sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Ecos Arquitetônicos | Retrofit

Exemplo de retrofit. SP. Divulgação
Considerado o Nobel da arquitetura, o Prêmio Pritzker, nos últimos anos, tem premiado arquitetos que saem um pouco do tradicional. É só ver o nome e o trabalho dos últimos premiados para perceber a mudança. Estes incluem o chileno Alejandro Aravena (2016), o indiano Balkrishna Doshi (2018), o africano Diébedo Francis Keré (2022) de Burkina Faso e, mais recentemente, o escritório francês de Lacaton & Vassal. Premiados em 2021, por exemplo, os franceses Anne Lacaton e Jean Philippe Vassal destacam soluções mais simples em arquitetura, como a importância do habitar, do estar dentro e não do espetáculo. Priorizam o meio ambiente, o coletivo e reforçam a importância do reaproveitamento. Sublinham que é preciso ensinar a olhar a cidade e refletir, buscando soluções eficazes e refletidas; veem a arquitetura como ato político de generosidade que surge não da teoria, mas da observação e da reflexão. Nessa linha, são defensores do que se chama retrofit, adaptação de imóveis antigos às necessidades contemporâneas, sobretudo para uso habitacional. Para eles, essa técnica, bastante usada sobretudo na Europa, garante o ganho pela transformação e não a perda pela demolição. 
               
"A transformação é a oportunidade de fazer mais e melhor com o que já existe. A demolição é uma decisão fácil, de curto prazo. É um desperdício de muitas coisas – um desperdício de energia, um desperdício de material e um desperdício de história. Além disso, tem um impacto social muito negativo. Para nós, é um ato de violência." (Lacaton & Vassal)

Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie, em São Paulo, o arquiteto Celso Sampaio, em seu artigo "A modernização de edifícios antigos. Transformando o modo de fazer política habitacional nos centros urbanos brasileiros", também vê o retrofit como uma saída para a questão habitacional brasileira, sempre dentro de programas e políticas públicas e com a participação da população residente.  
 
"Uma forma de atuar sobre antigas estruturas construídas, garantindo uma reabilitação urbana equilibrada com a participação da população residente, pode ser buscada através do retrofit, processo que objetiva recuperar prédios antigos de forma a preservar a arquitetura original, mas modernizando-os e adequando-os à legislação vigente, com reconversão de uso quando necessário." (Celso Sampaio) 

Seminário em Londres sobre retrofit. Divulgação

O arquiteto Ricardo Trevisan ainda questiona a falta de políticas habitacionais específicas e vê no retrofit um caminho sem volta, mas alerta que é impraticável adotar a legislação atual para edifícios antigos como se fossem novos. Ou seja, cabe ao poder público adequar normas e regras construtivas, criando legislação específica para os casos de retrofit.

Já existe, até mesmo, uma ferramenta digital que responde à grande dúvida de muitos arquitetos e proprietários: reformar ou substituir? Trata-se do CARE (Carbon Avoided Retrofit Estimator) que, em segundos, faz uma estimativa e compara o impacto total de carbono da renovação de um edifício existente em relação à substituição por um novo. Detalhes aqui (em inglês) e aqui (em português).

Referências               

https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/24.278/8852

https://anitadimarco.blogspot.com/2021/10/ecos-arquitetonicos-vislumbre-de.html

https://www.archdaily.com.br/br/889655/quem-ja-ganhou-o-premio-pritzker 

https://metropolismag.com/profiles/salvage-superstars-care-tool/ 

https://www.weg.net/tomadas/blog/arquitetura/entenda-o-que-e-o-retrofit-tecnica-de-revitalizacao-de-construcoes-antigas/

https://www.archdaily.com.br/br/997410/care-uma-ferramenta-digital-para-comparar-as-emissoes-de-construcoes-novas-e-de-reuso?ad_medium=gallery

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Ecos Literários | Centenário de Italo Calvino

Italo Calvino. Divulgação

Centenários são datas especiais. Agora é a vez de Italo Calvino (1923-1985). Aguardem, portanto, novas e ótimas edições comemorativas, reedições, simpósios e discussões sobre a obra desse autor, editor, tradutor e ensaísta. O escritor nasceu em Cuba, quando seus pais, ambos italianos, estavam de passagem por aquele país e, logo, a família se mudou para a Itália. Morou em San Remo, Turim, Roma e Paris. Afeito aos estudos, ao humanismo,, à filosofia e ao pensamento crítico, Calvino estudou, trabalhou, fez resistência ativa ao fascismo e à violência de Mussolini, encantou-se pelas ideias pacíficas do utopista Charles Fourier, foi editor e crítico literário, filosofou e escreveu. Muito! E sempre defendeu o papel da literatura no mundo e nas sociedades. Seu olhar e seus interesses eram múltiplos, plurais. 

 

Um dos grandes nomes da literatura mundial, Italo Calvino foi o autor do livro Por que ler os clássicos, conceito que definia como “um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”.  Aqui digo entre parênteses que sua resposta à pergunta (título) do livro me remete ao poeta brasileiro Vinicius de Moraes em sua conhecida frase do poema Enjoadinho: “Filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos, como sabê-lo?” Bom, em resposta à própria pergunta, o escritor italiano dizia apenas que lê-los era melhor do que não os ler. Destacava que para ele era impossível conjugar o verbo ler no passado e dizer “li um clássico”. Primeiro porque clássicos devem ser relidos sempre, abrindo espaço para outras compreensões a cada nova leitura. Ademais, nunca devem ser lidos por obrigação, mas por amor, para despertar o amor à leitura e à literatura. Dizia que tais leituras devem ser iniciadas na mais tenra infância, por exemplo, com histórias e contos de fada. Aplaudo tal observação porque, no meu caso, foram contos de fada e os livros de Monteiro Lobato que me animaram a ler e a continuar lendo pela vida afora...

Italo Calvino é autor de obras emblemáticas como As Cidades Invisíveis (1972), um poema de amor às cidades, um clássico lido e relido por arquitetos. No livro, Marco Polo faz um relato fantástico a Kublai Khan a respeito das suas viagens e das cidades que visitara, dominadas pelos bárbaros. Outro livro é Seis Propostas para o Próximo Milênio. Publicado postumamente, em 1991, a obra reúne as conferências que proferiu na Universidade de Harvard, nas quais destacou qualidades fundamentais para garantir a qualidade e a permanência de uma obra literária: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. 

Leiam Italo Calvino, mas melhor ainda, leiam os clássicos da literatura mundial!

Referências

https://www.jornalopcao.com.br/colunas-e-blogs/imprensa/centenario-de-italo-calvino-e-celebrado-neste-domingo-494157/

https://www.ebiografia.com/italo_calvino/

https://lithub.com/jhumpa-lahiri-why-is-italo-calvino-so-beloved-outside-italy/

https://www.portaldaliteratura.com/autores.php?autor=2654

http://www.viniciusdemoraes.com.br/