sexta-feira, 14 de abril de 2023

Ecos Imateriais | Analogias da vida

Em qualquer campo de conhecimento encontramos analogias para facilitar a compreensão, por semelhança, de algum conceito. A vida, por exemplo, é sempre comparada a um trem, a uma estrada, à subida de uma montanha... No fundo, todas têm o mesmo sentido: mostrar que estamos a caminho e que, um dia, chegaremos ao nosso destino. No trem, não sabemos qual será nossa estação e, enquanto isso, seguimos viagem, muitas vezes inconscientes da paisagem. Na estrada, é possível encontrar vários tropeços e o importante é saber a direção a seguir para não se perder  nos 'atrativos' e bifurcações do percurso. Ao escalar uma montanha, é preciso ter sempre em mente qual é a meta e prosseguir apesar das dificuldades; sob risco de não chegarmos ao topo.

Em especial, gosto da analogia que compara a vida a uma grande escola, na qual somos matriculados desde que nascemos, com o objetivo de completar nossa "formação", percorrer e superar todas as etapas, buscando autoconhecimento, maturidade emocional, equilíbrio entre vida pessoal, familiar, profissional, social e nosso papel no mundo. Quer tenhamos consciência ou não, cada fase ou experiência vivida traz lições a serem aprendidas, conteúdos que nos fazem crescer e avançar à etapa seguinte. Enquanto não soubermos determinada lição, teremos de repeti-la e repeti-la até aprender e, só então, passar à nova fase, até atingirmos a meta que a escola nos propõe. Em outras palavras, o aprendizado é contínuo, seja na área pessoal, profissional, emocional ou espiritual. 

Imagem: Wikicommons

Na escola (como na vida) cada escolha gera uma consequência – estudar, não estudar, dissimular, mentir, ter compromisso ou não, acolher ou não, rechaçar. Não se pode, impunemente, “faltar” à aula, gazetear, colar, “dar nó” nos professores. Na Escola da Vida nada disso funciona e cada um será sempre responsável por suas escolhas. Mas a escola nem sempre é fácil; tampouco a vida. Há disciplinas mais duras, testes mais difíceis, lições mais doloridas.... Ainda assim, é possível minimizar dissabores e focar nos aspectos positivos, tornando esse percurso mais leve, celebrando cada vitória, sorrindo mais, sendo grato aos professores e parceiros da caminhada, cuidando bem de si mesmo e do outro, e valorizando a oportunidade de estar nesta escola, já que tantos vão ficando pelo caminho... 

Ocorre que estamos aqui de passagem, porque a escola (como a vida) é temporária. Então, é melhor aprendermos o máximo que pudermos, para  avançar sem ter que repetir lições. E mais ainda, é preciso aproveitar  nosso tempo aqui para melhorar a "comunidade escolar", da qual fazemos parte e pela qual também somos responsáveis. Porém, mais do que o dever básico de cada um, que é dar o seu melhor e fazer o certo com ou sem plateia (o que não é motivo de aplauso, mas apenas o que se espera de uma pessoa  decente) é ir além, fazer mais pelo todo e deixar essa escola/vida melhor do que a encontramos quando aqui chegamos. Apenas quando cada indivíduo entender que seu objetivo é aprender a amar o todo e agir em prol do todo é que o percurso será mais leve. Fazer o bem, ter caráter, agir com integridade e coerência com o que pensa e prega, agir de forma compromissada, amorosa, ética, respeitosa e solidária para que todos tenham uma vida digna é nosso dever final aqui nesta imensa escola. 

Quando entendermos que ninguém é melhor do que ninguém; que a matéria de que somos feitos é a mesma; que somos iguais, porém diferentes (as diferenças entre cada ser humano - cor dos olhos, cabelo, feições - concentram-se em 0,01% do nosso DNA); que precisamos respeitar essas diferenças que nos enriquecem e trazem responsabilidade... Quando entendermos tudo isso, as lições serão mais fáceis, os resultados virão e toda a comunidade "escolar" será mais feliz. A maior lição já existe há mais de 2000 anos: orar, vigiar e fazer ao outro o que queremos que nos seja feito. A humanidade, porém, parece ainda estar no jardim da infância.

Mesmo assim não se deve desanimar. É preciso desenvolver a resiliência e agir a partir do entorno imediato: na família, na escola, no trabalho, no bairro. Seu exemplo servirá de inspiração a outros seres "humanos". Termino com uma frase do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861-1941), alguém muito humano que entendeu e concluiu com louvor sua passagem pela Escola da Vida quando disse: "Aquele que planta árvores, mesmo sabendo que nunca se sentará à sombra delas começou a entender a vida!"

12 comentários:

  1. Anita!
    Lindo texto, maduro, corajoso , reflexivo …está plantando uma árvore sem buscar imediatamente a sua sombra… obrigada.

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  2. Show!
    Daniel Barros Ortega

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    1. Obrigada, querido Daniel. Você sabe do que estou falando. Beijos

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  3. Uma bela reflexão temos muito que evoluir nas atitudes mais simples.

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  4. Prezada confreira. Seu texto faz-nos repensar nosso proceder
    Em minhas meditaçoes agradeço o amor de.meus entes queridos bem como a consideraçao de meus semelhantes e que eu nao os decepcione
    Jcamposr30@gmail.com

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  5. Um mergulho feito de sensibilidade e reflexão! Adorei o seu texto! ( Lilian Conde)

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  6. Selma Machado⚘Ah que delícia de leitura, minha Alma ♡ agradece ...

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    1. Obrigada, Selma, pelo comentário... Que a gente possa refletir todos os dias nisso, né? Para errar menos e caminhar melhor... Pergunta: por acaso, você é filha da Abigail? Abraços

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  7. Como este texto mexeu comigo…( Marly TIso)

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    1. Oi, Marli, acho que mexe com todo indivíduo consciente. Que bom! Sempre me ponho a pensar nisso. Grande beijo

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  8. Na Escola da Vida não há tempo para repetições! Portanto, é melhor fazer direito da primeira vez!

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