Os três crivos de Sócrates. Imagem: www.andancaespirita.com |
Quando o grande filósofo, linguista, semiólogo e tradutor
italiano Umberto Eco disse que a internet havia dado voz a uma multidão de
imbecis, houve uma tremenda gritaria porque ninguém sequer admite a
possibilidade de se enganar, de não saber tudo, de ser considerado imbecil, ou
ingênuo, ou desinformado, ou manipulado, ou longe da verdade.
Bem, não queria que fosse assim; queria uma rede de qualidade,
onde todos pudessem, respeitando opiniões divergentes, compartilhar suas posições, mas com conteúdo e argumentos sólidos, com pontos
de vista raciocinados, revisados, repensados e comparados com outros, fundamentados em uma reflexão de abrangência e dimensões históricas. Essa a rede
que eu queria, uma rede de trocas, questionamentos e reflexão onde se pudesse,
de fato, exercitar o pensamento crítico. Afinal, é preciso ter responsabilidade com aquilo que sai de nossa boca e de nossa pena.
Cada dia mais, no entanto, o que vemos são lugares comuns vindos
sabe-se lá de onde, repetidos ad nauseam,
comentários e palpites acirrados e superficiais, rótulos desrespeitosos e raivosos,
acusações e condenações sumárias antes de qualquer prova, grosserias e agressões
inimagináveis, desejos mórbidos inconfessáveis, xingamentos seletivos, gestos
obscenos, figurinhas humilhantes e palavrões inomináveis, com altas doses de
irresponsabilidade, desconhecimento, preconceito e ódio. Para mim, parecem ser ‘achismos’ de pessoas sem
educação, sem noção de civilidade, sem fundamentação histórica, sem
conteúdo, sem compromisso com o bem comum, mas não necessariamente sem
escolarização.
Esse tipo de ‘achismo’ faz muito mal a todos nós: ao outro, ao
grupo, à cidade, ao país, ao planeta Terra e, principalmente, àquele que emitiu
tal pensamento. São ondas invisíveis que ficam no ar, exalando um hálito mental muito pesado e bastante prejudicial a todos, sem exceção. O ser humano é
mestre em falar do outro e ‘apontar o cisco no olho do outro’,
mas nunca aponta para si mesmo, nunca questiona seus pensamentos, palavras e
atitudes cotidianas para retirar a trave de seus próprios olhos. Parece ter sido proferida
em vão, a antiga fórmula sagrada, mágica e infalível de colocar-se no lugar do
outro e não fazer a ele o que não queremos para nós. Ou, como Gandhi
dizia: ‘devemos ser a mudança que queremos ver no mundo’. A mudança, portanto, começa em cada
um.
Não que a gente não deva se indignar com desonestidade, engodo, manipulação, hipocrisia e corrupção, venha de onde vier. Culpados devem ser identificados, julgados e punidos, sim, sempre. Mas, replicar na rede comentários isolados, nem sempre comprovados, escritos sem amplo conhecimento de fatos e situações e com tal
nível de exaltação rancorosa, pega muito mal e fica feio.
É triste, muito triste perceber o que alguns trazem na cabeça e no
coração!
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