Como resultado, quando o nível dos córregos sobe, ocorre o refluxo, causando inundações nos bairros que ocupam as margens externas dos cursos d’água.

    ResponderExcluir
  9. Ótimo texto Anitinha!Precisamos ter consciência do quanto é importante cuidarmos com amor de nossas ruas,rios,mananciais etc.Temos que cobrar dos governantes esse cuidado também. Bebel

    ResponderExcluir
  10. Estou acrecentada com o seu texto, parabéns! Gostei também da questão sobre o chão impermeaável.

    ResponderExcluir