sexta-feira, 7 de março de 2025

Ecos Culturais | Parque Solar de Cunha

 

Um lugar especial e temático que une beleza, natureza, conhecimento e ciência. Trata-se do recém-inaugurado Parque Solar de Cunha/SP que, ao longo de uma trilha de 550 metros, nos fala da formação da Terra e do surgimento da vida. Num cenário de natureza exuberante e que favorece a introspecção e a contemplação, o Parque Solar já é sucesso entre astrônomos, ambientalistas, geógrafos e demais interessados na história da Terra e do ser humano.  

 

O Portal do Visitante marca o início do percurso com o “passômetro”, mostrando a correspondência entre cada passo do visitante e os milhões de anos da Terra. Recheada com belas vistas do entorno, a trilha também nos informa sobre a evolução do globo, surgimento da atmosfera, dos continentes, dos organismos unicelulares e pluricelulares, plantas, peixes, anfíbios, dinossauros e, há pouquíssimo tempo, do ser humano.


No final da trilha, a 1.320 metros de altitude, a Praça do Sol e as últimas placas marcando o surgimento do gênero humano. O visitante é  convidado a parar e contemplar; a entender os movimentos terrestres, localizar os pontos cardeais, a trajetória do sol ao longo do dia e do ano. Um relógio solar, uma rosa dos ventos, um círculo de azimutes e seis obeliscos compõem a praça, além da paisagem de 360 graus das montanhas e serras do entorno: Quebra-Cangalha, Serra do Mar, Bocaina e Mantiqueira.    

É um percurso propício ao encantamento e à reflexão, uma maravilhosa e didática viagem no tempo, mostrando o longo processo de formação do nosso globo e da vida, até hoje. E uma triste constatação - a de perceber que o ser humano, apesar de há tão pouco tempo por aqui, já causou tantos estragos à nossa casa planetária... De qualquer forma, sempre é tempo de conhecer, reconhecer e mudar de rota. É o que o Parque Solar de Cunha tenta mostrar, por ser um chamado ao conhecimento e à consciência ambiental. Mais que isso, é a concretização de um sonho de mais de dez anos do engenheiro florestal Roberto Starzynski.  


Parabéns ao criador desse belo projeto pela visão de passado e de futuro, pelo esforço, disponibilidade e entusiasmo em nos mostrar o nosso caminhar. E, sobretudo, para que tomemos consciência do nosso papel no conjunto da obra. Logo, logo, o local será outro ponto turístico obrigatório em Cunha. Para mim, já é. Vida longa e bela ao Parque Solar de Cunha!

Todas as fotos de: Anita Di Marco  

Referências

www.parquesolardecunhasp.com.br

https://www.parquesolarcunhasp.com.br/not%C3%ADcias

@parquesolarcunhasp 

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Ecos Linguísticos | Italianidade


Toda língua tem centenas e centenas de termos que constituem seu léxico e, evidentemente, sendo línguas vivas, elas mudam: palavras são acrescentadas, algumas ficam esquecidas, outras caem em desuso e assim por diante. Outros termos, no entanto, são sempre agradáveis aos ouvidos na forma de falar, na escrita ou pelo próprio significado, estejam ou não em uso. Despertam algo no ouvinte - riso, alegria, estranheza. Enfim, intrigam, inspiram, comovem e divertem.

No meu caso, a língua italiana, em particular, faz bem aos meus ouvidos, ao meu coração e alguns termos até me fazem sorrir e querer repeti-los de boca cheia: “comunque” (de qualquer forma), secondo me (a meu ver), cocodrillo (crocodilo), o tal addirittura (realmente, de fato), o “dai, forza” (vamos lá, força), o “sono distrutto” (estou cansadíssimo, exausto), o "sbrigatti” (se apresse), o tão falado "ormai" (nesse momento, nesse ponto), o peculiar "bóh" (não sei, não entendo), "allora" (então, portanto), o assustador "spiffero" (vento encanado), "chiacchera" (tagarelice), "che puzza" (que fedor) e outros tantos. Não sei bem o porquê, mas gosto de como eles soam, gosto de pronunciá-los e sempre me pego sorrindo ao ouvi-los...E claro, sempre me pego falando com as mãos.

Bom, talvez seja porque a língua italiana sempre esteve por perto. Meus avós paternos eram italianos, da Calábria, o que levou muitos amigos a apelidarem meu pai e eu (carinhosamente, quero crer!) de “calabreses”... Diziam que éramos bravos, exaltados! Eu, hein? Ainda bem que a gente muda um pouco, certo?

