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Bandeira do Reino do Butão
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Um
país pequeno, pouco conhecido e situado no sopé da grande cordilheira do
Himalaia entre a Índia e a China, tem sido considerado um dos mais felizes do planeta. Sem
saída para o mar, sob uma monarquia constitucional, o pequeno reino do Butão
tem menos de 40 mil km2 e menos de um milhão de habitantes. A cordilheira do
Himalaia, a oeste e norte do país, é o grande destaque do relevo, criando uma topografia
acidentada com altos picos e vales encaixados. Assim, para o bem ou para o mal, o país foi sempre isolado e protegido pela cordilheira. A capital é Thimphu, o idioma
oficial é o dzonga e a moeda é o ngultrum. Com uma cultura rica e diversa,
o país tem no budismo tibetano sua principal religião. As cores da bandeira
representam sua prática: a espiritualidade (laranja) e a secularidade (amarelo). A taxa de
urbanização é menos de 44% e a maioria dos habitantes mora na zona rural.
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Na trilha Trans Butão. divulgação
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Com esse cenário de vales misteriosos, belas florestas, vilarejos escondidos,
fortalezas, mosteiros budistas, propriedades rurais tradicionais e plantações
de arroz, o Butão vem se transformando em atrativo turístico e, hoje, a
principal dúvida é se e quanto o país deve se abrir ao mundo
exterior, sobretudo com a recuperada Trilha
Trans Butão (TBT), uma rota de 400 km. Originalmente parte da Rota da Seda,
a trilha passa por 27 aldeias, 4 fortalezas/ monastérios, 12 passagens nas
montanhas e 21 templos.
Além disso, o país tem chamado a atenção
mundial por ter unido o ótimo ao bom em sua forma inovadora de melhorar o
nível de vida da população, integrando e respeitando a cultura, o meio ambiente
e, sobretudo, o bem-estar espiritual e material
dos butaneses. Para a monarquia, era preciso criar um índice que também levasse
em conta aspectos culturais,
espirituais, psicológicos e ambientais. Esse indicador, portanto, deveria avaliar,
não só o aspecto econômico, mas sobretudo focar no bem-estar humano, no uso dos
recursos naturais e no uso equilibrado do tempo. Sem dúvida, um
objetivo moldado pelo budismo, como mostra a própria constituição butanesa que, em seu no artigo 9, afirma: “O Estado deve esforçar-se para promover as condições que permitam a busca da Felicidade
Nacional Bruta”.
Assim, em uma admirável ousadia,
no ano em que ingressei na faculdade de arquitetura da USP, em 1972, o Butão criou, com o apoio do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD, seu
principal indicador, o chamado FIB - Felicidade Interna Bruta (Gross National Happinnes [GNH], na sigla em inglês), em contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB). Ao
priorizar a felicidade e o bem-estar da população, mais
que um indicador, o FIB é um catalisador e indutor de mudanças. Quando vistos por um ocidental, os pilares
que compõem esse índice podem parecer estranhos, mas são o que deveriam ser: boa governança, um sistema político
com transparência e medidas anticorrupção; desenvolvimento socioeconômico sustentável e
equitativo; promoção da cultura e
fortalecimento das tradições locais; preservação e conservação ambiental, numa
relação direta entre cidadãos e os meios naturais. Esses pilares articulam-se
em nove campos: padrão de vida (relacionado à segurança
financeira e à qualidade habitacional), educação e saúde (incluindo instalações e equipamentos, sem feudos), governança, cultura (tradições), vitalidade comunitária (sensação
de pertencimento e segurança na comunidade), resiliência
ecológica, uso equilibrado do tempo e bem-estar psicológico.
