quarta-feira, 22 de abril de 2020

Ecos Humanos | O sabático



Pausas são necessárias em qualquer atividade: trabalho, estudos, diversão, música, jogos. Na vida comum, há momentos em que tudo parece perder o sentido, em que valores nos quais sempre acreditamos parecem dissolver-se no ar, em que individualismo, hipocrisia e obscurantismo empurram o indivíduo consciente para descrença, desânimo e solidão. Nessas situações, a pausa é essencial para buscar o equilíbrio perdido. Nossa ação, qualquer que seja, tem influência no mundo e, se o indivíduo tiver consciência disso, ele vai dar uma pausa, respirar fundo e tentar achar um ponto de equilíbrio no meio do furacão, como sabiamente pregam o I Ching, o Yoga, o Budismo, o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduísmo, o Sufismo e todas as tradições espiritualistas. É preciso ser consciente, resiliente e corajoso.

Riobaldo-Tatarana, fazendeiro e ex-jagunço de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, dizia que “A vida quer é coragem...” Assim, não é isolando-se do mundo no alto da montanha, no deserto, tampouco no silêncio dos mausoléus que o indivíduo cresce. O deserto e a montanha simbolizam um período de recolhimento temporário para voltar à arena. Mas a luta se faz é aqui, no meio do caos, no fogo do cotidiano. Como no processo alquímico o fogo queima, separa e purifica. É aqui que é preciso parar, reafirmar a verdade interna, fortalecer a vontade, buscar resiliência e continuar a jornada. É aí que entra o período sabático, nem sempre por vontade própria. A situação atual do mundo é um desses momentos que acontecem por motivos alheios à nossa vontade, por imposição da Vida. É tempo de parar, recolher-se, refletir, ressignificar suas opções e transformar-se. 

O termo sabático vem do judaísmo, do período de descanso da terra e, hoje, do sétimo dia, depois de seis de trabalho, o Shabat Shalom. É uma pausa para descansar, agradecer e recuperar as energias, em todos os campos. Um "sabático", como aqui entendido, não tem duração fixa; pode ser um dia, uma semana, um mês, um ano. Depende do que a Vida nos pede. Mas é essencial, porque se não pararmos por conta própria, a Vida vem e nos obriga a parar. Não se pode ser individualista, consumista, alienado e ganancioso, apegado apenas ao seu mundinho; não dá para viver exalando preconceito, revolta e mágoa (má água).O preconceito embrutece e deturpa o entendimento, a revolta obscurece nossa visão das coisas, a mágoa adoece e envenena (primeiro a nós mesmos), criando doenças. É só uma questão de tempo. 

O mundo está dentro de nós. Se não mudarmos, nada muda, por isso é importante descobrir sua verdade e viver de acordo com ela.
- M. Gandhi


Assim, a luz vermelha acesa em nós mostra-nos que é momento de parar para descobrir o mestre interno. Buscar autoconhecimento e ficar vigilante, porque o mal ronda-nos o tempo todo e atua aos poucos, pelas bordas. Não se pode ceder a ele. É preciso fortalecer a vontade, ganhar resiliência e continuar, para e pelo bem do todo. Caso contrário, o mal terá vencido. A pausa (o sabático) pressupõe recolhimento, reflexão, gratidão pelo seu espaço, por aqueles que lhe permitem a pausa e empatia por quem não tem essa possibilidade. A pausa implica meditação e transformação efetiva e real, porque se a meditação não modifica nossa ação no mundo, de nada vale. 


Referências  
https://www.estudopratico.com.br/o-que-e-periodo-sabatico/

6 comentários:

  1. Parabéns por mais esse excelente artigo, Anita! Abraços

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  2. Romy, querida, há quanto tempo não nos falamos. Que bom que você acompanha o Anita Plural e que bom que comentou. Será sempre muito bem-vinda! Obrigada, meu bem. um beijo

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  3. Ah, como é bom uma paradinha para nós fortalecermos. Beijos

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  4. Um bálsamo para estes momentos. Resiliência, meditação. Muito bom este texto. Parabéns.

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