sábado, 13 de junho de 2015

Cultura & Tradição: YES, nós temos festas juninas!

Adoro festas juninas; se pudesse iria a todas. Como professora de inglês, sempre conversava com os alunos sobre feriados e comemorações de outros países. Mas nada se assemelha à alegria simples, genuína e contagiante das festas juninas por todo o Brasil. Nada. 
A origem dessa comemoração vem do hemisfério norte, há muito tempo, quando se festejava o início da preparação da terra para o plantio, em junho. No período de quase verão, os dias longos e quentes eram ideais para o plantio e, segundo a crença, os rituais garantiam bom clima e colheita farta. Mais tarde, nos países europeus católicos, as principais celebrações pagãs foram incorporadas ao calendário das festas da Igreja. 
Primeiro veio São João. A partir do século VI, o dia 24 de junho foi reservado para comemorar São João Batista. Era a festa joanina. Para justificar o uso da fogueira e dos fogos, conta-se que Santa Isabel teria acendido uma fogueira para avisar Maria – sua prima – do nascimento de filho João Batista. Bem mais tarde, foram incorporados aos festejos os dias de Santo Antônio de Pádua, 13 de junho, e São Pedro, 29 de junho.  
No Brasil, a tradição trazida pelos portugueses coincidia com os rituais de fertilidade e preparação da terra realizados pelos povos indígenas. Preservado o costume, as comemorações transformaram-se em uma das festas mais esperadas pela população. 
Com o tempo, sortes, jogos e brincadeiras foram incorporados às festas: adivinhações, simpatias para arrumar casamento, crendices, 'puxada' do mastro, correio elegante, pau de sebo, bandeirinhas coloridas, fogueira, etc. O mastro leva em seu topo uma bandeira, em geral triangular, com a imagem dos três santos. São João era representado carregando uma ovelha; Santo Antônio, com o menino Jesus nos braços, ficou conhecido como "casamenteiro" e São Pedro, o guardião das portas do céu e protetor das viúvas e dos pescadores, trazia uma chave nas mãos. O espaço onde ocorriam os festejos é chamado de arraial, menção aos antigos vilarejos brasileiros. 
Mas não há festa junina que se preze sem a dança da quadrilha, cuja origem remonta aos celtas e sua “country dance”,  em um Reino Unido já cristianizado. Mais tarde, a dança se espalhou pela França, como “contredance” ou quadrille e era dançada pela nobreza europeia nos salões franceses do século 18. Com a vinda da corte de Dom João VI ao Brasil, em 1808, a dança foi incorporada às nossas festas, tanto que a maioria dos comandos deriva do francês: • Balancê (Balancer): casais dançando juntos e balançando no lugar; • Cumprimento; anavan; tu (en avant; tout): homens e mulheres cumprimentam-se; • Anarriê (En arrière): homens e mulheres voltam a seus lugares.  
À alegria simples e espontânea das festas, da música e das danças, junta-se a delícia dos quitutes típicos: milho cozido ou assado, pamonha, curau, canjica, broa e bolo de milho, cuscuz, pipoca, além de arroz doce, amendoim torrado, pé de moleque, pinhão, cocada, quentão, vinho quente, batata doce assada e muito, muito mais. Tudo organizado em pequenos ou grandes 'arraiais'. 
No Brasil, as maiores festas ocorrem em Campina Grande (Paraíba) e Caruaru (Pernambuco).  No Nordeste, ainda é comum a presença dos grupos festeiros, que ficam andando e cantando pelas ruas das cidades, comendo o que os moradores lhes oferecem nas janelas e varandas. No Sudeste  são mais tradicionais as quermesses e suas famosas barraquinhas, com comidas típicas e jogos, em igrejas, colégios, agremiações, clubes e empresas.
Uma tradição que me faz lembrar da época de criança, quando ia com minha avó italiana Rosária Marino à igreja, era o “pãozinho de Santo Antônio”, distribuído pelas igrejas católicas, no dia 13 de junho, para que nunca faltasse alimento naquele lar.  
  
E mais uma coisinha: eu bem que tentei, mas não resisti e resolvi colocar aqui também uma informação linguística. Vocês sabem o que significa comemoração? O termo ‘comemorar’ junta o prefixo latino "co" (redução de "com") com "memorar" que significa trazer à memória, lembrar. Ou seja, trata-se de lembrar  fatos importantes da nossa tradição e identidade com outros. 
Que nos lembremos sempre de comemorar nossas ricas tradições culturais; de valorizar e preservar nossas festas juninas, essa tradição alegre, simples e genuína, esse tesouro insubstituível da riquíssima diversidade cultural de nosso país.    
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Como ilustração sonora, quis trazer um vídeo de algumas canções que ainda povoam a memória das festas juninas da minha infância. Naturalizado brasileiro, o compositor italiano Mário Zan (1920-2006) veio para o Brasil ainda criança e logo começou a estudar acordeão (sanfona ou harmônica). Chegou a ser chamado de 'O Rei da Sanfona', por ninguém menos que Luiz Gonzaga. Mário Zan é autor de diversas canções que embalam nossas quadrilhas e festas das noites de junho, como Quadrilha Completa, Balão Bonito, Noites de Junho, Pula a Fogueira, entre outras. 
Vídeo: Pedro, Antônio e João / Noites de Junho /... - Festa Junina - Mario Zan e Sua Banda e Coro. O vídeo foi publicado em 26 de out de 2013.  Você vai ouvir: Pedro, Antônio e João / Noites de Junho / Cai Cai Balão / Capelinha de Melão. Um privilégio! https://www.youtube.com/watch?v=XsfBmXC9QCY    
Pedro, Antônio e João | De: Benedito Lacerda e Oswaldo Santiago
Com a filha de João, Antônio ia se casar...
Mas Pedro fugiu com a noiva, na hora de ir para o altar.
A fogueira está queimando, o balão está subindo...
Antonio estava chorando e Pedro estava fugindo
E no fim dessa história, ao apagar-se a fogueira,
João consolava Antônio que caiu na bebedeira.  

3 comentários:

  1. Que legal, amiga. Nao sabia que gostava de festa junina.Mais legal foi saber que quadrilha originou-se dos celtas. Gostei. Bjs
    Ione

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  2. Anita to aqui visitando seu Blog. Muito legal, gostei muito da matéria sobre Elis Regina, a imortal. Beijos pra voce cunhada, e vou seguir seu rastro aqui . Até.

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  3. Oi Anita sua materia sobre Elis remeter a gente ao passado. Elis é imortal. Parabéns. Beijos Angela Alves.

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