No final da década de 1980, logo que me mudei para Varginha, no Sul de Minas, uma
das coisas que mais me encantou na cidade foi seu Conservatório Estadual de Música. Isso porque, desde criança, em São Paulo, a música sempre esteve presente no
meu dia a dia: dos arranjos de gaita do meu pai, cantigas de roda da escola e cantos ensinados
pela minha mãe às canções que ela mesma cantava e cantávamos junto, às aulas de dança, ginástica rítmica e violão. Todo dia era dia de música, cantoria e dança em casa, e nas mais variadas formas. A música fazia parte natural do nosso cotidiano. No entanto, o Conservatório Municipal de São Paulo era distante, muito
procurado e tinha poucas vagas. Não consegui estudar lá. Então, como os pais costumam fazer, tentei oferecer aos meus filhos as
oportunidades que não tive e que considerava essenciais para uma boa formação.
O contato com a música em um conservatório era uma delas. Vale lembrar que desde que fiquei grávida, lá em São Paulo ainda, os bebês já recebiam vibrações musicais. No nosso pequeno apartamento, em Pinheiros, o som rolava solto e o paizão, fissurado na boa música, tinha coleções de LPs, os famosos bolachões, escolhidos a dedo na Praça Dom José Gaspar, em São Paulo. Tínhamos de tudo: de música internacional ao rock, de Beatles à country music, da MPB aos latino-americanos, dos clássicos e música instrumental às alegres composições do Nordeste. De tudo, um pouco, mas de muita qualidade. As crianças participavam e curtiam nossa cantoria. Hoje, a caçula herdou o toca-discos e um grande número daqueles LPs.
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| Apresentação de flauta doce. foto: Anita Di Marco |
O tempo foi passando. Os filhos estudaram, tocaram e cantaram e aproveitaram aquele tempo, mas decidiram seguir outros rumos profissionais. A música, no
entanto, já estava neles (desde a gestação). já sabiam apreciar os sons, a noção de conjunto, o ritmo e as diversas vozes,
diferentes e sempre necessárias para compor a harmonia, em qualquer área da vida. Até hoje, lembro com carinho dos primeiros professores que os
ajudaram nessa caminhada: em especial, os "tios" Flávio, Marly e Alex Tiso e Leonilda, que acolheram minhas crianças em seus corações, despertando, de vez, a alma deles para a música. Obrigada! 


