sábado, 15 de agosto de 2020

Ecos Culturais | Cultura popular e folclore

Agosto é um mês muito estranho. Era o que eu pensava quando criança, um mês imenso, que não acabava mais com seus 31 longos dias de vento. E perigoso, porque os mais velhos diziam que era mês do cachorro louco. Morríamos de medo de topar com um desses bichos soltos, babando, descontrolados, vindo na nossa direção. Para nos assustar ainda mais, diziam que o antídoto para a hidrofobia - a doença resultante de uma mordida do tal cachorro - era uma injeção aplicada na barriga, todo santo dia, por não sei quantos dias... Ah, sim! Além dos tais cachorros loucos e da ideia apavorante daquelas injeções, sempre havia a possibilidade de uma das sextas-feiras do fatídico mês  cair no dia 13. Aí, então, era o caos! Alerta máximo! Acreditava-se mesmo que era dia de ficar quietinho em casa, protegido, sem fazer nada que pudesse atrair a tal onda de azar.  
 
Quem nunca ouviu falar disso? Coisas do nosso folclore, lendas, ditos e crendices da cultura popular presentes na vida de qualquer criança e de qualquer povo. De país para país, de povo para povo, mudam as crendices, mas de uma forma ou de outra, elas estão sempre presentes. Com o tempo, fui descobrindo outras lendas, simpatias, ditados e costumes dentro desse rico universo que forma a herança cultural brasileira. Aliás, o Blog Anita Plural já publicou outros posts sobre folclore. Veja aqui alguns deles: Viva São João; Folclore Brasileiro; Mário, Oneyda e Valquíria Carozze. Porém, ao se falar em folclore, alguns nomes são indissociáveis dessa incrível forma de manifestação das tradições e cultura de um povo: Mário de Andrade, Monteiro Lobato e Luis da Câmara Cascudo. 

Mário de Andrade, poeta, romancista, crítico musical, pesquisador e agitador cultural, dispensa apresentações, sobretudo depois que a Feira Literária Internacional de Paraty - FLIP 2017 homenageou seu gênio e sua obra. A Missão de Pesquisas Folclóricas é contribuição única nesse campo, não só nos estudos de música, dança, cantos e cantigas populares, mas também  no folclore infantil e dos negros. Orientou inúmeros outros pesquisadores, dentre eles a folclorista e etnóloga varginhense Oneyda Alvarenga que também era membro da célebre Missão Folclórica, valorizava a cultura local e sacudiu conceitos culturais e literários da época, com sua ação. Florestan Fernandes dizia que Macunaíma, um compêndio de folclore, é "um mosaico, uma síntese viva e uma biografia humanizada do folclore de nossa terra". (IEB, SP, 36:141-158, 1994).  

Monteiro Lobato. Nascido em Taubaté, interior de São Paulo, o escritor e tradutor é conhecido autor de obras que povoaram a infância de milhões de crianças brasileiras (a minha, com certeza) com sua fantástica coleção de literatura infantil que começava com Reinações de Narizinho e terminava com os Os Doze Trabalhos de Hércules. Além de título do livro O Saci, essa famosa personagem folclórica visitou a turminha do Sítio do Pica-pau Amarelo, onde aconteciam as aventuras dos pequenos protagonistas dessas histórias. A série Sítio do Pica-pau Amarelo foi publicada entre 1949 e 1970 pela editora Brasiliense. Mantenho ainda em local nobre e continuo admirando as primorosas ilustrações de André Le Blanc das edições publicadas entre 1949 e 1967.

12ª edição, 2012
Luís da Câmara Cascudo, outra referência na pesquisa etnográfica e no folclore do nosso país era historiador, antropólogo, jornalista e tradutor brasileiro. Escreveu mais de 30 obras, dentre elas Rede de Dormir (1959); História da Alimentação no Brasil (1967) e Civilização e cultura (1973). Sua obra Dicionário do Folclore Brasileiro (1954) é referência mundial. Foi premiado pela Academia Brasileira de Letras com o livro Geografia dos Mitos Brasileiros, recebeu dezenas de honrarias e prêmios e teve sua imagem estampada na cédula de 50 mil cruzeiros (1991), lançada após sua morte. 

Referências

7 comentários:

  1. Pena que está se perdendo com o tempo. Adoro ler sobre isso. Agora mesmo estava lendo sobre o folclore indígena. Alguns até não conhecia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, meu bem. Não sei o que as pessoas pensam, tradição, cultura, identidade são tesouros de um povo... Se a gente não preservar, o estrangeiro é que não o fará, certo? beijos e obrigada

      Excluir
  2. Folclore é uma cultura tão interessante para nos entender como povo, e nos valorizarmos. Mais um ótimo texto de muita aprendizagem.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada, meu bem. amo todas essas tradições que mostram nossa herança, né, de nenhum outro povo. É um dos aspectos que nos constitui como nação única. Abs

      Excluir
  3. Ô, Anita! Esse texto é importante demais pra todos nós.
    No tempo que a Oneyda Alvarenga estudou, junto com o prof. Mário de Andrade, sobre música brasileira, o que chamamos hoje de música folclórica era chamada, então, de música popular.
    Depois os conceitos se afastaram um pouco.
    Tudo isso foi e ainda está se incorporando no gigante conjunto da nossa música.
    Vou compartilhar esse seu texto.
    Felicidades
    Abraços

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Victor, obrigada por comentar. Sim, verdade. Valquíria sabe muito disso e falou disso no livro dela. Nossa música é sensacional, né? Gigante, gostei do termo. Obrigada e um abraço...

      Excluir
  4. Mário de Andrade chamava Câmara Cascudo de Cascudinho.

    ResponderExcluir