sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Arte & Cultura: Músicas de pai para filho

 Life is what happens to us while we’re busy making other plans.
-John Lennon, em Beautiful Boy (1980)
Imagem: http://50anosdetextos.com.br/2015/os-mais-belos-versos-de-john-lennon/

Mais de uma vez, já falei de como gosto da nossa Língua Portuguesa: rica, bela, sonora, forte, poética. Porém, traduzo de outras línguas e dou aulas de inglês; portanto, não fico indiferente às rimas, aos jogos de palavras, à poesia e inspiração dessa e de outras línguas. Com certeza, uma das mais agradáveis formas de aprender um idioma é com música. Mas, como tudo, é preciso ter disciplina, interesse e envolvimento.
As canções têm o dom de colar em nossos ouvidos e mentes, evocando diferentes emoções, divertindo-nos e ensinando-nos o idioma, de forma mais leve e agradável. Além disso, são capazes de levar nossos corações para longe, de despertar sentimentos profundos e adormecidos.
Há autores/compositores que são verdadeiros poetas, cujas criações emocionam, inspiram, fazem sonhar, chorar, refletir e sorrir. Compositores que transformaram seus sonhos, utopias, esperanças e dores em canções; compositores, cujas canções transformaram-se em sonho e utopia universal. Vejam Imagine de John Lennon.
Ou compositores, cujos filhos inspiraram sublimes e ternas canções de amor como Beautiful Boy, também de Lennon. A música, talvez a mais linda de Lennon, faz parte de seu último álbum, Double Fantasy, lançado em 1980.
Ou canções que despertam em nós um sentimento doído e pungente, como Tears in Heaven, de Eric Clapton, escrita após a morte de seu filho Conor, em 1991, então com quatro anos, ao cair do 15º andar de um edifício em NY. 
Hoje, trago aqui essas duas belezas diferentes: Beautiful Boy, fruto da inspiração privilegiada e inesgotável de Lennon e a também bela, porém triste, Tears in Heaven, de Eric Clapton, considerado o segundo melhor guitarrista da história pela revista Rolling Stones. 
Eu, como boa manteiga derretida, começo cantando junto e termino chorando...  Enjoy!  
Eric Clapton e seu filho Conor. Imagem: advivo.com.br

Vídeo1: Beautiful Boy John Lennon HD - https://www.youtube.com/watch?v=0A56ZuKgPYg 4:03. Album double Fantasy, 1980.


Beautiful boy   (John Lennon)
Close your eyes | Have no fear
The monster's gone  | He's on the run and your daddy's here
[Chorus:] Beautiful, beautiful, beautiful, beautiful boy
Beautiful, beautiful, beautiful,  beautiful boy 

Before you go to sleep | Say a little prayer
Every day in every way | It's getting better and better
[Chorus]

Out on the ocean sailing away 
I can hardly wait | To see you come of age
But I guess we'll both just have to be patient
'Cause it's a long way to go |A hard row to hoe
Yes it's a long way to go  | But in the meantime

Before you cross the street | Take my hand
Life is what happens to you | While you're busy making other plans
[Chorus]

Before you go to sleep | Say a little prayer
Every day in every way Z It's getting better and better
Beautiful, beautiful, beautiful, beautiful boy
Darling, darling, darling, darling Sean 


Vídeo 2-Eric Clapton-Tears in Heaven (Lágrimas no Paraíso) Ano da Música-1992 – Legendado.  https://www.youtube.com/watch?v=kMvLoYW100Q  

Tears in Heaven (James Taylor and Will Jennings)
Would you know my name | If I saw you in heaven?
Would it be the same| If I saw you in heaven?
I must be strong | And carry on,
'Cause I know I don't belong| Here in heaven.

Would you hold my hand | If I saw you in heaven?
Would you help me stand| If I saw you in heaven?
I'll find my way | Through night and day,
'Cause I know I just can't stay | Here in heaven.

Time can bring you down,| Time can bend your knees.
Time can break your heart,| Have you begging please, begging please.

Beyond the door,| There's peace I'm sure,
And I know there'll be no more| Tears in heaven.

Would you know my name | If I saw you in heaven?
Would it be the same| If I saw you in heaven?

