Imagem: Wikipedia
A época?
Segunda metade da década de 1970. Estava no quarto ano da Faculdade de Arquitetura (FAU-USP) e fazia estágio na Secretaria de Planejamento do
Estado. Um concurso de fotografias (ver aqui) foi pensado e preparado com carinho por todos
daquela Coordenadoria de Ação Regional, sob o comando firme, porém suave do arquiteto Eduardo Yázigi. Para todos do grupo, o concurso parecia ser a
iniciativa ideal para que as pessoas descobrissem e aprendessem a valorizar
suas cidades. Afinal seria um concurso para todo o estado, uma forma de fazer
os moradores redescobrirem espaços, praças, ruas, casas, cantos e encantos de
suas cidades. Era um convite para olhar, perceber e cuidar. Um convite para demonstrar afeto.
O resultado mostrou incríveis facetas das cidades paulistas, recantos esquecidos, detalhes de espaços públicos nunca observados, trechos urbanos abandonados, inimagináveis perspectivas de ruas inusitadas, detalhes arquitetônicos dourados pela luz do pôr do sol.... Ingenuamente, imaginávamos que o concurso seria uma maneira de fazer as pessoas se conscientizarem da importância da paisagem urbana e do patrimônio de suas cidades, percebendo que cada um era responsável por criar uma cidade melhor e mais agradável. Como? Passeando, caminhando, descobrindo, redescobrindo, interessando-se, cuidando e cultivando as partes e o todo.
Com o final do concurso, acabaram-se aqueles instantes de foco momentâneo nos espaços urbanos. A cada vez que visito uma cidade, me pergunto por onde andam aqueles lugares retratados tão poeticamente naquelas fotos em branco e preto. Fico me perguntando por que as pessoas gostam tanto de cidades estrangeiras e parecem se importar tão pouco com as suas, locais onde vivem, crescem, trabalham, têm seus filhos.
O resultado mostrou incríveis facetas das cidades paulistas, recantos esquecidos, detalhes de espaços públicos nunca observados, trechos urbanos abandonados, inimagináveis perspectivas de ruas inusitadas, detalhes arquitetônicos dourados pela luz do pôr do sol.... Ingenuamente, imaginávamos que o concurso seria uma maneira de fazer as pessoas se conscientizarem da importância da paisagem urbana e do patrimônio de suas cidades, percebendo que cada um era responsável por criar uma cidade melhor e mais agradável. Como? Passeando, caminhando, descobrindo, redescobrindo, interessando-se, cuidando e cultivando as partes e o todo.
Com o final do concurso, acabaram-se aqueles instantes de foco momentâneo nos espaços urbanos. A cada vez que visito uma cidade, me pergunto por onde andam aqueles lugares retratados tão poeticamente naquelas fotos em branco e preto. Fico me perguntando por que as pessoas gostam tanto de cidades estrangeiras e parecem se importar tão pouco com as suas, locais onde vivem, crescem, trabalham, têm seus filhos.
Ponte JK em Brasília. Imagem: Lucas Di Marco Alves |
O melhor a fazer para se construir uma cidade mais agradável, gentil e inclusiva é ouvir, participar, discutir, propor e agir: ir às reuniões convocadas pelo poder público; reclamar na ouvidoria dos serviços públicos; dar opiniões e sugestões, atuar e enfim, participar da gestão da cidade. Afinal, não somos todos nós filhos da cidade, não somos todos nós cidadãos, não vivemos todos no mesmo lugar? Qual a justificativa para não cuidar do seu canto, do seu setor, para não colaborar com todo mundo para qualificar a cidade que é de todos?
O olhar pelo coletivo é a saída, sempre foi, porque
ninguém vive sozinho e, de uma maneira ou de outra, todos dependem de todos.
Queiramos ou não, gostemos ou não de admitir. O fato é que o olhar pelo
coletivo colabora com a comunidade e cria um ambiente melhor para todos, não só
para uma pessoa. O olhar voltado apenas para seu mundinho individual, mesmo
estando em uma coletividade, retira não só dos outros o direito de um ambiente
saudável, acolhedor, agradável, mas também do próprio indivíduo; quando só pensa em seu espaço, sua casa, sua
família, esta pessoa se esquece dos demais cidadãos, daqueles que
formam a cidade. Com o olhar fechado, ela procura não ver aqueles
com quem não se importa ou que finge não ver. Mas o que faz crescer
uma comunidade é o interesse e o cuidado de todos. A saída é o olhar coletivo.
Sempre foi e sempre será.
Aquele concurso de fotografias, proposto pela Secretaria de Planejamento do Estado de SP, completou 40 anos. Sinto que parece cada vez mais distante o sonho de ver cada cidadão valorizar, se importar e cuidar de sua cidade. Talvez daqui a 500 anos, nossas cidades possam ser admiradas como Barcelona, Londres, Paris, Lisboa, Florença, ou como aquela cidade que tanto admiramos em nossa última viagem... Talvez.... Mas para isso acontecer, temos que começar já. Coletivamente.
Aquele concurso de fotografias, proposto pela Secretaria de Planejamento do Estado de SP, completou 40 anos. Sinto que parece cada vez mais distante o sonho de ver cada cidadão valorizar, se importar e cuidar de sua cidade. Talvez daqui a 500 anos, nossas cidades possam ser admiradas como Barcelona, Londres, Paris, Lisboa, Florença, ou como aquela cidade que tanto admiramos em nossa última viagem... Talvez.... Mas para isso acontecer, temos que começar já. Coletivamente.