Sou desconfiada de nascença, aliás, acho que é um
hábito bastante salutar. Diante de qualquer fato, notícia ou leitura, é sempre bom colocar o bom senso e o olhar crítico em
ação e, em tempos de enxurradas de notícias falsas, isso
é mais importante do que nunca. O fato é que quando se estuda História, percebe-se que, ao longo do tempo, a humanidade pouco mudou: rebeliões, guerras, interesses escusos, traições, vinganças, lutas
pelo poder, golpes, descaso, calúnias, pandemias...
É verdade! Houve muito progresso
científico. Aí estão a tecnologia, a internet, os celulares, as pesquisas, a medicina, as viagens espaciais, os
meios de transporte.... Porém, do ponto de vista moral, os fatos continuam se
repetindo, talvez com métodos mais sutis ou nomes diferentes. Mas, de qualquer modo, tudo parece incrivelmente atual... Aliás, o italiano Giuseppe Tomasi
di Lampedusa (1896-1957), autor de Il
Gattopardo (O Leopardo), já dizia que para tudo continuar igual, alguma coisa deveria mudar. Seu livro narra a decadência dos nobres da Sicília, Sul da Itália, e a ascensão de outra classe ávida por poder. Será que não é o que vemos todos os dias? Pois, afinal, a história oficial, aquela que conhecemos nos bancos
escolares, é a versão contada pelos vencedores, porque a versão dos vencidos
não é conhecida, quando não é apagada.
Logo, fontes confiáveis são cruciais para entender a História e uma boa ajuda é o blog editado pela historiadora Marta Iansen, História & outras histórias, um manancial de interessantes dados históricos. É um blog informativo, divertido e perspicaz. Se
você se interessa pela humanidade, pela sociedade e pela história,
porque tudo está interligado, é só aprofundar seus estudos, desenvolver o
senso crítico e aguçar o "desconfiômetro". Mas, para isso , é preciso
estudar, sempre e continuamente.
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Oswaldo Cruz. (Revista da Semana, s/d, Charge de Bambino). https://suportegeografico77.blogspot.com/2019/01.html |
Afinal, como já disse, as coisas continuam a se repetir... Surtos de
doenças e pandemias, por exemplo. Não é assunto novo. Muitas doenças e pandemias já aconteceram pelo mundo: a peste negra ou bubônica, na Europa Medieval, no século XIV; a gripe espanhola de 1918-19
no Brasil e que, apesar do nome, não começou na Espanha; os surtos de varíola,
sarampo e gripe, entre os povos indígenas e em várias cidades brasileiras, por
exemplo, são apenas algumas. No Rio da Belle Èpoque, a História nos traz um
episódio conhecido como A revolta da Vacina. Oswaldo Cruz, médico sanitarista,
foi o responsável por combater o surto de febre amarela, em 1850, causada pelo nosso
já conhecido Aedes aegypti, mas com a obrigatoriedade da vacina, a população
reagiu com medo e a polícia entrou em ação.
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O que é gentrificação. Imagem:http://courb.org/pt |
No caso do surto de varíola (1904), o poder público, mais uma vez,
tomou medidas drásticas. João do Rio, cronista carioca, narra a chegada
da varíola em seu livro Dentro da
Noite, de 1910. No início do século XX, durante as obras de modernização da cidade, na gestão do então prefeito Pereira Passos, o Rio de Janeiro buscava modernizar-se, ou seja, espelhar-se na Paris da Belle Époque. Tal modernização, chamada política do “Bota Abaixo”, consistia em uma série
de intervenções que demoliram vários cortiços da cidade. E, como sempre acontece, a população pobre é a que sofre mais, em qualquer tentativa de remodelação, recuperação urbana ou reurbanização que, em outras
palavras, traduz as tentativas de esconder o feio, o pobre, o distópico para passar a falsa
imagem de uma cidade bela e rica.
Hoje, isso se chama gentrificação. Mudam os nomes, as doenças, os governantes, mas tudo continua igual. Até quando?
Referências
https://martaiansen.blogspot.com/
http://www.courb.org/pt/o-que-e-gentrificacao-e-por-que-voce-deveria-se-preocupar-com-isso/