Como volta e meia alguém me pergunta, vou contar
aqui como fui parar na Itália, terra de meus avós paternos, Francesco De (ou Di) Marco e Rosária Marino.
Bom, durante minha graduação em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), minha
intenção era fazer mestrado na Inglaterra e desenvolver uma pesquisa ligada à história do
urbanismo, com as novas propostas urbanas, as cidades novas, a relação entre os
espaços públicos e privados, a morfologia e as tipologias urbanas. Sempre tive (e ainda tenho) interesse em ambientes maiores do que o edifício em si, ou o
projeto de um único edifício. Não que o projeto não interfira no desenho da
cidade, muito pelo contrário. O projeto é fundamental porque define a cidade, mas o espaço urbano vem antes: a rua, a quadra, os espaços públicos, os largos, as praças, as esquinas e por aí vai. Tudo está interligado.
Desde sempre, gosto mesmo é da cidade, desse universo
diversificado e rico, da casa maior de todos nós. A cidade é o espaço por
excelência das trocas e das possibilidades, ambiente onde o homem pode
viver, se desenvolver, se relacionar, cuidar e compartilhar um mesmo espaço
urbano agradável, cheio de vida e que pode ser aprimorado. No entanto, mesmo antes de me formar, acabei me envolvendo com outra área que também me atraía - patrimônio
histórico e cultural.
Plaza Mayor, Cusco. Foto: Júlia Di Marco Alves |
Nesse meio tempo,
a querida amiga e colega de trabalho, arquiteta Maria Luiza Dutra, terminara o mesmo
curso, só que em Roma. Quando lhe falei sobre minha intenção de fazer o curso em Cusco, ela me perguntou: – Mas
você fala inglês e italiano.... Por que não ir a Roma? De fato, seu
argumento tinha toda lógica e, mais uma vez, fui buscar informações.
Como membro das Nações
Unidas, o Brasil tinha direito a uma vaga. Para ser inscrito,
no entanto, o interessado precisava atender a alguns pré-requisitos. Bastante disputado, o curso aceitava apenas 22 participantes do mundo todo por
ano. Para ser aceito era preciso:
1- Estar no serviço público
há pelo menos quatro anos, em área relacionada.
Truco. Eu já trabalhava há
cinco anos, como arquiteta concursada, no Departamento do Patrimônio Histórico–DPH
da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo;
2- Ser proficiente em
inglês.
Truco de novo. Já dava aulas de inglês havia seis anos;
3- Ter nível intermediário
de italiano.
Tri-Truco. Em casa, desde sempre, falava
‘mezzo’ italiano com meus avós, provenientes da região da Calábria, mas também havia concluído o curso completo de italiano e estava tinindo;
4- Obter uma bolsa de
estudos para custear a estada em Roma.
Truco, de novo e de novo! Havia pedido e
conseguido a bolsa de estudos do governo italiano.
Parecia inacreditável...
Só havia um probleminha. A aceitação da minha inscrição no curso do Iccrom e a bolsa de estudos vieram antes da autorização da Prefeitura de São Paulo para minha ida. Precisava de uma licença sem vencimentos, por um ano. O prefeito da época era Reynado de Barros (gestão de 1979-1982) e ele, raramente, autorizava tais licenças. Entrei com um requerimento normal, dentro da burocracia do serviço público e... não é que ele autorizou? Bem que minha mãe me dizia para ter fé porque... o que é do homem o bicho não come...
Só havia um probleminha. A aceitação da minha inscrição no curso do Iccrom e a bolsa de estudos vieram antes da autorização da Prefeitura de São Paulo para minha ida. Precisava de uma licença sem vencimentos, por um ano. O prefeito da época era Reynado de Barros (gestão de 1979-1982) e ele, raramente, autorizava tais licenças. Entrei com um requerimento normal, dentro da burocracia do serviço público e... não é que ele autorizou? Bem que minha mãe me dizia para ter fé porque... o que é do homem o bicho não come...
Parecia que, naquele ano de
1982, a sorte me favorecera, em todos os sentidos: eu era a candidata perfeita.
Fui aceita pelo Iccrom para o curso de especialização em Architectural
Conservation, ganhei a bolsa de estudos do governo italiano, complementação dessa bolsa pelo próprio Iccrom, consegui a
licença sem vencimentos da Prefeitura de São Paulo e lá fui eu para a cidade eterna que, desde então - precisamente, desde outubro de 1981 - se transformou também na minha segunda casa. Sobre os amigos
de lá, conto em outra ocasião.
Grupo do curso Architectural Conservation, turma de 1982, às margens do rio Tibre, com a bandeira do Iccrom. |
Que bela história Anita! beijos Ligia
ResponderExcluirNem me diga...quando lembro, nem acredito...bjs
ExcluirQue coisa maravilhosa, Parabéns!!!!!!!!!!
ResponderExcluirQue oportunidade e que boas lembranças!... bjs.
ResponderExcluirNão é mesmo? Ainda bem que eu soube aproveitar... bjs
ExcluirTem uns momentos que a sorte conspira a nosso favor. E quando a gente faz por merecer, como era seu caso, acontece. Foi uma experiência maravilhosa, percebe-se. Grande abraço. Francisco (mandando a mensagem como anônimo porque não sabe assumir a identidade virtual da net).
ResponderExcluirÉ verdade, Francisco.
ExcluirE mesmo entrando como anônimo não se esqueça de assinar, está bem? Se vc não assina, eu fico sem saber de quem é o comentário. Obrigada pela visita. apareça sempre
muito legal e muito obrigada por compartilhar as coisas boas da vida, as nossas referências, e o preparo natural que a Vida nos proporciona e se tivermos atentos, "pegamos esta onda" , você escreve com muita leveza é lindo! Parabéns , lindo... Cidade Eterna, e é mesmo....
ResponderExcluirobrigada, querida, por sempre me visitar...bjs
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