quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Ecos Linguísticos | A boa e velha língua portuguesa



Amigos queridos (e muito generosos) elogiaram os posts do Anita Plural em que falo sobre a língua portuguesa, nossa flor do Lácio, e me pediram uma sequência daqueles dois posts (Ver aqui e aqui). O fato é que muitos veem, leem e ouvem determinados termos em algum lugar e, sabe-se lá por quais motivos, continuam utilizando esses termos de forma acrítica, o que faz com que alguns erros se perpetuem e acabem correndo o risco de virar verdade (como algumas “notícias”). Aqui, não posso deixar de tirar meu chapéu à excelente e certeira previsão de Umberto Eco, sobre como a internet deu espaço a uma legião de imbecis... 
Enfim, alguns desses novos termos acabam sendo incorporados ao dia a dia das pessoas, ao mesmo tempo em que outros caem em desuso já que as línguas são vivas e, portanto, sujeitas à modificações e adaptações. Em todo caso, não se deve reduzir tudo à simplista discussão de certo ou errado, mas fiz, então, uma nova lista de palavras e expressões que devemos esquecer... em prol de nossa sanidade linguística. 

1 - Imexível: os mais jovens provavelmente não se lembram de um certo ministro da era Collor que criou o termo acima, ao referir-se a si próprio como permanente no cargo que então ocupava. Aliás, ninguém é nada, todos estamos, concordam? Em um cargo, posição ou situação por um certo período de tempo, do qual iremos prestar contas. Mas, apesar da fala do ministro, o termo imexível não existe, está bem?

2 - Correr risco de vida (ou de morte). Na pressa, um indivíduo pode ter sentido medo de que alguém estivesse correndo o risco de perder a vida e, na pressa, suprimiu o “perder a”. Pronto! E todos caíram matando em cima do sujeito. Afinal, corre-se algum tipo de risco em situações perigosas, ruins. Por exemplo, corre-se o risco de morrer, de sofrer um acidente, de perder alguém querido, de ser demitido, de se machucar, certo? Nunca há risco de se conseguir coisas boas, há possibilidades de alcançá-las. Mas, hoje, a nossa língua já incorporou esse uso e as duas formas são consideradas corretas: 'risco de vida' e ‘risco de morte’.   

3 - Anexo ou em anexo. Bom, se o documento é enviado junto com o e-mail ou com uma carta, o tal documento é o anexo (algo que foi anexado). Não é necessário dizer, portanto seguir “em anexo”, expressão considerada errada por muitos gramáticos. Use: a carta segue anexa; os documentos foram anexados
Outra acepção refere-se a uma edificação ligada a outra: Há pouco tempo, construíram um anexo para o hotel.   

4 - Incluir (fora dessa). A tal expressão ‘me inclua fora dessa’ já deu pano para manga, não é mesmo? É importante verificar se o que falamos tem sentido. O verbo incluir, por exemplo, não combina com 'fora'. Quem inclui, insere, agrega, acrescenta ou coloca dentro de um local, de um texto, de um grupo, de uma equipe. Portanto, inclua o verbo incluir em sua listinha de termos que merecem bastante atenção, está bem?

5 - Ir ao encontro de / de encontro a. Se algo vier ao seu encontro, você pode ficar satisfeito, porque houve concordância e harmonia. 
Agora, se algo vier de encontro a você, pule fora e acautele-se porque aí vem bomba. De encontro a significa oposição, algo em sentido contrário! Entendeu?

6 - Onde e Aonde. Duas formas e dois usos. Onde indica permanência: Onde você mora? Onde está o livro?

Aonde significa ‘para onde’ e é usado com verbos de movimento: Aonde iremos esta noite?

7 - Haver e a ver. O verbo haver é sinônimo de existir: Deve haver/ existir uma forma mais fácil de explicar isso
O exemplo não tem nada a ver (não está relacionado) com o que foi mostrado. Devidamente entendido?

8 - Atoa e à toa.  Atoa não existe. O correto é usar sempre à toa, separado e com crase no a. À toa significa sem razão especial, sem motivo, sem ter o que fazer, ao acaso: Ficou uns três dias à toa e desperdiçou um valioso tempo. Perguntei à toa, sem nenhum interesse. 

9 - Senão e se não. Senão indica ‘a não ser’, ‘caso contrário’. Exemplos: Está bem, pode vir, senão você vai se lamentar até amanhã.  
Se não (separado) é conjunção condicional ‘se’ e o advérbio ‘não’ e, portanto, indica uma condição: Se não chover, iremos à praia.

10 - Acerca de e a cerca de. Em outro post, já falei sobre a diferença entre o afim (semelhante) e o a fim de (finalidade)... São termos diferentes, com usos diferentes. ‘Acerca de’ significa a respeito de, sobre. Exemplo: Eles adoram discutir acerca das novas teorias.  
 A cerca de, por sua vez, indica distância, proximidade: Eles moram a cerca de dois quilômetros da  escola.

11 – Onde e em que: Muitas pessoas usam ‘onde’ em suas falas quando, na verdade, deveriam usar pronomes relativos (em que, no qual, nos quais)... Onde é usado para expressar ideia de lugar, como no exemplo: De onde ele estava, não conseguia ver todo o campo. Do lugar onde ele estava, não via todo o campo
Quando não for esse o caso, use pronomes relativos: Aquele era o momento em que todos se levantaram e aplaudiram o palestrante.

12 - Menos ou menas. Convenhamos, sempre que ouço um ‘menas’ (e não são poucas vezes), meu ouvido chega a doer. O termo não existe, nunca existiu e não existirá jamais, por mais dinâmica que seja a língua. 
Menos significa em quantidade menor, é advérbio invariável. Assim, pode-se usar tanto com palavras femininas como com palavras masculinas. O tal menos dá conta do recado, está bem? Exemplos: Há menos maçãs aqui do que peras.  
 Menos, então, pessoal, muito menos! Até a próxima! 

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