sexta-feira, 28 de abril de 2023

Ecos Humanos | Monetização da vida

Monetização significa atribuir valor financeiro a alguma coisa e hoje em dia, infelizmente, tudo parece poder ser monetizado - objetos, fama, dedicação, afetos e até a própria vida. No entanto, jamais podem ser monetizados (ou mercantilizados) sentimentos como afeto, amizade, cuidado, solidariedade, amor. Não, não estou delirando nem pregando. É a realidade que nos mostra isso; basta olhar em torno de si e refletir. Aliás, refletir parece que anda meio “fora de moda”. Já passou da hora de mudar essa “moda”.

O fato é que se, ao longo da vida, você foi ou é um daqueles privilegiados que teve casa decente, comida na mesa, roupa limpa, um lar equilibrado, pais amorosos, acesso à educação, à saúde e a serviços urbanos de qualidade; se nunca passou frio ou dormiu ao relento por falta de agasalho, cama ou cobertor; se nunca sentiu o estômago vazio nem teve que implorar por um prato de comida; se nunca ficou desempregado e sem esperança, se nunca sofreu preconceito, racismo ou assédio, se nunca foi segregado, humilhado ou hostilizado pelo tom de pele, etnia, gênero ou classe social...

Se, ao contrário, você tem casa, comida, educação, saúde, faz exercícios físicos, yoga, corrida ou anda de bicicleta sem nenhum impedimento físico, mental, emocional ou financeiro; se teve a grande chance de estudar em uma boa escola e, sobretudo, se está realizado e trabalha com aquilo de que gosta... Coloque-se no lugar do outro que nada tem e considere-se um privilegiado que tem obrigação moral de ser grato à Vida; mais do que isso, ter a dignidade de contribuir para que todos tenham uma vida melhor, mais justa e mais digna. Como? Transformando cada atitude em uma maneira de apoiar e transformar o mundo à sua volta, para que todos tenham acesso ao que você teve e, assim, diminuir desigualdades, aumentar a equidade, o equilíbrio e a justiça social no mundo...

Hoje, no descompasso geral que vemos por aí em todos os rincões, campos, classes sociais e profissões, fazer apenas a sua parte, ou seja, fazer o que se espera de você, é pouco, muito pouco. É preciso fazer mais, ir além e agir em prol do todo, do coletivo, porque somos todos parte da mesma humanidade e coabitantes do mesmo planeta azul. E isso não é feminismo, budismo, hinduísmo, espiritualismo, comunismo, socialismo, capitalismo suave, ou qualquer outro “ismo”. É solidariedade ativa, retribuição, dever moral, coerência e consciência ética; é ser cristão na prática e não só na letra; é ter religiosidade viva no coração e não apenas nos lábios. 

Então, pense nisso! Escolha as batalhas pelas quais vale a pena lutar, pare de reclamar de coisas insignificantes, segure e não largue a mão de ninguém, use suas próprias ferramentas – voz, inteligência, saúde, conhecimento, cor de pele, profissão, classe social e status – para trabalhar em prol do todo e transformar este nosso planetinha num mundo melhor para todos. Seus descendentes agradecerão, pois  viverão num mundo mais amável, amoroso e amorável!

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Ecos Urbanos | Repensando a cidade ideal

Dados do IBGE mostram que 85% da população brasileira já moram em cidades. Isso quer dizer que esses cidadãos buscam qualidade de vida, moradia digna, transporte público eficiente e condições de mobilidade, educação e saúde de qualidade, áreas verdes, espaços públicos seguros com iluminação, segurança e maior circulação de pessoas, cultura etc... Mas logo vem uma pergunta: se essa porcentagem é tão grande, as cidades deveriam atender aos desejos de seus habitantes e oferecer melhores serviços e oportunidades para todos, certo?

A resposta deveria ser óbvia, mas não é. Nossas cidades, em sua maioria, continuam se expandindo de forma não planejada, priorizando o transporte individual em detrimento do público e mantendo as conhecidas carências e desigualdades. Ou seja, a preocupação/ação do poder público (em especial o municipal, mas não só) parece estar distante do objetivo de criar cidades com oportunidades e melhor qualidade de vida para TODOS. Tudo fica na esfera das promessas, do sonho, de um futuro incerto e desejado, mas a prática é outra. Equipamentos e serviços essenciais de qualidade parecem sempre pensados apenas para uma pequena parcela da população. Ora, já passou muito da hora de repensar a cidade ideal.  