I must be strong | And carry on,
'Cause I know I don't belong | Here in heaven.  

Referências:
http://advivo.com.br/comentario/re-my-fathers-eyes-e-tears-in-heaven-de-eric-clapton-0 
http://50anosdetextos.com.br/2015/os-mais-belos-versos-de-john-lennon/

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Memória & Vida - E o Carneiro se foi

 Carneiro no bar da FAU-USP, ambiente de reunião e descontração. Foto: Anita Di Marco.


Antonio Carlos Carneiro, arquiteto.
Faleceu em 25/outubro/2015.
Turma da FAU-USP, 1972-1976. 

Na lista de presença eu era o número 749. Ele, 752. E era assim que ele me chamava: Anita 749, ou então “italiana”, outras vezes, carinhosamente de “goiaba”. Eu o chamava de Carneirinho.
Desde o início nos aproximamos, pela proximidade na lista de presença e pelo seu jeito de ser. Um sujeito despojado, sincero, expansivo, divertido e também impaciente e explosivo, do tipo  "tolerância zero”.  Mesmo assim, era impossível ficar perto do Carneirinho, sem rir.

Profissionalmente, era competente e criativo. Sua paixão, no entanto, era Desenho Industrial. Era bom o danado; um craque mesmo no DI e no manuseio da madeira. Enquanto trabalhou fez belos projetos, reformas, móveis, exposições e muitos, muitos bicos!
Adorava desenhar e ler. Nunca leu Saramago, nem Hermógenes. Adorou o livro que lhe mandei sobre a Sala São Paulo. Por um tempo praticou yoga e Lian Gong. 
Teve problemas de saúde e de relacionamento. Na saúde, teve dois derrames (o de 2005 lhe deixou sequelas, dificultando subir e descer escadas), problemas no fígado, pneumonia em mais de uma ocasião. Teve depressão, mas sempre disfarçava (ao menos nos e-mails), rindo, brincando e tentando levantar o astral das pessoas.  As crises, segundo ele, serviram para lhe mostrar quem eram os amigos de fato.  
Não acreditava que somos frágeis - “somos o que quisermos”, dizia ele. Não aceitava gente “azeda”... E eu concordava, citando Belarmino Bicas e dizendo que azedume também mata...

Carneiro passou por poucas e boas. Ficou descrente do ser humano e descrevia a si mesmo como cético e ateu, mas não anticristão. Acabou se retraindo e se afastando... Poucos amigos sobraram, amigos com quem falava, trocava emails, que o amparavam e acolhiam, discutiam, lhe mostravam o outro lado, mas não o julgavam... Para ele, as crises  eram vistas como experiência de vida, nem sempre, no entanto, bem aplicadas. Teve um único filho que cursou Direito na PUC e Ciências Sociais na USP.  
Inúmeras vezes, sentiu-se injustiçado tanto pessoal quanto profissionalmente. Vez por outra me contava uma história que relacionava calúnia e paina: “Dizem que caluniar é como soltar paina de um travesseiro do alto da torre de uma igreja - leva poucos segundos. Quando a verdade vem à tona, limpar o nome do caluniado leva um tempo  equivalente ao de recolher toda esta paina e refazer o travesseiro... mas nunca se recolhe toda a paina, nem se monta o travesseiro completo...” 
Ele era franco e aberto. Dizia que nunca escondera nada, falava tudo o que pensava e o porquê de pensar daquela maneira. Quando reclamava e se mostrava desanimado e descrente, eu lhe dizia para ir em frente, sem desanimar, porque na verdade - e eu acredito mesmo nisso - os que não têm caráter parecem ser em maior número porque fazem mais barulho... Enquanto os bons se retraem, são mais tímidos...

O mundo fica mais sem graça quando pessoas como ele desaparecem... Ficamos nos perguntamos, como Santo Agostinho, se fizemos tudo o que poderíamos ter feito; refletimos sobre a solidariedade e o acolhimento do mundo de hoje... um mundo tão difícil, cheio de ódio, intolerância, hostilidade e ignorância ... Todos nós temos problemas, não podemos condenar ou rotular quem quer que seja, porque de perto ninguém é normal e afinal, como diziam Chico e Francis Hime, “todo mundo tem pereba, só a bailarina é que não tem”. 

