quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Ecos Imateriais | Rotina e desejos de Ano Novo

Feliz e alegre 2023! 

Já é praxe. A cada final de ano, surgem listas e mais listas de desejos, promessas e metas a serem conquistadas no novo ano. Virou rotina! O problema, porém, não é esse e, sim, a conotação dada, em geral, ao termo rotina, como algo que arrefece e nos distancia de nossos objetivos, algo monótono. Oi? Como assim  monótono? Se a própria vida deveria ser uma rotineira caminhada em direção ao melhor de nós, como a rotina pode ser monótona?

Como professora de yoga há décadas (mas ainda e sempre aprendiz), posso dizer que essa ciência me inspirou muito nesse sentido. Seus ensinamentos, em especial o Ashtanga Yoga (ver referências), contido no segundo livro do chamado YogaSutras de Patanjali (séc. III a.C.), auxiliam o praticante nessa busca “rotineira”. Nesse compêndio, dividido em quatro partes, o grande mestre hindu define yoga como a cessação dos movimentos da mente; explica o modo de alcançar esse estado; aponta as possíveis distrações ao longo da jornada; e destaca as conquistas para quem persiste. Patanjali destaca cinco refreamentos (yamas) e cinco virtudes (niyamas) a serem cultivados para o indivíduo avançar em seu caminho evolutivo. Preciosos e profundos, todos podem e devem ser praticados ao mesmo tempo, sem uma ordem definida, já que são meio superpostos e um acaba atraindo o outro. 

Santosha, o segundo niyama, em especial, é um alerta e um farol. Junto aos demais niyamas e yamas, Santosha torna bem mais abalizada e comprometida a caminhada do praticante rumo ao autoconhecimento e à autorrealização, pois fala do cultivo da alegria, do contentamento pelo que se é e convida o indivíduo empenhar-se na busca dessa atitude de alegria interior, apesar de.... Santosha pede que o praticante faça do trabalho, do estudo e de qualquer atividade da vida diária, ou seja da rotina, um ato de consagração à Vida. Inúmeros estudos e pesquisas médicas já provaram os efeitos dessa atitude sobre corpo e mente, embora, às vezes, alguns ainda duvidem. Os sábios indianos, todavia, conhecem esses efeitos há muito mais tempo.

Da alegria nasceram todos os seres; pela alegria existem e crescem; à alegria eles retornam. Taittirya Upanishad 

O fato é que tudo segue uma rotina: as estações se sucedem; o dia segue a noite; as marés vão e vêm; a colheita só se dá após o plantio; os astros giram ao redor de seus sóis; o próprio cosmos tem uma rotina que, para mim, é sinônimo de um nível de organização absurdamente elevado e perfeito. Assim, a cada novo dia temos a chance de observar e reavaliar o modo de conduzir nossas vidas, de fazer algo de forma diferente e melhor. Afinal, na natureza e na vida, nada é estático, nem definitivo. Tudo está em contínua transformação. 

Então, façam seus pedidos de ano novo, sim. Nada contra... mas saibam que é somente por meio de uma rotina ética, solidária, focada, resiliente, inclusiva, comprometida e regada com uma dose extra de sincero contentamento interior que vocês irão alcançá-los! Feliz ano novo e feliz rotina em 2023!

Referências:

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/07/vida-yoga-santosha-contentamento.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2015/06/vida-yoga-yamas-e-niyamas.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2016/08/vida-yoga-teoria-e-pratica.html).

https://anitadimarco.blogspot.com/2021/04/ecos-imateriais-yoga-e-os-jardineiros.html

https://anitadimarco.blogspot.com/2016/09/vida-yoga-satya-no-dia-nacional-do-yoga.html

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Ecos Humanos | Sobre o Natal

Celebrado em todo o mundo, o Natal e seus símbolos e tradições são sinônimos de convergência. Sua proximidade deixa no ar um quê de alegria, amorosidade e gentileza. Sinos, luzinhas, músicas, enfeites, árvores de Natal, cerimônias religiosas, Papai Noel e, na sequência, as festas do Dia de Reis com grupos de reisado, as folias de reis, as pastorinhas no Brasil, o encontro de diversos grupos étnicos na América Latina e a Befana na Itália, por exemplo. Tudo aponta para essa vontade de celebrar. Os povos antigos festejavam, em dezembro, o solstício de inverno e, a partir do século IV, nessa data, passou-se a celebrar o Natal, o nascimento do indivíduo mais puro, iluminado e divino que já passou sobre a Terra. Tanto é que esse modelo e exemplo de ser humano, divinamente humano, mudou o calendário.

A energia desse momento envolve toda a humanidade. As comemorações podem diferir, de acordo com o país, mas em geral, durante o mês de dezembro, comunidades religiosas têm atividades especiais, igrejas várias celebram seus ritos, grupos corais ensaiam e apresentam novos números, balés se repetem a cada ano com nova roupagem, cidadãos conscientes se reúnem para amenizar a dor daqueles que nada têm e grupos espirituais fazem meditações especiais, preparando-se para o momento em que o Cristo interno renascerá dentro de cada um, nessa sintonia com a nossa melhor parte, nossa essência...  Talvez por isso, essa energia crie uma egrégora invisível de mais paz, fraternidade e tolerância entre os indivíduos. Sempre ouvimos falar dos soldados que, mesmo em campos opostos nas guerras, acabam se confraternizando no Natal. 

Vale lembrar, de novo e de novo, que a humanidade é uma só, habitamos o mesmo planeta e os textos sagrados de diversas religiões frisam que ou todos se salvam ou ninguém se salva. Isso não é crendice. É real e uma forma de desenvolver o olhar amoroso com o outro em todas as épocas do ano, não só no Natal.  É impossível viver recluso, isolado ou no seu mundinho, como se os outros não existissem. Tudo está conectado, inter-relacionado, porque fazemos parte da mesma humanidade. Somos estrelas de uma mesma constelação e jamais uma única estrela brilhará mais que o todo. Relembrando (de novo) a frase épica de John Donne, poeta inglês do século XVII: “A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

Por isso, um olhar amoroso, gentil e acolhedor deve ser constante, visando ao bem maior, ao bem de todos os indivíduos, de todos os povos e de toda a Terra, nossa casa comum. Outro sábio da nossa era, Rabindranath Tagore, disse que "aquele que planta árvores, mesmo sabendo que nunca se sentará à sombra delas começou a entender a vida!" 

Assim,  sempre é bom lembrar que, apesar das circunstâncias adversas, perdas, dores e mal-entendidos, não se pode desanimar. Levante-se e vá em frente. Analise, repense, mude o foco e continue fazendo sua parte em prol do TODO, sem se esquecer que você é parte desse todo. E nunca se esqueça da razão dessa linda festa, da vida, dos exemplos que o aniversariante deixou e de duas de suas mais singelas e poderosas recomendações: "orai e vigiai" e "fazei ao outro o que quereis para vós mesmos"! 

Viva o aniversariante, viva o amor que se encarnou na Terra, há mais de 2000 anos. 

Referências

https://anitadimarco.blogspot.com/2020/12/ecos-culturais-lembrando-antigas.html

https://blog.estrela.com.br/historia-natal/