sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Ecos Urbanos: Qualidade urbana (2): O caso de Medellín

Centro de Desenvolvimento Moravia, Medellín. Foto:Silvia R. Chiarelli
Ainda me debruçando sobre o tema CIDADE, casa maior de cerca de 75% da população mundial, retomo outro exemplo bem-sucedido de renovação urbana, ainda na Colômbia. Trata-se da capital da província de Antioquia, Medellín, hoje com pouco mais de 2,5 milhões de habitantes. Da cidade perigosa e dominada pelos cartéis, nos anos 1980, Medellín transformou-se numa das mais inovadoras e agradáveis cidades latino-americanas. Como? Combinando ações afirmativas, vontade política, planejamento urbano sustentável, urbanismo social, participação da sociedade, cultura, mobilidade, espaços públicos dignos e olhar atento e humano para levar qualidade de vida a todos os seus moradores, sobretudo às periferias. Seu sucesso inspirou várias de nossas cidades, mas Medellín também se inspirou em nossos programas, em especial, os de transporte e mobilidade urbana de Curitiba, bem conhecidos, e outros do Rio de Janeiro, como o Programa Favela-Bairro (FB).

Para quem não conhece, o Favela-Bairro foi lançado em 1995 e considerado modelo, pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no combate à pobreza. O projeto, coordenado pelo então Secretário Municipal de Urbanismo, arquiteto Luiz Paulo Conde, objetivava melhorar as condições de vida nas comunidades, atuando em várias áreas: infraestrutura urbana, moradia, oferta de serviços e espaços e equipamentos de lazer e cultura. Financiadas pela prefeitura carioca e pelo BID, numa primeira fase, as intervenções foram bem-sucedidas e contemplaram 38 comunidades, o que chamou a atenção de técnicos e do poder público da Colômbia. Nessa época, Medellín vivia dias terríveis, com o país tomado por violentas disputas. Autoridades e urbanistas do país vieram ao Rio para conhecer e entender melhor o programa, e, talvez, aplicá-lo em seu país, em um plano ousado para melhorar as condições de vida de suas comunidades.  

Ocorre que, nesse meio tempo, enquanto as autoridades de Medellín começavam a desenvolver um projeto para sua cidade, o Favela-Bairro começou a definhar. Um estudo, entre 2000 e 2008, das 88 comunidades da segunda fase do FB, concluiu que muitas obras se deterioraram por vandalismo, como destruição da iluminação pública, falta de manutenção da prefeitura ou dificuldade de acesso da polícia. Transformado em Morar Carioca pelo prefeito Eduardo Paes, o projeto foi recuperado em 2017.   

Jardim Botânico-Medellín. Foto: S. Raquel Chiarelli
Medellín foi em frente, implantou seu plano de urbanismo social e acabou virando modelo para outras cidades, inclusive para o Rio de Janeiro. Se antes, os adolescentes locais eram cooptados pelo narcotráfico ou pela guerrilha, isso mudou com a implantação do urbanismo social. A grande virada se deu em 1991, quando o governo convocou diversos setores da sociedade para discutir e enfrentar de vez e, em conjunto, a desigualdade e a violência urbana, na busca de soluções definitivas. Conscientizaram-se de que violência só gerava mais violência e que era urgente interromper aquele ciclo. Com a morte de Pablo Escobar, em 1993, o poder do narcotráfico se fragmentou, estimulando novos planos e projetos sociais, com um horizonte mais longo.  
 
Entre outras ações, foram implantadas, na cidade, o teleférico (o metrocable), em zonas de difícil topografia, com linhas que funcionam e ligam as comunidades ao centro da cidade, transportando quase 100.000 pessoas/dia. Foram também criados largos, praças e campos de futebol, além de outras intervenções como abertura de ruas amplas, limpas e pavimentadas, permitindo o acesso do caminhão de lixo e de entregas, comércio dinâmico, escadarias e rampas, obras sólidas de contenção de encostas e de acessibilidade para deficientes, serviços de Wi-Fi, ausência de lixões ou de valas de esgoto a céu aberto etc. No miolo da favela, foram construídos equipamentos como escola, quadra poliesportiva, praça e centro de convivência.

Parque Biblioteca La Quintana-Medellín. Foto: Silvia Raquel Chiarelli
Com financiamento de empresas públicas, prefeitura, empresas locais e contribuição internacional, inúmeros projetos foram feitos para áreas marginalizadas e vulneráveis de Medellín, sempre visando enfrentar problemas crônicos de mobilidade, habitação, meio ambiente, deficiência de serviços básicos, escassez de espaços educacionais, de convivência e de recreação. Foram priorizadas, além das áreas com maior taxa de violência e pobreza, as áreas com maior população de crianças de 0 a 6 anos. Ademais, houve a construção de imóveis com o reassentamento de famílias em risco, ampliou-se o sistema de transporte, investiu-se em arte, educação, cultura, esportes e bibliotecas-parque. Os jovens aderiram, desviaram-se da criminalidade, o índice de homicídios na cidade despencou e Medellín renasceu.

Mil a zero para o olhar técnico que não perde a humanidade e para o urbanismo social, que investe na população com equipamentos de qualidade e programas que não são descontinuados com a mudança dos políticos de plantão.

Referências

https://outraspalavras.net/outrasmidias/medellin-inspiracao-para-resgatar-as-cidades-brasileiras/ 

https://www.mobilize.org.br/noticias/5261/medellin-exemplo-de-cidadania-aliada-a-mobilidade-urbana.html

https://catracalivre.com.br/viagem-livre/medellin-a-cidade-que-se-reinventou/

https://pt.org.br/melhor-prefeito-do-mundo-conheca-os-premios-da-gestao-haddad/

https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/haddad-vence-desafio-de-prefeitos-e-sp-ganha-us-5-milhoes-para-projeto.ghtml

https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/freguesia-do-o-recebera-novo-territorio-ceu/24/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Medell%C3%ADn

  

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