quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Ecos Linguísticos | Última Flor do Lácio (1)


A língua portuguesa é considerada uma das mais difíceis em relação à ortografia, à gramática e sintaxe. No entanto, não se pode negar que é uma língua rica e sonora. Sempre apaixonada pela nossa língua, de quando em quando, gosto de saborear uma pitada de ortografia aqui, outra de gramática ali, um pouco de regência acolá e por aí vai.

Muitos falam ou escrevem sem pensar nas regras e repetem erros que acabam se perpetuando. Apesar das questões da oralidade serem válidas em determinadas situações, e apesar das discussões envolvendo o uso da língua culta como professora, tradutora e revisora, como alguém que tem na palavra seu instrumento de trabalho, eu me sinto na obrigação de corrigir alunos que falam errado em sua própria língua. 

Em qualquer situação, é sempre bom relembrar, exercitar, ter certeza, verificar as acepções menos usadas, mesmo acreditando conhecer todas as formas corretas, concordam? A nossa bela língua vai agradecer quando você insistir em usá-la corretamente, ainda que outros não o façam. É só uma questão de prática e empenho. Reuni alguns termos que considero mais problemáticos. Vamos lá?

AGENTE ou A GENTE: A gente precisa decidir que tipo de agente é melhor: agente fiscal, agente funerário, agente secreto. Não importa, o que importa é quando usamos, informalmente, "a gente" estamos nos referindo a um grupo de pessoas, em que nos incluímos, está bem? Ah, sim, e dizemos: a gente não quer só comida e NUNCA, jamais, em hipótese alguma use "a gente queremos".... Isso dói... 

AMIÚDE.  Amiúde é um advérbio de tempo que significa com frequência; não consigo falar a miúdo, embora a expressão esteja dicionarizada.  

Anelar. O termo anelar não está errado, está dicionarizado e é sinônimo de anular, o dedo onde se coloca o anel, mas eu sempre usei, e vou continuar usando, o substantivo anular para me referir ao tal dedo. Há muito tempo, aprendi que a primeira acepção do verbo anelar no dicionário Aulete é desejar muito

ASTERISCO. Por favor, pessoal. Este é o termo correto. Não existe asterístico. Por que complicar?

BASCULANTE.  Este é o nome correto, com B, daquela janela do banheiro ou da cozinha, movida por um básculo. Não existe vasculante. Aliás, vascular refere-se a vasos sanguíneos. Não é à toa que o médico que cuida desse campo do conhecimento se chama médico vascular.

BEM-ESTAR # MAL-ESTAR. Termos sempre empregados com o velho e bom hífen. Bem-estar significa sentir-se bem e saudável, enquanto mal-estar traduz uma sensação física ou emocional desagradável. Atenção às formas no plural: bem-estares e mal-estares.

BENEFICENTE. É o termo correto e não beneficiente. Não existe o “i” após o “c”; É só se lembrar do nome do famoso hospital na capital paulista, a Beneficência Portuguesa, menina dos olhos do empresário Antonio Ermírio de Moraes, falecido em 2014.

CD-ROM: ROM, na sigla em inglês, é abreviatura de Read Only Memory (memória apenas para leitura) e se pronuncia como com ‘o’ e não com ‘u’. Não é CD-RUM. Rum é a bebida, ok?

COUNTRY. O termo country, além de ser traduzido como país, significa campo, área rural, em oposição à área urbana e se pronuncia CÂNTRY, jamais cauntry. O mesmo ocorre com o estilo musical.  

. Êta palavrinha danada. Que dó! No masculino é sinônimo de piedade: Estou com tanto daquele gatinho, mas no feminino é nota musical: A nota dó vem antes da nota ré...

DUZENTOS. Bom, quando vou ao supermercado e peço 200 (duzentos) gramas de queijo, o atendente me corrige, mas eu me mantenho firme. Duzentas podem ser as variedades de grama dos jardins brasileiros, mas a medida é sempre termo masculino, o grama.

FAZER. Outro uso errado muito mais comum do que se imagina. Virou quase uma praga... O verbo fazer, quando se refere a períodos de tempo, é impessoal, portanto, só utilizado no singular. Exemplos: Faz tempo que não o vejo. Faz três anos que me formei. Faz algumas horas que ele terminou a cirurgia. (NUNCA fazem três anos).   

FONDUE. Palavras estrangeiras são sempre complicadas. O termo fondue vem do francês e se pronuncia FONDI, jamais Fundi (com aquele biquinho natural do francês)! Você vai acabar fundindo a cachola se continuar a falar errado e repetir os erros que ouviu...

