Recifense, viveu parte da infância em Minas. Aos 10 anos, voltou para para a cidade natal e, mais tarde, foi para o Rio de Janeiro. Na capital pernambucana, era assíduo frequentador do Café Lafayette, conhecido ponto de encontro de intelectuais locais e, hoje, é uma das figuras do Circuito da Poesia da cidade.
Sua primeira coletânea, Pedra do Sono, foi publicada em 1942. Em 1945, publicou O Engenheiro e no mesmo ano ingressou na carreira diplomática, passando a viver em várias cidades do mundo. Só retornou ao Brasil em 1987. Ao longo da vida, recebeu inúmeros prêmios: Prêmio José de Anchieta, do IV Centenário de São Paulo (1954); Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1993); Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra, Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988) e Luís de Camões entre outros.
Dentre suas obras destacam-se O Cão sem Plumas (1950),
Poemas Escolhidos (1963), A Educação Pela Pedra (1966) e Obra Completa, publicada em 1994 pela
editora carioca Nova Aguilar. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras (cadeira 37), tomou posse
em 6 de maio de 1969. A
escultura acima, localizada na Rua Aurora, em Recife, faz parte do chamado
Circuito da Poesia, iniciativa da capital pernambucana para homenagear
seus filhos.
Sua obra mais conhecida é o dramático auto de Natal pernambucano Morte e vida Severina, de 1956, encenado pela primeira vez, em 1965, com músicas de Chico Buarque de Holanda. Na obra regionalista e de caráter universal, já que mencionava o nascimento de Jesus, o nome próprio do protagonista - Severino - transmuta-se em adjetivo - severina - sinônimo da figura do retirante sofrido que foge da seca. Abaixo, um pequeno trecho dessa sua obra-prima, falando do espetáculo da vida.
Trecho de Morte e Vida Severina
...E não há melhor resposta que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma, teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão de uma vida severina.
João Cabral teve dois casamentos: com Stella Maria Barbosa de
Oliveira, com quem teve cinco filhos, e com a poetisa Marly de Oliveira. Em
1992, desenvolveu um processo de cegueira progressiva que o
levou à depressão. Morreu em outubro de 1999, aos 79 anos, de ataque
cardíaco. Assim como influenciou grandes nomes da literatura universal, como o escritor
moçambicano Mia Couto, João Cabral de Melo Neto também teve influência de outros grandes, como o poeta
Carlos Drummond de Andrade, como mostra, abaixo, o trecho do poema Difícil ser Funcionário, de 1943.
Nesses tempos em que vivemos de pandemia, de dúvidas, de exclusão, retrocessos e hipocrisia é importante alimentar a alma com boa literatura e poesia. Viva João Cabral! Um brinde a você por tudo o que nos deu!
Difícil ser Funcionário
Difícil
ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho...
... ... ...
Carlos,
dessa náusea
Como colher a flor?
Eu te telefono, Carlos,
Pedindo conselho.
Extraído dos "Cadernos de Literatura Brasileira", nº. 01, publicado pelo Instituto Moreira Salles em março de 1996, p.60.
Referências
https://www.academia.org.br/academicos/joao-cabral-de-melo-neto/biografia
https://www.ebiografia.com/joao_cabral_de_melo_neto/
https://ims.com.br/tag/joao-cabral-de-melo-neto/
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/joao-cabral-melo-neto-sua-engenhosidade-poetica.htm
http://www.releituras.com.br/joaocabral_bio.asp
Que beleza Anitinha!Brasil e seus brilhantes poetas,que merecem justas homenagens.Bebel
ResponderExcluirOi, Bebel, ainda mais nesse momento difícil, a literatura e a poesia são essenciais.Obrigada, meu bem, bj
ExcluirMuito bom texto! Um viva a ele e a essa vida, mesmo quando severina.
ResponderExcluirSou muito fã do João Cabral ♥️
Beijos 😘😘😘
Telma, querida! É sempre uma honra ler seus comentários aqui.. Viva a vida severina ou não. Beijo
ExcluirNo Ensino Médio interpretei Morte e Vida Severina! Foi quando compreendi melhor esse poeta- quando penetrei em sua obra e a empatia se fez em mim!
ResponderExcluirOi, Emanuela, o poema é marcante mesmo, nunca mais me esqueci... Beijo e obrigada
ExcluirAmiga,está na hora de você transformar todos estes ecos em livro. Brilhante! Parabéns!
ResponderExcluirBjs
Ione
Querida, você é uma parceira que sempre me apoiou. Muito obrigada! Quem sabe, logo logo, isso vira realidade. Beijo
ExcluirAdorei suas palavras "racionalidade, musicalidade, sonoridade (...) não dão lugar a sentimentalismos".
ResponderExcluirÉ uma grande verdade nesse poeta.
E que geração, hein?
Só ligação com escritores ótimos.
Abraços pra vc, Anita.
Oi, Valquíria, pois é, o acúmulo de gênios naquele período foi surpreendente, né? beijos e obrigada
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