Dados do IBGE mostram que 85% da população brasileira já
moram em cidades. Isso quer dizer que esses cidadãos buscam qualidade de vida, moradia digna, transporte
público eficiente e condições de mobilidade, educação e saúde de qualidade, áreas verdes, espaços públicos seguros com iluminação, segurança e maior circulação de pessoas, cultura etc... Mas logo vem uma pergunta: se essa porcentagem é tão grande, as cidades deveriam atender aos desejos de seus habitantes e oferecer
melhores serviços e oportunidades para todos, certo?
A
resposta deveria ser óbvia, mas não é. Nossas cidades, em sua maioria, continuam se
expandindo de forma não planejada, priorizando o transporte individual em detrimento do público e mantendo as conhecidas carências e desigualdades.
Ou seja, a preocupação/ação do
poder público (em especial o municipal, mas não só) parece
estar distante do objetivo de criar cidades com oportunidades e
melhor qualidade de vida para TODOS. Tudo fica na esfera das promessas, do sonho, de um futuro incerto e desejado, mas a prática é outra. Equipamentos e serviços essenciais de qualidade parecem sempre pensados apenas para
uma pequena parcela da população. Ora, já passou muito da hora de repensar a cidade ideal.
Mas, como seria uma cidade ideal? Penso a cidade como o
palco de um imenso teatro, onde se desenrola o drama da vida. Cada ator deve desempenhar bem seu papel, aprender, conviver, trocar e desenvolver-se como ser humano. Se a estrutura física do teatro não
oferece as condições mínimas para o ator se desenvolver e cumprir bem o que se espera dele, em
que condições a peça da vida será encenada? Nessas condições (ou na falta delas), poucos são os
“atores” de fato conscientes de seu papel. A maioria parece apenas obedecer
a um costume, a uma prática mecânica, há muito aprendida e repetida; não
questiona, não cria, não inova mais, porque não existe cenário correto, nem direção,
nem contrarregra, nem iluminação, nem qualquer equipamento que auxilie os atores a melhorarem seu desempenho. E eles continuam atuando, só que a maioria parece agir por
inércia numa atitude passiva e sem reflexão, alheia ao seu poder interno de promover mudanças, sem a atitude decidida e firme de
quem sabe como, por que e o que fazer.
De um lado, seriedade, conhecimento e vontade política são elementos essenciais para o
poder público cumprir com seu dever de propor cidades, serviços e equipamentos melhores a todos. De outro lado, cidadania e consciência são os ingredientes indispensáveis para o cidadão reivindicar uma cidade melhor para todos. Como? Com atitudes simples e cotidianas, já que qualquer ação nossa é política e tem força; porque dignidade é objeto de desejo (ainda que
inconsciente) e direito pleno de todos. Então, ou você age em busca dessa qualidade de vida para todos ou deveria morar na Pasárgada: lá você vai ser amigo do
rei e viver num mundo ilusório. Porém, como seres urbanos e humanos, a obrigação
de todos nós, cada um em seu campo de atuação, é agir no sentido de melhorar as nossas
cidades e suas estruturas, destacando benefícios e êxitos, mas também apontando
falhas, carências e reivindicando ações.
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B.Aires. Antes e depois do Plano de Mobilidade
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Então, por que não
começarmos pela nossa própria rua, nossa calçada, nosso bairro? Como? Com
educação e consideração pelo outro: não jogando lixo nas vias públicas; acondicionando
o lixo doméstico, industrial e hospitalar de forma adequada (imagine o caos
se ficarmos sem os profissionais e serviços de limpeza urbana); separando material reciclável; recolhendo
de ruas e parques as fezes do seu animal de estimação; recolhendo
folhas das árvores das calçadas para evitar entupimento de bueiros e enchentes;
conservar equipamentos urbanos como lixeiras, postes de iluminação, painéis, placas, bancos etc;
estacionando seu veículo de forma apropriada e lembrando que
outros motoristas também precisam estacionar; dirigindo devagar, sobretudo
perto das faixas de segurança, hospitais e escolas; dando prioridade aos
pedestres e ciclistas; recusando e denunciando a “mágica” ilegal dos “gatos” de
água, luz, TV ou internet... São desanimadoras as notícias que lemos sobre esses "gatos", ou o que vemos vemos no chão, sobretudo depois de grandes aglomerações. São cenas que deveriam envergonhar
qualquer indivíduo que faça parte da dita humanidade. O fato é que aqui na vida real, com exceção das classes de renda alta e média alta, nossas cidades são
maltratadas e a população, sobretudo da periferia, é quase sempre desrespeitada e humilhada. É urgente refletir,
abrir os olhos e também o coração, e sair do seu quadrado.
Pense nisso! No país, existem inúmeras organizações,
como o portal BR Cidades e o Laboratório de Habitação e Assentamentos da USP, por exemplo, que são centros
de excelência que discutem, trabalham e propõem ações para garantir a construção de cidades
boas, justas, seguras e dignas para todos. Atualize-se e arregace as mangas. Por uma
cidade inclusiva, segura, agradável e melhor para todos!
Referências
https://www.brcidades.org/
https://labhab.fau.usp.br/
https://www.wribrasil.org.br/
https://www.cidadessustentaveis.org.br/inicial/home