sexta-feira, 3 de março de 2023

Ecos Arqueológicos | De Lobato ao Parthenon (Parte 2/2)

Continuando minhas incursões pelos domínios da arqueologia... Se ainda não leu, leia a parte 1/2 aqui.

Cusco. Foto: Julia Di Marco Alves
No início dos anos 1980, conheci antigas ruínas na Bolívia e no Peru: Laja, o Templo do Sol em Tiahuanaco, Vale da Lua, as tumbas em Sillustani, as ruínas de Sacsayhuaman, Pisac, Kenko, Puca Pucara, Tambo Machay, Ollantaytambo, Machu Picchu, os arredores do lago Titicaca e a não menos incrível Cusco, capital do império inca e motivo de minha pós-graduação em Roma. Além de tudo isso, com o apoio de arquitetos e arqueólogos locais, visitamos uma série de sítios arqueológicos ainda não liberados para turismo, numa verdadeira viagem de estudos. Foi, como costumo dizer, “supercalifragilistic”. No final de 1981 e em 1982, já no curso de especialização em Conservação e Restauro, em Roma, a arqueologia me pegou mais fundo ainda. Vivia mergulhada no passado e no presente, rodeada de trechos e traçados de diferentes épocas, espaços e pedaços de edifícios que traziam em si marcas de diferentes camadas de tempo: templos, palácios, mercados, praças, pinturas, estátuas, colunas, pisos, cacos rearranjados, histórias dentro da História.

Anfiteatro de Taormina, Sicília. Foto: Divulgação
Com o curso, sempre na companhia de professores, viajamos por várias cidades italianas, discutindo e estudando intervenções bem ou malsucedidas de recuperação e restauro, visitando palácios de variadas épocas, jardins renascentistas (Roma, Tivoli, Florença, Milão), pontes e torres medievais (Subiaco, Bologna, Veneza,Siena), anfiteatros romanos (Roma, Verona, Nápoles), ruínas etruscas (Viterbo, Cerveteri, Fiesole, Civita Castellana) e ainda Óstia, Pompeia, Herculano, Capri, Paestum, Grisolia, Cefalu, Scilla, Siracusa... Puro privilégio!
 
Acha que acabou? Não! Para coroar, antes de voltar ao Brasil e ao DPH, fiz a tão sonhada viagem à Grécia, com Fernanda, amiga de tantas viagens. Pelo caminho, os incríveis templos em Paestum, o anfiteatro de Taormina, os antigos muros  e uma parada em Reggio, na Calábria, para ver as figuras em bronze de dois guerreiros: Bronzi di Riace! Recém-restauradas, as estátuas haviam sido descobertas havia apenas dez anos. Inacreditável! De novo, a história bem ali na minha frente! Só gratidão.  
 
Partenon, Atenas. Imagem: Divulgação
Partindo do porto de Brindisi, no Mar Adriático, aportamos nas ilhas jônicas, Paxos e Corfu (respectivamente Paxis e Kerkyra, em grego). Indescritíveis os tons de azul daqueles mares e a sensação que tive ao pisar nas ilhas de Santorini e Mykonos, no porto de Pireu em Atenas; depois, em Olímpia, sede dos primeiros jogos olímpicos da história (776 a.C.), Delfos e seu famoso oráculo, e Corinto com o templo de Apolo. 
 
Ainda que não tenha visitado a Ilha de Creta, nem visto o famoso labirinto, meu sonho de criança tinha virado realidade e eu era espectadora viva das camadas da história. Os personagens de Lobato apareciam aqui e ali. Eu olhava, olhava e olhava para gravar na alma aquela paisagem que me emocionava - os pedaços de mármore no chão da Acrópole, os degraus do anfiteatro de Dionísio em Atenas, os vestígios do passado no presente... e as oliveiras, os pastores, as ovelhas e cabras, as frutas. Tudo! Ali eu vivenciava duas situações justapostas, o privilégio do presente e o sonho do passado da Grécia antiga. 
  
