Continuando minhas incursões pelos domínios da arqueologia... Se ainda não leu, leia a parte 1/2 aqui.
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Cusco. Foto: Julia Di Marco Alves
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No início dos anos 1980, conheci antigas ruínas na Bolívia e no Peru:
Laja, o Templo do Sol em Tiahuanaco, Vale da Lua, as tumbas em Sillustani, as
ruínas de Sacsayhuaman, Pisac, Kenko, Puca Pucara, Tambo Machay, Ollantaytambo,
Machu Picchu, os arredores do lago Titicaca e a não menos incrível Cusco,
capital do império inca e motivo de minha pós-graduação em Roma. Além de tudo
isso, com o apoio de arquitetos e arqueólogos locais, visitamos uma série de
sítios arqueológicos ainda não liberados para turismo, numa verdadeira viagem
de estudos. Foi, como costumo dizer, “supercalifragilistic”. No final de 1981 e em 1982, já no curso de especialização
em Conservação e Restauro, em Roma, a arqueologia me pegou mais fundo ainda.
Vivia mergulhada no passado e no presente, rodeada de trechos e traçados de
diferentes épocas, espaços e pedaços de edifícios que traziam em si marcas de
diferentes camadas de tempo: templos, palácios, mercados, praças, pinturas,
estátuas, colunas, pisos, cacos rearranjados, histórias dentro da História.
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Anfiteatro de Taormina, Sicília. Foto: Divulgação
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Com o curso, sempre na companhia de professores, viajamos por
várias cidades italianas, discutindo e estudando intervenções bem ou malsucedidas de recuperação e
restauro, visitando palácios de variadas épocas, jardins renascentistas (Roma, Tivoli,
Florença, Milão), pontes
e torres medievais (Subiaco, Bologna, Veneza,Siena), anfiteatros
romanos (Roma, Verona, Nápoles), ruínas etruscas (Viterbo, Cerveteri,
Fiesole, Civita Castellana) e ainda Óstia, Pompeia, Herculano,
Capri, Paestum, Grisolia, Cefalu, Scilla, Siracusa... Puro privilégio!
Acha que acabou? Não! Para coroar, antes de voltar ao Brasil e ao DPH, fiz a tão
sonhada viagem à Grécia, com Fernanda, amiga de tantas viagens. Pelo caminho, os incríveis templos em Paestum, o
anfiteatro de Taormina, os antigos muros e uma parada em Reggio, na Calábria, para
ver as figuras em bronze de dois guerreiros: Bronzi di
Riace! Recém-restauradas,
as estátuas haviam sido descobertas havia apenas dez anos.
Inacreditável! De novo, a história bem ali na minha frente! Só
gratidão.
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Partenon, Atenas. Imagem: Divulgação
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Partindo
do porto de Brindisi, no Mar Adriático, aportamos nas ilhas jônicas, Paxos e Corfu (respectivamente Paxis e Kerkyra, em grego).
Indescritíveis os tons de azul daqueles mares e a sensação que
tive ao pisar nas ilhas de Santorini e
Mykonos, no porto de Pireu em Atenas; depois, em
Olímpia, sede dos primeiros jogos olímpicos da história (776 a.C.), Delfos e seu famoso oráculo, e Corinto com o templo de Apolo.
Ainda
que não tenha visitado a Ilha de Creta, nem visto o famoso labirinto, meu
sonho de criança tinha virado realidade e eu era espectadora viva das
camadas da história. Os personagens de Lobato apareciam aqui e ali. Eu
olhava, olhava e olhava para gravar na alma aquela paisagem que me
emocionava - os pedaços de mármore no chão da Acrópole, os degraus do
anfiteatro de Dionísio em Atenas, os vestígios do passado no presente... e
as oliveiras, os pastores, as ovelhas e cabras, as frutas. Tudo! Ali
eu vivenciava duas situações justapostas, o privilégio do presente e
o sonho do passado da Grécia antiga.
