quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Ecos Imateriais | Yoga e a falácia do "desempenho" (1/2)

Yoga é um antigo e amplo sistema de autoconhecimento, uma filosofia de vida e um caminho de espiritualidade. Mas, quando nos deparamos com imagens em jornais, revistas e sites, o que mais vemos são posturas, no mínimo estranhas. No entanto, o principal foco dessa prática antiquíssima, com a qual a Índia presenteou a humanidade, não é a execução quase acrobática da postura (asana, em sânscrito) ou no desempenho quase atlético do praticante, mas no que existe por trás dessa ciência milenar que preserva toda uma tradição espiritual de autoconhecimento e integração com o Ser maior. 

Sim, é verdade, as posturas movimentam todo o corpo, trabalham a flexibilidade, fortalecem, alongam, massageiam músculos, órgãos e plexos, mas, sobretudo, levam o praticante a desenvolver a consciência corporal, prestar atenção na respiração, aquietar a mente, silenciar pensamentos e emoções, ou seja, manter a atenção no momento presente. A cada prática, treinamos tudo isso durante a execução dos asanas, das técnicas respiratórias e de concentração para alcançarmos essa integração com nosso eu mais profundo. Desenvolver a atenção no momento presente é um treino para colocar-se inteiro em qualquer atividade na vida diária, evitando assim a tão comum dispersão que nos leva a desconsiderar outras falas, cometer erros bobos e esquecer tarefas simples. Afinal, aquele que se exercita no tapetinho e o que atua na vida prática são um só.  

O yoga parte do mais denso para o mais sutil, ou seja, do corpo para atingir a alma, o SER. Seu objetivo maior está no próprio significado do termo sânscrito yug: unir, integrar. A um só tempo, portanto, yoga é meio e fim, caminho e meta. Assim, através do trabalho sobre o corpo, a respiração e a mente, cada praticante avança em direção ao autoconhecimento, aquieta seu emocional e harmoniza o próprio ser, percebendo a essência divina que habita em cada um. Por isso, o yoga pede de cada um uma atitude de reverência em relação à própria prática e à sua parte mais nobre, a essência.    Assiduidade também é importante, claro, pois a natureza não dá saltos. O corpo responde na medida em que se aprende a lidar com ele, de forma calma e constante. É importante persistir para se atingir a postura confortável, a ser mantida com ausência de esforço e estado de presença. Patanjali dizia que asana é sinônimo de estabilidade e conforto, e a prática não deve provocar dor ou desconforto. É preciso usar de moderação e respeitar os próprios limites. 

A partir da prática regular e frequente, do contato cada vez mais reiterado com a essência, é possível começar a pensar, falar, sentir e agir a partir desse recanto interior de paz e harmonia, o que nos trará mais equilíbrio, saúde mental, emocional e física para enfrentarmos o dia a dia com mais serenidade. Afinal, yoga é uma viagem individual para dentro de si mesmo; é um processo de autoconhecimento e de transformação que só depende do praticante.

Referências

TAIMINI, I.K. A ciência do yoga.3. ed. Brasília: Teosófica, 2004.

HERMÓGENES, J. O essencial da vida. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Era, 2005.

RODRIGUES, M.R. (org.) Estudos sobre o Yoga. São Paulo: Phorte, 2006.

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