Sábio é
aquele que percebe que a intuição mística e a ação prática são uma só em sua essência. (Bhagavad
Gita).
Fim de semestre. Tempo de celebrações, agradecimentos e mudanças. Em primeiro lugar, celebrar e agradecer o final de mais um período, reafirmando nossos compromissos com o Yoga e com a Vida, sempre contando com alunos e amigos que, com sua presença e apoio ativo, nos incentivam a melhorar a cada dia. Depois, tempo de agradecer a convivência quase diária, acolhimento e generosidade de duas queridas, Ana Clara M. Pereira (kaká) e Noêmia Gontijo, que receberam, de braços abertos e por dez anos, o Espaço Dharma de Yoga. Por fim, além de também comemorar e agradecer, chegou o tempo de mudar para uma nova casa, no Parque Boa Vista, em Varginha, iniciando, assim, um novo ciclo.
Por isso, ontem, 27 de junho, o Espaço DHARMA de Yoga reuniu alunos e amigos para uma
reflexão importantíssima para todos: a coerência na aplicação
prática dos princípios éticos do yoga, conforme compilados por Patanjali no seu
Yoga Sutras, por volta de 300 a.C. Muito se fala que o indivíduo deve ser o
mesmo seja no tapetinho na sala de yoga, seja na vida. Mas como sabemos que a
teoria nem sempre é aplicada na prática, fizemos uma pequena reflexão, a partir
de um teste individual, que consistiu em responder (mentalmente) a algumas perguntas e
atribuir certo número de pontos a cada resposta. A partir do resultado (não compartilhado), cada um teria em mãos uma medida para avaliar sua conduta em relação a cada um dos dez
princípios mencionados, os yamas
(refreamentos) e os nyamas
(observâncias).
A
título de esclarecimento, yamas são
cinco princípios que moldam o caráter do indivíduo para um melhor convívio em
sociedade. São eles: ahimsa (não violência em pensamentos, palavras, olhares e ações); satya (veracidade ou não mentir, não dizer
meias-verdades, não se iludir e nem iludir o outro); asteya (honestidade, muito além de
objetos [o que é óbvio] e que inclui não furtar (do outro) paz, espaço, tempo,
direitos, saúde, alegria etc.); brahmacharya (moderação, controle da energia e dos impulsos e excessos em qualquer
situação – ao comer, beber, trabalhar, consumir e em relação à vida
sexual); e aparigraha (não possessividade, não acumulação,
não ganância, desapego).
Por
sua vez, os niyamas, observâncias para um trabalho sério sobre si mesmo,
consistem em fazer uma escolha
diária, firme e consciente de um modo de ser e de agir no mundo: saucha (purificação, conceito que vai muito além da higiene corporal, envolvendo pureza do que nos nutre - alimentos, pensamentos, emoções, filmes, músicas, ambientes etc.);
santosha (cultivo do contentamento e da alegria
interior com o que se é); tapas (austeridade, disciplina, resiliência, num
esforço vinculado à vontade); svadhyaya (autoestudo e estudo dos textos sagrados e
inspiradores); e ishvara pranidhana
(confiança, entrega; fazer o nosso melhor em qualquer situação e depois
entregar, em essência, o ‘seja feita a vossa
vontade’, tão repetido e tão pouco aplicado).
Nosso
modo de agir reflete nosso interior e nossas ações acabam mostrando o que somos
de fato. Porém, o mais importante é que cada dia traz novas oportunidades para
aprendermos e superarmos as tendências negativas. Assim, o teste
buscou identificar o modo de cada um perceber e interagir com o mundo, sendo que essa
percepção/interação se dá por meio da visão, da audição, do pensamento, do
sentimento, do discurso e da ação. Tudo está interligado, mesmo que o indivíduo
não tenha essa consciência. A maioria vê, ouve algo e logo analisa, julga, fala
e reage sem pensar, por impulso, sem estar presente de fato. A própria psicanálise, por exemplo, enfatiza
que é por meio do discurso que revelamos quem somos.Todas essas expressões, na verdade, são um reflexo do que já existe no coração.
A
proposta foi, então, tirar a ética do plano teórico e jogá-la na vida real,
fazê-la presente em TODAS as nossas atividades, como uma roupa que colocamos,
independentemente da ocasião. As lições aprendidas se revelam no cotidiano e,
como bem diz o trecho acima, extraído do Bhagavad-Gita,
o livro sagrado dos hindus, a VIDA é uma prática viva.