GERUNDISMO. O pessoal de telemarketing usa muito o chamado "gerundismo", mas convenhamos, é terrível.  Se não quiser usar o futuro do presente, use o verbo ir no presente do indicativo: vou mandar, vou verificar, vou ligar. Mande, verifique e ligue. Pronto, tão mais simples e direto. Jamais, em hipótese alguma, never again use o tal vou estar mandando, vou estar verificando ou vou estar ligando. Combinado?

GEMINADA.  Casas podem ser distanciadas dos limites dos lotes circundantes ou podem ser geminadas, ou seja, podem ter uma parede ou as duas em comum com outras casas. São casas geminadas, muito comum nas vilas paulistanas; tais casas jamais serão germinadas, porque o que germina é semente.

HALL pronuncia-se (em inglês) como RÓL não RAU, nem AU. É a tal história, para não errar, use o termo em português. Não é "chique" usar termo em outra língua  e, ainda por cima, pronunciá-lo de forma errada. Melhor usar o velho e bom portuguêss:  entrada, vestíbulo, saguão, ou coisa que o valha...

HAVER.  Outro erro super comum, em qualquer tipo de texto. Vá lá, posso até admitir que este é outro verbo irregular complicadinho, mas nem tanto. No sentido de existir e quando se refere a períodos de tempo, o verbo haver é sempre usado no singular. Exemplos: HAVIA muitos alunos no debate e jamais "haviam".  HAVIA três anos que não nos víamos. Eles estudam fora HÁ pelo menos cinco anos.

IOGURTE e jamais iorgute. Sem comentários.

LAGARTIXA. Sempre com o “R” depois do GA, como lagarto. Largatixa não existe; Ou como dizem os mineiros, largue dessa mania de falar errado.

MAIOR OU MENOR DE IDADE significa que alguém tem mais ou menos de 18 anos; não existe di menor ou di maior.

MAL # BEM: Ambos são advérbios e, portanto, invariáveis. Respondem à pergunta ‘como’ feita ao verbo? Como você se sente? Como foi na prova? Como está sua tia? Respostas: Estou bem (ou mal). Fui muito bem (ou não). Infelizmente, a tia está bem mal.

MAU # BOM: São adjetivos, modificam o substantivo e, como ele, são variáveis.  Exemplo: Você deseja às pessoas boas férias, boa semana ou um bom dia e não um bem dia ou um mal dia.  Alguém pode ter tido um mau dia, um péssimo dia, mas jamais um mal dia!  Posso dizer que o lobo mau (e não o lobo mal) estava bem mal depois de tentar derrubar a casa dos porquinhos... Mas o mal-estar dele logo foi embora, porque ele se deu bem e a casa caiu.

MEIO TRISTE. Meio é outro advérbio e, portanto, invariável. No exemplo, quer dizer, tristinho, um pouco triste. Nunca diga “estou meia tristonha, porque meia é o que se usa nos pés; ou metade de alguma coisa, por exemplo, meia maçã ou meia passagem. Se você disser que está “meia cansada”, vou entender que só a parte direita do corpo está cansada, a parte esquerda deve estar bem. Entendeu? 

MENDIGO: Mendicante ou pedinte. Não existe mendingo.

MENOS. Outro advérbio e, portanto, invariável. Exemplo: Tenho menos trabalho que ela. Meus pés me trouxeram menos dores este ano etc. Menas, além de ser horroroso, não existe.
        
MORTADELA. Aquele tipo de embutido, muito bem temperado e feito com carne bovina e suína. Sempre mortadela, como naquele delicioso e, convenhamos, bem exagerado sanduíche de do Mercadão de São Paulo. Jamais mortandela.

PARTICÍPIOS. O particípio passado dos verbos, em geral, traz algum grau de dificuldade, mas basta ler e estudar um pouquinho que logo se aprende. Os erros mais comuns são feitos com os verbos: chegar, trazer, abrir. Exemplos: Chegar (particípio passado é CHEGADO) e não chego: Agradeço por ter chegado até aqui (e não chego. Ah, não, por favor! Isso dói!. Apague isso de sua memória. Outro verbo problemático é o verbo trazer: ‘Obrigada por ter TRAZIDO os livros’ e nunca por ter trago algo. Trago é sinônimo de gole, ou é a primeira pessoa do presente do indicativo do verbo tragar ou do verbo trazer. E lá vai um outro danadinho: o verbo abrir: O portão estava aberto (jamais, nunca, de forma alguma use abrido).