Como disse o amigo comum Raul Pereira, “nos últimos anos, ele sofreu muito e foi sepultado na solidão, quase sem amigos... é um pouco para refletirmos sobre nossas tristes perdas, sobre a vida e sobre nossos acolhimentos”.

Carneiro tinha algumas frases memoráveis:
- Como dizem os "irredutíveis Gauleses" do Asterix: "só temos medo é que o céu caia sobre nossas cabeças."
- Piano piano se va lontano...
- Ô bonitinha...Ô goiaba...
- Às vezes, a gente não pode, mas se esquece de tudo, até da própria história, que no meu caso sei ser muito bonita.
- E la nave vá.

O título do filme de Fellini virou seu bordão maior. Ao encerrar seus e-mails, ele sempre dizia: E la nave vá.  
Querido amigo Carneirinho, que você siga por caminhos menos sofridos... E, como você sempre dizia para seus poucos amigos, estou saudosa! 

sábado, 24 de outubro de 2015

Paisagem Construída: Pontes e Passarelas de Vidro

Plataforma de vidro sobre Parque Nacional. Alberta. Canada. Imagem: Foto: Robert Lemermeyer. http://www.architectmagazine.com/technology/take-in-a-deep-breath-with-the-view-on-the-glacier-skywalks-glass-floor_o. 



Pontes são estruturas especiais que apaixonam e atraem a atenção de arquitetos, engenheiros e físicos, desde sempre. Vidro também tem uma história e um resultado final que desafia e encanta os olhos, correto?
Corretíssimo ... Junte os dois e teremos coisas inacreditáveis e que funcionam como um chamariz para leigos e técnicos, curiosos e aventureiros, como as mais recentes pontes de vidro, espalhadas pelo mundo... Como a passarela a quase 300 metros acima da geleira Athabasca, no Parque Nacional Jasper, no Canadá, inaugurada em 2011 (foto acima).

Em Londres, a famosa Ponte do Milênio, ligando as duas margens do rio Tâmisa na altura da Tate Gallery e da Catedral de São Paulo, foi um projeto ousado do arquiteto Norman Foster na virada do milênio. Problemas iniciais de vibração à parte (já resolvidos), o fato é que a ponte é um marco arquitetônico e urbano da cidade. 

Ponte do Milênio (Norman Foster). Fotos: Anita Di Marco, 2013

Também na capital inglesa, em 2014, foi inaugurada uma passarela de vidro na Tower Bridge, a 42 metros acima do Tâmisa permitindo a visão da abertura da ponte-báscula para passagens de barcos mais altos. 

Passarela de vidro na Tower Bridge, Londres: Imagem: http://www.abividro.org.br/ 
Nos Estados Unidos, em Chicago, em 2009, foi instalada uma plataforma-deque de vidro, na borda do 103 º andar da Willis Towers. Mas a grande atração turística parece ser mesmo a plataforma de vidro em forma de ‘U’, a Skywalk. Situada a 1200 metros acima do rio Colorado e parte de um mirante na Reserva Indígena dos Hualapi, no Grand Canyon, Arizona, desde sua instalação, em 2007, a passarela transparente também virou um grande atrativo para os turistas.

 Imagem: http://noticias.terra.com.br/mundo/fotos/0,,OI42893-EI294,00- Inaugurada+plataforma+de+vidro+nos+EUA.html  

Claro, a China também está no páreo, com várias delas. Uma das mais recentes localiza-se na província de Hunan, em substituição a uma antiga passarela de madeira, que ligava duas montanhas. A 180 metros acima do chão e vencendo um vão de 300 metros, a passarela tem o piso formado por placas de vidro duplo com 24 mm de espessura. Segundo os construtores, é 25 vezes mais forte que o vidro normal utilizado em janelas comuns. 
De qualquer forma, se já era uma tarefa corajosa atravessar a passarela de madeira naquela altura, imagine agora, atravessar esta de vidro. O friozinho na barriga deve ser inevitável... E essa é das mais baixas, há outras ainda mais altas, mais estreitas e mais assustadoras...
Belezas e maravilhas da arte e da técnica, da engenharia e da arquitetura, da engenhosidade e da ousadia do homem...