segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Ecos Humanos | Desmond Tutu (1931-2021)

Desde sempre sabemos (ou deveríamos saber) que a morte faz parte da vida e é o outro lado da moeda. Desde que nascemos, ganhamos a chance de desfrutar um dia a mais para o autoaperfeiçoamento e para ficarmos ao lado de pessoas que amamos, mas nunca sabemos quando esse dia será o último. Por isso, a importância de valorizar cada dia vivido, de celebrar e agradecer pelo tempo compartilhado.

Nossa forma de viver pode honrar ou não aquele que partiu, já que cada ser que parte sente nosso estado de espírito, nossa paz e gratidão ou nossa tristeza e revolta. Fiquemos em paz, gratos e deixemos que sigam em paz. Porém, além disso, cada um que parte permanece naqueles com quem conviveu, por meio de lembranças, sentimentos, lições de vida e amor compartilhado. Uns deixam lições mais abrangentes e universais; outros, lições mais locais.

Alguns seres privilegiados deixam marcas em toda a humanidade. Já viveu entre nós aquele que foi capaz de imprimir sua marca, de forma indelével, na passagem do tempo: o calendário passou a ser lido antes ou depois dele. Até hoje, no entanto, ainda tentamos aprender e pôr em prática suas lições. 

Vários outros seres luminares deixaram suas marcas com uma vida que buscava aplicar as regras daquele que mudou a contagem do tempo. Já falei de vários deles aqui: Mandela, Gandhi, Yogananda, Hermógenes, Irmã Dulce, Madre Teresa, Chico Xavier e muitos outros.

Agora, no dia 26 de dezembro, logo após o Natal de 2021, o arcebispo anglicano sul-africano Desmond Tutu nos deixou. Ele e Nelson Mandela (1918-2013) dedicaram sua vida à luta antiapartheid. Sua conduta, sua ação, seu movimento infatigável pela igualdade racial e pela justiça social, foram sempre envolvidas em alegria e compaixão e marcaram minha geração e, espero, muitas outras. Sou só gratidão! 

Seguem alguns links sobre esse Ser Humano, incrivelmente Humano, que me inspirou a criar o Blog Anita Plural: Como nasceu o Blog Anita Plural ; Ecos Imateriais | Ubuntu; Ecos Imateriais | Não existe neutralidade.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Ecos Literários | Saber ver de novo

Foto: Anita Di Marco
O olhar acostumado, a forma de olhar, a educação do olhar, o olhar do poeta, o olhar do místico, do menino, da criança, do velho. Tudo isso já foi tema de minhas crônicas aqui no blog Anita Plural. Retomo agora algumas falas sobre o olhar:
Para Rubem Alves o ato de ver não é natural, precisa ser aprendido e a primeira função do educador é ensinar a ver. Por isso, diz ele, temos que desenvolver olhos de poeta, porque os poetas ensinam a ver. 
Alberto Caieiro diz que aprendeu a olhar com um menino que caiu do céu: “A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas..."  
O amigo Frederico Azze fala da necessidade de educar o olhar, para ver tudo com olhos de encantamento. Ou seja, de novo e sempre, o segredo dos poetas não está no que é observado, mas no olhar que observa.

Foto: Vanessa CTReis
O olhar também foi título da exposição de fotos que Vanessa CTReis e eu fizemos em maio 2011, por ocasião da reabertura do Teatro Capitólio: O que não se percebe: um novo olhar sobre o teatro Capitólio... e sobre a cidade. Afinal, a cidade, nossa casa maior e o cenário onde a vida humana se desenrola, é configurada pelos espaços públicos e edificações que emolduram a vida cotidiana. Memórias, lembranças e fatos estão associados a algum lugar e nem sempre, essa associação é consciente. Mas vivemos como se flutuássemos, como se não percebêssemos o mundo físico e real à nossa volta. É aí que espaço, tempo e ação se misturam. Não mais percebemos os detalhes. E, sobretudo, em tempos de distopia, o modo de olhar, o saber ver, faz toda a diferença.  
 

Na mesma época, tínhamos outro sonho, um projeto que agora, dez anos depois, virou realidade pelas mãos da editora carioca Rio Books. Acaba de ser publicado o livro Saber ver: Teatro Capitólio, patrimônio cultural. A publicação vem resgatar e registrar um capítulo da história desse belo edifício e da cidade, ou seja, a nossa história.

      [...] Então, arquitetura e fotografia deram-se as mãos para apostar na         transformação do olhar a partir da releitura do edifício[...]. Um circuito         que liga objeto arquitetônico, olhar, memória e cidade. (Do texto de               abertura da exposição). 

Além da editora da Rio Books (Denise Corrêa), da amiga e arquiteta Ruth Verde Zein (que fez a apresentação do livro) e das autoras, o lançamento (virtual) reuniu amigos de vários cantos e áreas: artistas, professores, músicos, historiadores, tradutores e arquitetos. Foi muito especial! 

Vida longa ao Teatro Capitólio de Varginha! Que novos olhares surjam abertos, afetuosos e inclusivos para que as nossas cidades sejam realmente mais justas, seguras, acolhedoras e democráticas.

Livro: Saber Ver: Teatro Capitólio, patrimônio cultural. Fotografia autoral.
Anita Di Marco e Vanessa CTReis. Rio de Janeiro: Rio Books, 2021.
https://www.riobooks.com.br/