PRONOMES. Os pronomes pessoais (eu, tu, ele, nós, vós, eles) funcionam como sujeitos dos verbos, ou seja, indicam quem faz a ação indicada pelo verbo. Mim é pronome do caso oblíquo e como tal funciona como objeto direto ou indireto e não conjuga verbo. Diga, então, para EU fazer, para EU comprar, para EU comer e jamais para mim fazer, para mim comprar ou para mim comer, porque ‘mim’ NÃO faz nada, ‘cara pálida’.

PRONOMES RELATIVOS. O uso dos pronomes relativos não é tão complicado assim, mas nas minhas aulas e revisões de texto, fico incomodada com o uso incorreto deles. Cujo, por exemplo, indica posse. O garoto, cujo pai é professor universitário, desistiu da minha disciplina. Espero que muitos alunos, cujas dúvidas ainda são numerosas, estudem e aprimorem sua escrita.

SER e ESTAR. No subjuntivo presente, ao desejar algo a alguém, diga: ESTEJA em paz, SEJA feliz e continue bem: NUNCA esteje e seje, por favor!

SUAR e soar. Outro erro mais comum do que se pensa e com todo tipo de gente. Você sempre vai encontrar alguém da família ou do grupo de amigos que comete este errinho. Pense nisso: se estiver em um ambiente muito quente, provavelmente, você vai suar, mas jamais soar, porque sinos é que soam. Ou quando algo não soa bem, quer dizer que o som daquilo não agradou...
UMBIGO.  Sempre é umbigo, aquela cicatriz formada no meio da barriga pelo corte do cordão umbilical.  Imbigo é invenção que machuca os ouvidos.

Outras observações em um próximo post. Aguardem. 

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Ecos culturais | Quem tem medo de avião?

 https://blog.klm.com/what-causes-turbulence/


Vivo buscando novidades para o blog Anita Plural e também em outras línguas para continuar praticando e aprendendo. Pois bem, gosto muito do blog da KLM, sempre com artigos bem interessantes escritos pela tripulação – pilotos, comissários de bordo – ou seu pessoal de terra. 
Desta vez, o piloto Menno Kroon, que voa para a KLM desde 1990, fala das causas das tão temidas turbulências. Além de pilotar um A330, Kroon também adora paragliders e, em seu tempo livre, dirige um Catalina. Para quem não sabe, o Catalina é um hidroavião incrível. Há alguns bons anos, voei num desses sobre a Amazônia, quando voltava de Tabatinga, fronteira do Brasil com Peru e Colômbia, em direção a Tefé e depois Manaus. Uma bela história que vou guardar para outra ocasião. 
Mas voltando ao tema turbulência.  Kroon começa falando dos diversos significados do termo turbulência de acordo com a pessoa. Pode ser um simples movimento brusco ou um verdadeiro pesadelo. Mas ele garante que, em geral, a turbulência raramente é perigosa, embora possa ser bastante desconfortável. Ele explica algumas causas da turbulência e como os pilotos lidam com ela: 
1-Turbulência pode ser causada pelo vento
Ou seja, é como se você estivesse pilotando um barco em meio a uma tempestade. Uma situação nada confortável. Mas ele distingue a turbulência na baixa e na alta altitude. Quando o avião está próximo do chão, a turbulência é causada por fortes ventos, o que pode criar problemas para decolagem ou aterrissagem, durante tempestades.  À medida que o ar sobe, a temperatura diminui e, portanto, se o ar subir ainda mais, partículas de umidade começam a se formar criando nuvens.

