Esta é a 24ª e a mais recente obra do escritor, professor, psicólogo e
historiador José Roberto Sales, presidente da Academia
Varginhense de Letras, Artes e Ciências –AVLAC. Resultado de um trabalho sério de pesquisa histórica
amparada em dados, ofícios e relatórios da época, a obra aborda o período de 1936 a 1972, nesta cidade do Sul de Minas.
Depois de ler o livro, fiz algumas considerações ao
autor e reproduzo parte delas. De início, questiono o uso do termo
"comunismo"no título, já que tal
movimento em Varginha não me pareceu tão expressivo, talvez mais pela inferência dos
agentes públicos do que de fato. A bem da verdade, a partir da leitura dos relatórios e ofícios
transcritos, concordei com o autor quando ele lamenta a postura
um tanto fantasiosa dos documentos dos períodos pesquisados. Tais
documentos, além de mal escritos, mostram ilações e inferências no mínimo estranhas, ou até mesmo levianas, daqueles agentes quando constroem suas narrativas deduzidas (?!) a partir da observação de atividades comezinhas dos cidadãos.
Acusavam-se indivíduos, ligando-os a
atividades subversivas, em atividades de
formação religiosa, moral e ética nos cursos ligados à Igreja Católica. Sem provas, os agentes acusavam e manchavam a reputação dos acusados. Para piorar, o ônus da
prova - que deveria caber aos acusadores – acabava caindo sobre os “implicados”
que tinham (têm) que mover mundos e fundos para se defender. A propósito, temos visto muitos esse filme, nos últimos tempos.
Infelizmente,
tal estrutura de pensamento perdura até hoje, em maior ou menor grau em
todo o país. A herança deixada se enraizou no nosso sistema policial e
político e os que defendem a justiça são vistos como “perturbadores da
ordem e/ou subversivos”. A considerar tudo isso, Jesus pode ser considerado o
maior revolucionário que já existiu, pois ele pretendia mudar totalmente o status quo da época, pregando um mundo
justo de amor, fraternidade, caridade, tolerância e respeito entre todas as
raças e entre os diferentes. Precisamos,
com urgência, compreender que o diferente não é, necessariamente,
um adversário; é, apenas, diferente. Ou não?
Outro fato bastante comum no
período pesquisado são as tais denúncias anônimas, atividade sobre a qual me eximo de uma análise mais profunda, por absoluta incapacidade de entendimento, naqueles casos. Salvo em situações especiais (porte de drogas, maus tratos, violência, pedofilia, etc), e-mails, telegramas, cartas, comentários anônimos em
blogs, jornais e revistas não me convencem. Passam a impressão de alguém que não assume o que pensa e fala, atitude que parece andar de mãos dadas com sentimentos como ódio e medo, atitude de quem não tem
argumentos ou certeza do que diz, mas quer denegrir o outro, prejudicar o
“diferente” e destruir aquilo que teme.
Outro hábito típico do período era rotular vários indivíduos como “esquerdistas”, em tom pejorativo e de nítido desprezo, demonstrando
seu desconhecimento e preconceito. A própria Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências
teve membros arrolados nos documentos pesquisados como “envolvidos” e “suspeitos”, motivo que levou o autor a iniciar suas
pesquisas e a usar o termo “flerte” da Academia com o regime
militar.
Bem, o que vemos na história é que, via de regra, Academias de Letras são entidades conservadoras. Preservam a memória, sim; no entanto, deveriam cumprir mais seu papel fundamental - ser um foco de cultura, divulgar o conhecimento, que inclui a riqueza da diversidade cultural - erudita, popular e de massas - e difundir valores
eternos como a justiça social, entre outros. Hélio Jaguaribe, cientista político, em seu
discurso de posse na ABL destacou ser justamente esse o papel das Academias.
Espero que a leitura deste livro desperte corações e
mentes para lutarmos contra nossos preconceitos, apriorismos e paranoias, mas também, e principalmente, aguçar nosso discernimento para não cairmos em falsas narrativas.
Referências:
José Roberto Sales: <sales.jr@bol.com.br>
Academia Varginhense de Letras, Artes e Ciências-AVLAC:
<academiavarginhensedeletras@bol.com.br>