O conceito está profundamente enraizado na cosmologia dos povos indígenas, que jamais se colocam como proprietários e, sim, como parte do todo. Como tal, quando houver necessidade, eles têm permissão para usar algo do meio ambiente, mas sempre se lembrando de, antes, agradecer e pedir permissão à mãe natureza, entendendo que tudo está interligado, entrelaçado e, dessa maneira, buscando construir, coletivamente, uma nova forma de bem viver para todos.
Na região de Parelheiros, zona sul de São Paulo, existe um território com o maior número de lideranças femininas do povo guarani. Uma delas é Jerá (pronuncia-se Dirá). Pedagoga pela Universidade de São Paulo, há anos ela luta pela demarcação das terras de seu povo. Diz que o modo de vida dos homens brancos está errado, pois eles acumulam demais, mesmo sem necessidade, desequilibram a vida planetária e não respeitam a natureza que, segundo a cosmologia guarani, surgiu primeiro e, portanto, deve ser respeitada e reverenciada. Diz Jerá:
— “É preciso cuidar daquilo que nos mantém vivos; ter uma cultura de respeitar a natureza, de lidar com a terra, de ter só o suficiente. [...] Não tem guarani proprietário do agronegócio, destruindo terra, envolvido nessa ideia de riqueza, então, esse termo do Teko Porã vai um pouco nessa linha de despertar o homem branco (juruá, em guarani) para essa reflexão, de lembrar-lhe que, a cada dia, temos uma oportunidade de agir diferente, de construir, de consertar."
Como conceito, o bem viver abarca quatro dimensões interconectadas: a do indivíduo consigo mesmo (dimensão subjetiva e espiritual); a do indivíduo com os outros (dimensão comunitária); a dele com a natureza (dimensão ecológica) e, por fim, a dele com as forças da vida (dimensão cósmica). Para integrar essas dimensões é preciso questionar o desenvolvimento a qualquer custo, a opressão e a violência da colonização; é preciso reaprender a viver em comunidade com todos os seres, com todas as forças naturais, com a Vida. Porque, por mais que a meritocracia afirme e queira provar que só depende de “você”, o fato é que ninguém existe sozinho; precisamos uns dos outros, da natureza, das águas, da chuva, dos ventos, da Terra, da nossa Pachamama! O respeito a essas relações de reciprocidade com todas as forças da vida é o que reforça o bem viver, fortalecendo os fios de uma trama que dão sentido à vida, já que a alma é feita do mesmo tecido do mundo em que habita, como mencionado pelas Upanishads, parte final dos Vedas, livros sagrados mais antigos do mundo.
Referências
https://outraspalavras.net/blog/bem-viver-indigena-caminho-para-reinventar-a-democracia/
https://www.youtube.com/watch?v=_0iDKO8I-f8
https://thegoddessgarden.com/pachamama/
https://anitadimarco.blogspot.com/2022/04/ecos-imateriais-ikigai.html
https://anitadimarco.blogspot.com/2018/10/ecos-imateriais-ubuntu.html
https://anitadimarco.blogspot.com/2020/12/ecos-humanos-dna-e-filosofia-ubuntu.html
Já está preparando um livro com esses textos? Bom pensar nisso. Bjs. Eneida
ResponderExcluirEu quero, com certeza... Tenho mais uns 6 ou 7....Se alguém se dispuser... Obrigada, querida...bjs
ExcluirPerfeito! Bjs
ResponderExcluirMuito bom Anitinha! Sempre uma aula.Bebel
ResponderExcluirTUTTO QUELLO CHE CI CIRCONDA NON è PROPRIETA' PRIVATA MA è UN BENE COMUNE CHE TUTTI DOVREMMO PRESERVARE VISTO CHE CI LEGA L'UNO ALL'ALTRO .UN GRANDE ABBRACCIO
ResponderExcluirAnita , obrigada, cada reflexão tua, nos chama para a Vida , amplia nossos horizontes, nos conecta ao momento …IsaRe
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