domingo, 1 de dezembro de 2019

Ecos Urbanos | Pisos das cidades


Calçadas, SP. Foto: Anita Di Marco
Um ato tão elementar como caminhar, infelizmente, parece ter virado atividade de risco nas nossas cidades e por vários motivos: velocidade excessiva de veículos, em geral; motoristas e motociclistas que desrespeitam as faixas de pedestres e a sinalização viária; pedestres atravessando fora das faixas; veículos estacionados em locais impróprios; qualidade duvidosa dos pisos e por aí vai. 
Bom, isso só para falar de ruas e avenidas. Nos espaços públicos, praças e calçadas ainda é possível caminhar com certa tranquilidade, certo? Errado. No mais das vezes, as calçadas por exemplo, quando existem, estão arrebentadas, sem calçamento e sem manutenção, com saliências, degraus e inclinações absurdas, com lixeiras, postes de sinalização, placas e outros objetos estranhos (copos, garrafas, tampinhas, papéis, vidro, sacos e copos plásticos etc). Parece brincadeira, mas não é. É só dar uma volta a pé pelas cidades e contar os obstáculos, dificultando a acessibilidade e a mobilidade do cidadão.

Calçadas, Sevilha. Foto: Anita Di Marco
Em geral, as pessoas, inclusive autoridades públicas e profissionais de arquitetura e urbanismo, voltam de viagens ao exterior encantadas com as soluções urbanas observadas lá fora. Então, por que adiar o que já deveria estar pronto, há tempos? Até quando comprarão livros e mais livros de urbanismo sustentável e para pessoas, mas continuarão a negar, ao cidadão comum, o direito de ir e vir em segurança, em ambientes agradáveis, amplos e seguros? 
Quer um exemplo simples? Calçadas, de novo. Um piso padronizado garante aquela sensação de continuidade e amplidão que todos apreciam. Em lugares assim, percebe-se algo que acalma e acaricia a alma: o cidadão se sente acolhido, respeitado e convidado a caminhar. A razão é dada pelo  piso, mas também pelo mobiliário urbano, iluminação e cuidado das autoridades com o espaço público. Afinal, padronização das calçadas e readequação da sinalização e do mobiliário urbano são estratégias fáceis de colocar em prática e essenciais para essa sensação.

Hoje, com o adensamento urbano e a intensa ocupação do solo, soluções sustentáveis estão cada vez mais em alta para garantir uma maior qualidade de vida. E tudo é uma questão de projeto, mas... como anda o projeto de nossos espaços públicos? Em termos de pisos,  por exemplo, há os antiderrapantes, porosos e de concreto permeável, portanto, feitos para corrigir, de certa forma, a  impermeabilização do solo urbano, diminuindo o rápido acúmulo de água na superfície do piso. São soluções com impacto ambiental positivo: não vão reter água de chuva e funcionam como parte inicial do sistema de drenagem de águas. E, mais, são regulares, facilitam o caminhar das pessoas e trazem a tal sensação de amplidão.

Aveiro, Portugal. Foto: Anita Di Marco
Mais do que cumprir a lei, cuidar de suas cidades, construir e manter calçadas seguras e confortáveis é dever de todos. É um exercício de cidadania e uma demonstração de civilidade. Muitas prefeituras
já dispõem de uma lei que, na teoria, exige do proprietário do lote o dever de cuidar de sua calçada. Pois bem, poderiam começar a exigir tal tipo de piso, não só
por seu caráter sustentável, mas também pela sensação de uniformidade que traria aos espaços públicos. As cidades ficariam mais agradáveis para os olhos e para os pés. Que tal?

Referências
https://anitadimarco.blogspot.com/2016/05/reflexao-urbanistica-cidade-minha-cidade.html

8 comentários:

  1. Anita, as calçadas de Portugal são lindas. Mas já levei alguns tombos naquelas pedras do "piso português", até quando não estava chovendo... Para gente da terceira idade como nós, recomendo apreciar os calçamentos com muito vagar, pela beleza, e pela segurança...

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    1. Sim, são lindíssimas; nunca caí, mas cheguei a escorregar naquelas que têm calçamento tipo pé de moleque, como em Coimbra. Mas andei numa boa nas de mosaico português. Mas as outras fotos mostram Sevilha e aí, sim, com grandes áreas e pisos regulares. Muito melhor, né? Beijo e obrigada por aparecer. Volte sempre.

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  2. Anita,minha capital Goiânia é tão bonita quando ficamos com os olhos para o alto.O contracenso acontece quando baixamos os olhos para o chão. As calçadas são uma desolação! E escondem perigos imagináveis. De que adianta colocar flor na praça e pintar a guia se o caminho é infame!O dinheiro se vai em altíssimos impostos e trabalho por fazer. Olho com tristeza e raiva o total descaso pelo público. Por tudo aquilo que pertence ao povo.

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    1. OI Valéria, sim, é verdade... o descaso é muito grande... Enquanto não priorizarmos a educação e vivermos isso, nada muda... obrigada, querida. volte sempre, um beijo
      Anita

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  3. Muito bom! Tantas quedas, tantos acidentes poderiam ser evitados se o calçamento fosse bem conservado...! Imagine quantos idosos não deixam de sair de casa por medo de cair na rua? Com esses pisos horriveis a qualidade de vida diminui para todos, mesmo para quem não cai. Aqueles que não caem é porque evitam sair :(

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  4. Sim, Telma, exatamente. aí as pessoas viajam e amam as grandes calçadas, os pisos seguros, as praças bem cuidadas.... Não seria óbvio fazer isso aqui? Mas parece que o cidadão comum não tem merecido o menor respeito dos nossos governantes...
    obrigada, querida! Apareça sempre, bjs

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  5. Essa reflexão que você propôs, Anita, vale tanto a pena se dedicar. Passeios, para nós mineiros (rs), é aquela parte do terreno feita e dedicada ao outro, seja quem for, conhecido ou não, criança ou idoso, com ou sem restrições de mobilidade. Será que a situação nas calçadas não só uma exteriorização do cuidado que temos dedicado ao próximo?

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    1. Pois é, meu amigo. É uma falta de respeito, de consideração, é um egoísmo tamanho, que, realmente, não sei onde vamos parar... Ainda bem que há pessoas lúcidas. Obrigada pela participação. Abs
      Anita

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