Mas, como seria uma cidade ideal? Penso a cidade como o palco de um imenso teatro, onde se desenrola o drama da vida. Cada ator deve desempenhar bem seu papel, aprender, conviver, trocar e desenvolver-se como ser humano. Se a estrutura física do teatro não oferece as condições mínimas para o ator se desenvolver e cumprir bem o que se espera dele, em que condições a peça da vida será encenada?  Nessas condições (ou na falta delas), poucos são os “atores” de fato conscientes de seu papel. A maioria parece apenas obedecer a um costume, a uma prática mecânica, há muito aprendida e repetida; não questiona, não cria, não inova mais, porque não existe cenário correto, nem direção, nem contrarregra, nem iluminação, nem qualquer equipamento que auxilie os atores a melhorarem seu desempenho. E eles continuam atuando, só que a maioria parece agir por inércia numa atitude passiva e sem reflexão, alheia ao seu poder interno de promover mudanças, sem a atitude decidida e firme de quem sabe como, por que e o que fazer. 

De um lado, seriedade, conhecimento e vontade política são elementos essenciais  para o poder público cumprir com seu dever de propor cidades, serviços e equipamentos melhores a todos.  De outro lado, cidadania e consciência são os ingredientes indispensáveis para o cidadão reivindicar uma cidade melhor para todos. Como? Com atitudes simples e cotidianas, já que qualquer ação nossa é política e tem força; porque dignidade é objeto de desejo (ainda que inconsciente) e direito pleno de todos. Então, ou você age em busca dessa qualidade de vida para todos ou deveria morar na Pasárgada: lá você vai ser amigo do rei e viver num mundo ilusório. Porém, como seres urbanos e humanos, a obrigação de todos nós, cada um em seu campo de atuação, é agir no sentido de melhorar as nossas cidades e suas estruturas, destacando benefícios e êxitos, mas também apontando falhas, carências e reivindicando ações.

B.Aires. Antes e depois do Plano de Mobilidade

Então, por que não começarmos pela nossa própria rua, nossa calçada, nosso bairro?  Como? Com educação e consideração pelo outro: não jogando lixo nas vias públicas; acondicionando o lixo doméstico, industrial e hospitalar de forma adequada (imagine o caos se ficarmos sem os profissionais e serviços de limpeza urbana); separando material reciclável; recolhendo de ruas e parques as fezes do seu animal de estimação; recolhendo folhas das árvores das calçadas para evitar entupimento de bueiros e enchentes; conservar equipamentos urbanos como lixeiras, postes de iluminação, painéis, placas, bancos etc; estacionando seu veículo de forma apropriada e lembrando que outros motoristas também precisam estacionar; dirigindo devagar, sobretudo perto das faixas de segurança, hospitais e escolas; dando prioridade aos pedestres e ciclistas; recusando e denunciando a “mágica” ilegal dos “gatos” de água, luz, TV ou internet... São desanimadoras as notícias que lemos sobre esses "gatos", ou o que vemos vemos no chão, sobretudo depois de grandes aglomerações. São cenas que deveriam envergonhar qualquer indivíduo que faça parte da dita humanidade. O fato é que aqui na vida real, com exceção das classes de renda alta e média alta, nossas cidades são maltratadas e a população, sobretudo da periferia, é quase sempre desrespeitada e humilhada. É urgente refletir, abrir os olhos e também o coração, e sair do seu quadrado. 

Pense nisso! No país, existem inúmeras organizações, como o portal BR Cidades e o Laboratório de Habitação e Assentamentos da USP, por exemplo, que são centros de excelência que discutem, trabalham e propõem ações para garantir a construção de cidades boas, justas, seguras e dignas para todos. Atualize-se e arregace as mangas. Por uma cidade inclusiva, segura, agradável e melhor para todos!

Referências

https://www.brcidades.org/

https://labhab.fau.usp.br/

https://www.wribrasil.org.br/

https://www.cidadessustentaveis.org.br/inicial/home