Dante Alighieri
Bom, o fato é que, desde cedo, convivi com meus avós falando mezzo portoguese, mezzo italiano e, é claro, no mais das vezes, no dialeto deles. Com isso, acabei aprendendo muitos desses termos diferentes do italiano padrão. Quando fiz o curso regular de língua italiana, mais de uma vez a professora me chamou a atenção dizendo que eu não falava a língua culta, mas expressões dialetales. Aos poucos, fui aprendendo a me expressar – falar e escrever – “corretamente” - na língua de Dante. Ora, mas não se pode esquecer que a língua viva, a que perdura, é a dos falantes, não? 


Bem, terminada a faculdade, fui fazer uma pós-graduação em patrimônio histórico, em Roma. Era um curso internacional ligado à Unesco, portanto, era todo em inglês, embora no dia a dia, fora da sala de aula, falássemos em italiano, ao menos a maioria de nós. Sempre atenta às línguas, eu notava diferença entre os falantes, não só estrangeiros, com seus diversos sotaques, mas também entre os próprios italianos. Em Florença, por exemplo, o "C" era aspirado), diferentemente de Roma, Veneza ou Nápoles. Mas no final, todos se entendiam. É como aqui no Brasil: todos falam português, mas cada região tem formas próprias e termos característicos e próprios. E, convenhamos, um país de dimensões continentais como o nosso, onde todos se entendem e falam a mesma língua é um presente e quase uma exceção!

Fato é que, depois de quase um ano lá, falando, ouvindo e lendo italiano diariamente, até houve uma discussão acalorada entre os participantes do curso sobre algumas escolhas em certo projeto de restauro. Foi muito bom me perceber discutindo em outra língua já que meu italiano estava tinindo; tanto é que, na volta ao Brasil, quando eu já trabalhava na revista Projeto, a primeira revista de arquitetura do país, fui a um congresso entrevistar um arquiteto uruguaio. A intenção era entrevistá-lo em espanhol, evidentemente. Quando dei por mim, lá pelas tantas, ele e eu estávamos falando em italiano. Começamos a rir e continuamos nesse idioma. Ele morava no Uruguai havia alguns anos, mas era nascido na Itália e, ao perceber que eu mudara, sem perceber, do espanhol para o italiano, ele apenas me acompanhou. Gentilíssimo, não?

No frigir dos ovos, eu, que falava espanhol (ainda que pouco), a partir daquele dia, não consegui mais falar a língua de Cervantes sem mudar, no meio da conversa, para o italiano....É como se a língua me chamasse e surgisse naturalmente... Amo! Por isso, sempre que posso, leio, ouço música e vejo filmes italianos. Claro e também fiz várias traduções do e para o italiano, para arquitetos, editoras e para o ICE - Italian Trade Agency. A propósito, há alguns dias, assisti a um belíssimo filme, na Netflix. Foi meio sem querer, estava zapeando e vi o título em italiano: Il treno dei bambini... Um filme lindo, triste, delicado e baseado em fatos reais. Recomendo!

Allora, mi dispiace, carissimi lettori, pero devo andare via. Grazie e alla prossima!

Referências

https://www.ice-sanpaolo.com.br/index2.php 

https://www.berlitz.com/es-us/blog/italiano

https://www.berlitz.com/es-us/blog/palabras-hermosas-en-italiano

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Ecos Urbanos | A cidade impermeabilizada

É impossível um cidadão consciente não se abalar com as cenas dramáticas de deslizamentos, enchentes, pessoas se agarrando a árvores ou postes, carros sendo levados pelas águas, sofás e geladeiras boiando, crianças sobre os móveis de casas alagadas, mortes etc., infelizmente imagens bem comuns nos últimos tempos. A crise climática chegou e não vai embora tão cedo e, como a maioria da população mundial vive em cidades, é preciso, de novo, de novo e de novo, lembrar de, além de um melhor e constante uso da tecnologia com sistemas de mapeamento, alerta e monitoramento, atitudes permanentes que podem ser tomadas por todos, sociedade e poder público sem exceção, além de possibilidades para driblar, mitigar ou interromper de vez esse doloroso processo a cada estação de chuvas:

Imagem: Divulgação

- Descartar e acondicionar, de forma adequada, o lixo (reciclável ou não) é a primeiríssima delas. As imagens recentes de “rios de lixo”, literalmente falando, não nos deixam dúvidas da importância desse simples ato de civilidade e boa convivência; quando não boia criando essas cenas chocantes, o lixo se deposita no fundo dos córregos e diminui o espaço de vazão das águas;