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Tiger's Nest, no Butão, construído no séc. 8
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Parece
um conto de fadas, não? Pois é a mais pura verdade. Acha pouco? Com sua
indústria hidrelétrica vital (maior fonte de exportação), parques
nacionais e florestas ocupando metade da área do país, o Butão conseguiu o
feito de reduzir as emissões de carbono a zero e de priorizar, no planejamento urbano e na arquitetura, a felicidade da população e o meio
ambiente. O
resultado é um dos países menos corruptos do mundo, que tem educação pública de qualidade,
acesso gratuito à saúde, analfabetismo inexistente, quase 100% de suas crianças na escola, acesso geral à água potável, reformulação de toda infraestrutura do país, economia em crescimento e aumento da expectativa de vida. Seus índices de desigualdade são baixos, a
pobreza (praticamente imperceptível) diminui ano a ano, o meio ambiente segue no
centro de tudo e os serviços urbanos – sistema viário e de mobilidade, uso do
espaço público e da natureza – são programados para atingir esse equilíbrio, convergindo
sempre para o bem-estar da população.
O
resultado desse investimento no ser humano foi o salto do FIB, em 2022, quase
atingindo 80% do total (FIB de 0,781) em uma
escala de 0 a 1. A propósito, um artigo de janeiro de 2023 do Correio Braziliense (ver
aqui) nos informa ainda que, desde, 2009, o conceito do FIB foi incorporado à educação, por
meio da Escola Verde (Green School),
cuja missão é alcançar uma educação holística que inclui conhecimento, meio
ambiente, cultura, valores acadêmicos, espiritualidade, ética e estética, visando “formar verdadeiros seres humanos em que a retidão e as condutas sejam moldadas
e aperfeiçoadas no dia a dia”. Um lindo projeto de educação que une mente e
coração. E, olhem só, que orgulho! Nosso grande mestre, o educador brasileiro Paulo
Freire, preterido por tantos míopes, serviu de inspiração a essa inovação
educacional, aliando autodesenvolvimento e autonomia.
Sem
a menor dúvida, esse país cheio de História e histórias tem e teria muito a nos
ensinar, se o Ocidente tirasse a venda de seus olhos para tudo que é diferente. (Continua no próximo post).
Referências
https://www.archdaily.com.br/br/1012337/felicidade-interna-bruta-como-politica-publica-o-caso-de-butao
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/butao.htm
https://www.nationalgeographicbrasil.com/viagem/2023/01/conheca-o-butao-pais-com-zero-emissao-de-carbono-e-que-leva-a-felicidade-a-serio
https://www.bbc.com/portuguese/articles/cyey2k6zr7jo
https://noticias.unb.br/artigos-main/6276-o-exemplo-do-butao
https://www.tempo.com/noticias/actualidade/o-encanto-e-os-misterios-do-butao-porque-e-que-e-considerado-o-pais-mais-feliz-do-mundo-geografia.html
https://www.transbhutantrail.com/
https://www.mochilaoadois.com.br/butao-pais-da-felicidade/
Anita, adorei o seu texto. Muito alinhado com alguns dos propositos do nosso Instituto Território das Vertentes. Futuramente, nos alegrará dar ainda mais visilidade aos seus escritos e reflexões. Gostei muito de conhecer o conceito de FIB! Que alegria ter você entre nossas associadas!
ResponderExcluirObrigada. Vasco. Tudo em prol de um mundo mais equilibrado para todo mundo. É minha gotinha d'água na floresta a pegar fogo ...abraços e vamos em frente!
ExcluirNossa que país! É um exemplo pra todos!
ExcluirDá pra gente ter esperança! Você, Anita, vem com esse exemplo do Paulo Freire e é tão significativo!.. Parabéns sempre! Abs
Que belo texto! Para mim, foi uma surpresa linda conhecer através de seus dados sobre Butão.Saber que Paulo Freire contribuiu para isto nos enche de orgulho.Bebel
ResponderExcluirO que sobeja no Butão, nos falta em plenitude! Esperemos que nossos governantes tenham olhos para outras culturas e tomem-nas como modelo...
ResponderExcluirVontade de ir lá conhecer esse paraíso! Bj Marly Tiso
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