O que os três nomes acima têm em comum? Onde a cidade entra nessa equação?
Bom, vou tentar explicar.Depois de formada na FAU e já fazendo meu curso de formação no
Centro de Estudos de Yoga Narayana, resolvi também cursar Filosofia, na
Faculdade de Filosofia da USP, a famosa FFLCH (leia fefeléche, como
os uspianos). Infelizmente, tive que interromper o curso antes de terminá-lo,
mas algumas matérias realmente me encantaram e me abriram os horizontes, mais
ainda do que a Faculdade de Arquitetura já havia feito.
Uma das disciplinas era sobre o filósofo Baruch Spinoza (1632-1677) e o curso
era dado por uma professora não menos famosa, a lúcida e brilhante Marilena
Chauí (1941). Já tinha feito outros cursos com ela, mas resolvi fazer este,
particularmente, já que ela é considerada especialista em Baruch Espinosa, foco
de sua longa pesquisa na Universidade.
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Franz Kafka. Wikipedia. |
Da obra do escritor tcheco-austríaco Franz Kafka (1883-1924), li
pouco, mas sabia de sua ligação com o realismo fantástico, com o irreal, com o distópico e com
sua narrativa quase comum do absurdo, transformando o cotidiano em um pesadelo.
Li trechos de O Processo e A Metamorfose. Pulei algumas partes e confesso que
me senti um pouco estranha.
Do mineiro Murilo Rubião (1916-1991), embora o
conhecesse de nome e soubesse de seu perfeccionismo e de seu realismo fantástico, como Kafka, nunca tinha lido nada
escrito por ele. Imaginei que deveria ser parente da pintora varginhense
Aurélia Rubião. Perguntei para o autor de uma biografia da pintora, o
historiador José Roberto Sales, presidente da Academia Varginhense de Letras,
Artes e Ciências e ele me confirmou: eram primos e a pintora havia feito um retrato do
escritor.
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Murilo Rubião. murilorubiao.com.br |
Meu jovem amigo Luiz Carlos Montans Braga, doutor
em Filosofia e participante do Grupo de Estudos Espinosanos (USP), e que não
sabia sobre o parentesco dos dois, me enviou um artigo escrito por ele intitulado O Medo e a Cidade: Notas sobre Murilo Rubião e Espinosa (aqui).
O título do artigo já me chamou a atenção e, a partir de um conto de Murilo
Rubião, Montans Braga consegue fazer conexões claras entre os três.
Adorei o conto de Murilo Rubião. Adorei a forma com que o autor ligou esses três personagens e adorei confirmar a atualidade de Espinosa. O excelente artigo me lembrou como Espinosa
e suas ideias podem ser aplicadas hoje, me confirmou que não existe neutralidade e quão fundamental é definirmos em qual lado da história
estamos e queremos estar. Pelo que sei do filósofo, a questão do olhar
(ver como perceber), sempre presente em sua forma de ver o mundo, é
confortadora e ratifica nossa forma de pensar e ser. Aliás, o olhar (o saber ver) - foi o mote da exposição de fotos
sobre os detalhes do Teatro Capitólio, realizada por Vanessa CTReis e eu (aqui), em 2011, em Varginha.
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Praça Trafalgar. Imagem: Divulgação London Greater Authority |
Do ponto de vista urbanístico, Espinosa nos traz um
conceito de cidade como avesso da solidão e do deserto (distopia). Mais do que
nunca distopia é o que existe hoje em nossos centros urbanos, quando vemos a
falta de uso e o abandono de muitos espaços públicos, ou as tentativas de
privatização desses espaços, embora profissionais de várias áreas do
saber façam questão de estimular o uso comum e enfatizar a importância do espaço
público para a vitalidade e segurança das cidades.
Durante a leitura do texto, acabei me descobrindo
mais espinosana do que sempre soube, no entusiasmo, na necessidade de aplicar o
conhecimento refletido na busca do bem comum e da solidariedade. O lado certo
da história!
Viva a Literatura! Viva a Arte! Viva a Filosofia! Cegas,
limitadoras e maquiavélicas são as tentativas de negar aos jovens o acesso à
Arte, à Literatura, à Filosofia negando-lhes, assim, o direito ao conhecimento,
ao questionamento e à reflexão, práticas e saberes que podem nos enriquecer e
conduzir, pela vida afora.
Referências:
Montans Braga, Luiz Carlos. O Medo e a Cidade: Notas sobre Murilo Rubião e Espinosa. Disponível em <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/quaestioiuris/article/view/25253>.
Murilo Rubião. Obra completa. Edição do centenário. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.