- Interromper/punir o desmatamento e a ocupação das várzeas, áreas naturais de espraiamento das águas de rios e córregos;

- Desocupar áreas de risco, aumentar a fiscalização e fazer cumprir a lei no que tange à ocupação irregular de locais indevidos como áreas de preservação permanente, escarpas, beira de córregos, rios, represas, baixadas etc. Afinal, o rio corre para o mar, então, é óbvio que as águas de chuva vão se acumular nas baixadas;

- Planejar e investir em políticas públicas efetivas destinadas a diminuir o déficit habitacional, designando locais adequados para construção dos imóveis (há anos, arquitetos falam disso);

- Priorizar políticas sérias que visem ao adensamento razoável das cidades, em oposição à infindável e enganosa expansão urbana;  

- Esclarecer a população em geral quanto à necessidade imperiosa de diminuir a impermeabilização das cidades e das nossas casas (áreas como quintais e jardins, por exemplo);

- Criar cidades esponja, parques alagáveis, jardins de chuva, piscinões, corredores verdes, parques lineares etc, tornando as cidades mais porosas (leia aqui); 

- Proteger as matas ciliares existentes e implantar mais áreas verdes, pois árvores limpam o ar, diminuem os ventos e o calor, permitem absorção da água da chuva no solo, o que alimenta o lençol freático, entre outros benefícios;

- Modificar os materiais empregados na pavimentação de ruas, utilizando pisos ecológicos e drenantes, inclusive em calçadas e calçadões;

- Investir em pesquisas (sempre e mais) em materiais alternativos ao típico asfalto, material impermeável, sujeito às variações do preço do petróleo e à radiação solar, aumentando, portanto, o calor nas cidades;

- Enfim ouvir, educar-se, educar a sociedade, compreender e atender aos pedidos de socorro da mãe Terra.  

No que se refere à pavimentação, por exemplo, basta lembrar das ruas com os simpáticos paralelepípedos, usados desde os romanos. Assentados sobre areia ou pedriscos, sem cimento, esses blocos de pedra têm um espaço de 1 a 2 cm entre eles, o que facilita a absorção da água no solo, favorecendo o escoamento e prevenindo enchentes.

Outra opção seria o uso de asfalto ecológico (vale a pesquisa), ou mesmo piso de concreto, a exemplo de várias cidades do Nordeste, como Fortaleza e Salvador. Embora o custo inicial de implantação seja mais alto, a longo prazo a opção vale a pena, já que pisos de concreto são mais resistentes, se desgastam menos com o tempo, requerem menos manutenção, absorvem menos a radiação de calor e melhoram a iluminação das vias no período noturno, como explica Iuri Bessa, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e como mostram vários artigos dos boletins da  Votorantim Cimentos (Mapa da Obra) e o da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), entre outros.
 

Ana Gabriela Saraiva, representante regional da ABCP e professora do curso de Engenharia de Produção Civil da UNEB, por exemplo, destaca várias ações para transformar a paisagem urbana e criar espaços seguros e agradáveis para todos, dentre eles a pavimentação de vias públicas e os sistemas de drenagem, priorizando ações à base de cimento para melhorar o desempenho, a durabilidade das soluções propostas e a questão de sustentabilidade. Hoje, é sabido que muitas indústrias e cimenteiras estão preocupadas com questões ambientais e aplicam essas soluções em seu processo produtivo.  

Evidentemente, é preciso pesquisa antes da tomada de decisão, mas o sistema viário e sua pavimentação são itens cruciais no planejamento urbano de qualquer cidade que vise ajustar-se aos novos tempos de grandes mudanças climáticas. Tudo para ontem, é claro!

Referências

https://www.mapadaobra.com.br/calendario/pavimento-urbano-concreto/

https://www.linkedin.com/posts/pavimento-de-concreto_pavimento-de-concreto-%C3%A9-usado-na-br-163-activity-7117532109992333312-mld8/?originalSubdomain=pt

https://www.instagram.com/p/DExjJC0tXIG/?img_index=1&igsh=bjl4NW16ZTFqeXgz

www.solucoesparacidades.com.br

https://abcp.org.br/solucoes-para-cidades-alternativas-em-concreto-sao-excelentes-opcoes-e-adequadas-para-climas-quentes-e-chuvosos/

https://summitmobilidade.estadao.com.br/guia-do-transporte-urbano/conheca-as-3-principais-opcoes-de-pavimentacao-de-vias-publicas/  

https://ecotelhado.com/blog/prevencao-de-enchentes-o-que-fazer-em-grandes-centros/