2. Turbulência causada por uma corrente de ar ascendente
Em maiores altitudes, a turbulência ocorre quando o ar sobe verticalmente, de baixo para cima. Ele explica: o sol aquece a terra e o ar sobre ela. O ar quente se expande e sobe mais, o que causa as tais updrafts (ou seja, a corrente vertical de ar quente). Diz ele que isso é bom, porque o piloto pode ver a turbulência pela janela da cabine, e também pelas telas dos radares. Porém, se a corrente for de ar muito seco, não há condensação e a turbulência não é visível, os radares do tempo também não a detectam porque não há partículas de umidade no ar para refletir os sinais dos radares e a situação, então, fica mais delicada, podendo pegar os tripulantes de surpresa. O movimento vertical do ar, em geral, diminui em altas atitudes, porque as temperaturas são muito baixas. Diz o piloto que este é o motivo de se voar tão tranquilamente acima das nuvens. Às vezes, entretanto nuvens cumulonimbus podem aparecer a grandes alturas, sobretudo em áreas tropicais e, nesse caso, os pilotos fazem o possível para voar em torno delas. 
https://blog.klm.com/what-causes-turbulence/
3. Turbulência causada por jatos
Um jato cria um fluxo de vento muito forte em altitudes altas, atingindo 300 km/hora ou mais. Melhor evitar. No hemisfério norte, diz ele que estes ventos podem soprar de oeste a leste, razão pela qual em geral se leva mais tempo para voar sobre o Atlântico de Amsterdã até os Estados Unidos, do que voar no sentido inverso. Na ida, se possível, os pilotos tentam evitar o fluxo do jato, porque isso significaria voar para um vento contrário. No voo de volta, tentam tirar o máximo partido do vento de cauda. Como resultado, um voo de Nova York para Amsterdã pode demorar duas horas a menos do que no sentido contrário. O complicado dessa situação de um fluxo de jato é que ele pode, de repente, mudar de direção quando encontra áreas de alta ou baixa pressão. Muitas turbulências podem surgir nas chamadas curvas, semelhantes às de um rio de fluxo rápido.

4. Turbulência causada por montanhas
Quando há um vento forte, o ar pode ser dirigido para cima quando encontra altas montanhas, o que pode causar ondas sentidas a grandes distâncias e altas altitudes. Como resultado, sente-se a turbulência quando o avião passa sobre uma cadeia de montanhas.

5. Turbulência causada pelo vórtice do rastro de outro avião
Há ainda a turbulência causada pelo próprio avião. Esse rastro é similar àquele deixado por um navio cruzando os mares. Como regra, grandes aviões deixam grandes rastros e, portanto, aviões menores são mais vulneráveis se cruzarem com um grande avião. (Parece-me que já vi esse filme, a respeito de um certo jatinho, voando em terras brasileiras, não lhes parece?) Esse é o motivo de existirem regras especificando a distância e intervalos mínimos entre duas aeronaves e é também o motivo de um Boeing 737 parecer esperar tanto tempo na pista depois da decolagem de um grande avião.

  Menno Kroon tranquiliza os passageiros e lista coisas que os pilotos podem fazer:  
- Antes de voar, estudar as previsões do tempo, o que lhes permitirá prever onde e quando poderão encontrar turbulências;
- Durante o voo, tentar evitar as turbulências identificadas através dos radares ou da própria cabine;  
- Manter contato com o controle de tráfego aéreo e com outras aeronaves na área para informar-se das últimas condições meteorológicas.

Turbulência inevitável
Às vezes, os pilotos podem ser surpreendidos por turbulências não previstas no radar, ou as condições de tráfego aéreo não permitem que os pilotos evitem as turbulências. É quando surgem os sinais de “Apertar os Cintos” e quando se pede aos passageiros para tomarem seus lugares imediatamente. Se a turbulência for pesada, a tripulação pode interromper o serviço de bordo para se sentar e também se proteger. É uma medida importante para a segurança de todos.   
Perguntado se a turbulência pode danificar o avião, o piloto diz que as chances são poucas, porque aeronaves são bem flexíveis. Salienta ter visitado, certa vez, uma fábrica da Boeing e visto a asa de um 747 bastante curvada para cima, em um teste de estrutura para ser solta novamente só com um toque. O teste é repetido várias vezes, ano após ano, e tudo permanece intacto. Então, ele alerta que se você estiver num assento próximo à janela e vir a asa se movimentar para cima e para baixo, não se preocupe, está tudo certo. 
Então, está certo. Entendido, mas não é fácil ficar tranquilo lá no alto no meio de uma turbulência...

Referências e imagens:

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Ecos Imateriais | Purifique-se


 
Sirva, ame, dê de si mesmo, purifique-se, medite e realize. 
Seja bom e faça o bem.
- Swami Sivananda

Swami Sivananda (1887-1963) - Yogui e sábio de grande renome internacional, fundou o Sivananda Ashram em Rishikesh, Índia. Pioneiro na divulgação de ensinamentos em língua ocidental, escreveu mais de uma centena de livros sobre yoga, filosofia, saúde e temas afins. Médico de formação, renunciou à sua carreira para dedicar-se a uma vida de meditação e serviço. Sua mensagem é resumida na frase acima.