Só agradeço! Aos meus pais que me presentearam com os livros de Lobato; ao próprio Lobato, à FAU-USP,  ao DPH, às incríveis paisagens da Bolívia e do Peru, ao inesquecível Iccrom, à Roma, minha segunda casa, à Grécia, às minhas leituras e trocas com amigos também curiosos. Olhando de longe todo esse percurso, que começou nos livros em São Paulo e terminou ao vivo, na Grécia, entendi que a vida é um circuito. Não é à toa que nos interessamos por algo. Não é à toa que nos encantamos com certos cenários e paisagens. A paixão despertada em mim pelos livros de Lobato, provavelmente, eram indício do que já foi (será?) ou do que viria pela frente. E que frente!   

Referências

https://anitadimarco.blogspot.com/2016/06/memoria-vida-como-cusco-me-levou-roma.html
https://www.calabriatheotheritaly.com/bronzi-di-riace/
https://descobrindoasicilia.com/bronzes-de-riace-os-tesouros-de-reggio-calabria/
https://dicadagrecia.com.br/grecia/principais-cidades-da-grecia/
https://www.amochilaeomundo.com/p/blog-page_25.html
https://dicadagrecia.com.br/grecia/principais-cidades-da-grecia/
https://concretoemcurva.wordpress.com/2016/06/29/palacios-do-renascimento/
https://despachadas.com/ilhas-gregas-qual-escolher/

11 comentários:

  1. Que maravilha que você visitou todos esses lugares! Eu visitei só em brincadeiras :)

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  2. Que delícia poder visitar todos esses lugares! Eu visitei só nas milhas brincadeiras da infância. A turma do Sítio do pica pau Amarelo me fez muita companhia na vida :)

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    1. A literatura é um imenso e mágico veículo que nos leva a lugares distantes num piscar de olhos. Vc está mais perto agora do que eu. Aproveite. Beijos e obrigada por comentar...

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  3. Quanta vida e experiências em um texto que nos faz viajar junto.

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  4. Parabéns pelo belo texto! Conforme eu lia me transportei para nosso apartamento lá de Roma e foi um turbilhão de boas lembranças. Estudos, viagens, amigos de várias nacionalidades e muitas experiências maravilhosas. Apesar da distância do tempo bastou uma lembrança para que tudo fosse vivenciado. Obrigada! Bjs

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    1. Querida, nem me fale. Experiências incontáveis e maravilhosas...A gente não esquece, né? Qualquer dia vou falar mais dos nossos passeios em Roma... o grupinho da Via Vittorio Fiorini. Privilégio nosso. Obrigada por comentar e partilhas dessas doces lembranças. Beijos

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  5. Que espetáculo de texto!Tentei viajar em pensamento nesses lugares maravilhosos e cheio de histórias. Parabéns Anitinha!

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  6. Incrível esta experiência, esse contato com as ruínas do passado é realmente enriquecedor, nos coloca diretamente sobre camadas da história. Em 2011 tive a felicidade de viajar a Grécia e Turquia, viagem de 30 dias incríveis, visitei várias ilhas gregas, entre elas Creta, Santorini, Miconos, o interior do Peloponeso, Epidaurus e tantos outros lugares, além de cidades hoje turcas, mas de origem grega como Efesus. Impagável, viver em um sonho.

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  7. Maria A S F Rosmaninho11 de março de 2023 às 11:47

    Que delícia sua opção de entrada na Grécia, Anita! Pelo caminho literário da viagem no tempo, criado por Monteiro Lobato para dar na Grécia Antiga! Posso ouvir os gritos e compartilhar a alegria do pessoal do Sítio do Pica-pau ao reconhecer cada elemento do passado que você podia, literalmente, tocar. Uma mágica, um estado de transe que o escritor moçambicano Mia Couto sabe muito bem descrever, como fez falando da primeira vez que leu Guimarães Rosa . Eu mencionei isso na 1a. de 7 Lives que o grupo Teia de Aranha fez em 2022 para comemorar seus 20 anos de existência. Vou ver se encontro a referência

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  8. Amei tudo isso! Parabéns pela encantadora forma de contar suas vivências! Um forte abraço
    Marly Tiso

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    1. Obrigada, querida, se a gente não põe no papel, digo, no blog, com o tempo elas vai desaparecendo......bjs

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