Só
agradeço! Aos meus pais que me presentearam com os livros de Lobato; ao próprio
Lobato, à FAU-USP, ao DPH, às incríveis paisagens da Bolívia e do Peru,
ao inesquecível Iccrom, à Roma, minha segunda casa, à Grécia, às minhas
leituras e trocas com amigos também curiosos. Olhando de longe todo esse
percurso, que começou nos livros em São Paulo e terminou ao vivo, na Grécia,
entendi que a vida é um circuito. Não é à toa que nos interessamos por algo.
Não é à toa que nos encantamos com certos cenários e paisagens. A paixão
despertada em mim pelos livros de Lobato, provavelmente, eram indício do que já
foi (será?) ou do que viria pela frente. E que frente!
Referências
https://anitadimarco.blogspot.com/2016/06/memoria-vida-como-cusco-me-levou-roma.html
https://www.calabriatheotheritaly.com/bronzi-di-riace/
https://descobrindoasicilia.com/bronzes-de-riace-os-tesouros-de-reggio-calabria/
https://dicadagrecia.com.br/grecia/principais-cidades-da-grecia/
https://www.amochilaeomundo.com/p/blog-page_25.html
https://dicadagrecia.com.br/grecia/principais-cidades-da-grecia/
https://concretoemcurva.wordpress.com/2016/06/29/palacios-do-renascimento/
https://despachadas.com/ilhas-gregas-qual-escolher/
Que maravilha que você visitou todos esses lugares! Eu visitei só em brincadeiras :)
ResponderExcluirQue delícia poder visitar todos esses lugares! Eu visitei só nas milhas brincadeiras da infância. A turma do Sítio do pica pau Amarelo me fez muita companhia na vida :)
ResponderExcluirA literatura é um imenso e mágico veículo que nos leva a lugares distantes num piscar de olhos. Vc está mais perto agora do que eu. Aproveite. Beijos e obrigada por comentar...
ExcluirQuanta vida e experiências em um texto que nos faz viajar junto.
ResponderExcluirParabéns pelo belo texto! Conforme eu lia me transportei para nosso apartamento lá de Roma e foi um turbilhão de boas lembranças. Estudos, viagens, amigos de várias nacionalidades e muitas experiências maravilhosas. Apesar da distância do tempo bastou uma lembrança para que tudo fosse vivenciado. Obrigada! Bjs
ResponderExcluirQuerida, nem me fale. Experiências incontáveis e maravilhosas...A gente não esquece, né? Qualquer dia vou falar mais dos nossos passeios em Roma... o grupinho da Via Vittorio Fiorini. Privilégio nosso. Obrigada por comentar e partilhas dessas doces lembranças. Beijos
ExcluirQue espetáculo de texto!Tentei viajar em pensamento nesses lugares maravilhosos e cheio de histórias. Parabéns Anitinha!
ResponderExcluirIncrível esta experiência, esse contato com as ruínas do passado é realmente enriquecedor, nos coloca diretamente sobre camadas da história. Em 2011 tive a felicidade de viajar a Grécia e Turquia, viagem de 30 dias incríveis, visitei várias ilhas gregas, entre elas Creta, Santorini, Miconos, o interior do Peloponeso, Epidaurus e tantos outros lugares, além de cidades hoje turcas, mas de origem grega como Efesus. Impagável, viver em um sonho.
ResponderExcluirQue delícia sua opção de entrada na Grécia, Anita! Pelo caminho literário da viagem no tempo, criado por Monteiro Lobato para dar na Grécia Antiga! Posso ouvir os gritos e compartilhar a alegria do pessoal do Sítio do Pica-pau ao reconhecer cada elemento do passado que você podia, literalmente, tocar. Uma mágica, um estado de transe que o escritor moçambicano Mia Couto sabe muito bem descrever, como fez falando da primeira vez que leu Guimarães Rosa . Eu mencionei isso na 1a. de 7 Lives que o grupo Teia de Aranha fez em 2022 para comemorar seus 20 anos de existência. Vou ver se encontro a referência
ResponderExcluirAmei tudo isso! Parabéns pela encantadora forma de contar suas vivências! Um forte abraço
ResponderExcluirMarly Tiso
Obrigada, querida, se a gente não põe no papel, digo, no blog, com o tempo elas vai desaparecendo......bjs
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