terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Ecos Humanos | DNA e Filosofia Ubuntu

Já comentei aqui sobre o Festival de Vida Sustentável - LivMundi, evento realizado virtualmente em outubro último, que objetiva dialogar e despertar a consciência para proteção do outro, do meio ambiente e para uma vida mais saudável e mais relacionada com o invisível. Um dos temas abordados foi Vida em rede, que destacou a necessidade interromper a forma individual de pensar, uma vez que vivemos em rede e já foi provado que cada atitude nossa tem impacto no todo. A pandemia de Covid-19 nos mostrou isso de forma cristalina. Essa inter-relação, de forma muito didática, foi trazida pela Dra. Lygia da Veiga Pereira, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo - USP, pesquisadora e coordenadora do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias (LaNCE USP), laboratório que desenvolve pesquisas voltadas ao tratamento e à cura de diversas doenças. Para conhecer mais sobre essas pesquisas ouça uma entrevista dela aqui

A pesquisadora, que é também coordenadora do Projeto DNA do Brasil, iniciou sua fala no Festival mostrando a imagem de uma célula e fazendo uma pergunta-chave: 

- Como é que passamos de seres unicelulares, que já fomos, e chegamos à complexidade do ser humano?

De maneira didática, explicou que a multiplicação das células, dando origem aos diferentes tipos de células de um mesmo indivíduo, ocorre de forma organizada porque segue a receita presente em seu núcleo, ou seja, a sequência completa do DNA (ácido desoxirribonucleico), o genoma humano (composto por 3,2 bilhões de letras), ou ainda, o conjunto de todos os genes de um ser vivo. Ao ler esse genoma, aquela célula consegue se multiplicar e se transformar em um indivíduo único. Salientou que temos 20 milhões de genes no nosso genoma e que, hoje, não existe um só genoma humano, mas mais de 7 bilhões.

Então, ela lançou uma segunda pergunta que escancara o que muitos insistem em não ver e cuja resposta foi melhor ainda: 

- Quando o genoma, o DNA, de duas pessoas é idêntico? 

Dra. Lygia explicou que somos 99,9% idênticos, o que significa que as desigualdades, as diferenças entre cada ser humano (raça, cor dos olhos, cabelo, feições) concentram-se no ínfimo índice de 0,01% do nosso DNA. 

Será que ficou claro ou ainda é  preciso desenhar? Ou seja, os resultados do Projeto DNA do Brasil, coordenado por ela, mostram que somos o produto de um cadinho onde se misturaram, em diferentes proporções, caucasianos (brancos), índios, europeus e africanos. Quer dizer, o brasileiro não tem uma “feição” única, típica e marcada, porque somos todos, em maior ou menor grau, produtos dessa mistura. Dra Lygia destaca ainda que, ao investigar nossa ancestralidade, as pesquisas têm demonstrado que é possível recuperar genomas de africanos de diversos locais da África, de vários brancos e até mesmo de índios que já foram extintos, mas que sobrevivem no brasileiro atual.

Resumo da ópera: gostemos ou não, aceitemos ou não, o povo brasileiro é fruto dessa mistura maravilhosa de raças. Mais do que nunca, a Ciência e as pesquisas desenvolvidas na universidade pública provam que a vida se organiza em rede, que o que ocorre com um só indivíduo afeta o todo e que somos todos um. Tudo isso mostra o que a filosofia Ubuntu, registra lindamente em suas histórias: Sou o que sou porque nós somos!

Ubuntu para todos nós! Viva a consciência da unidade, viva a ciência, viva a universidade pública gratuita, plural e de qualidade!

Referências:
http://jornal.usp.br/radio-usp/radioagencia-usp/a-importancia-das-pesquisas-com-celulas-tronco/ .
https://www.youtube.com/watch?v=tHmrmDw_Nd0

10 comentários:

  1. Mais um texto muito esclarecedor. Obrigado, mestra!

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  2. Esta compreensão sistêmica felizmente está chegando à humanidade. Devagarinho, mas tá. Ubuntu!

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    1. Sim, é que o inverso ainda faz muito barulho, mas está, sim. Obrigada pela visita. Bj

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  3. Um texto muito a propósito das situações problemáticas que o mundo vive hoje. Parabéns por nos trazer essas informações.
    O nome/conceito Ubuntu também é usado para um sistema operacional de código livre baseado no Linux.

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    1. Exato, Victor! Viva o Linux, também! Um abraço e obrigada por comentar...

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  4. Oi, Anita, gostei muito da sua explicação sobre essa filosofia. Também sempre achei que somos todos um. Se uma coisa boa acontece a um, pode então se realizar para todos. Abraços

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    1. É linda a filosofia Ubuntu, como tantas outras que vêm de outros povos da África e do Oriente. Abraços

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