Encontrar indivíduos que sofrem de ansiedade crônica tem sido cada vez mais comum e não só nas grandes cidades. Uma sensação
indefinida de fazer 500 coisas ao mesmo tempo, de sempre deixar algo para trás, de nunca ter tempo
para algo diferente e prazeroso, de nunca ter tranquilidade e a impressão de um vazio constante, jamais preenchido. O pior é que não são só adultos que sofrem desse mal;
jovens e crianças também. Para todos recomendo o yoga, a meditação, o estar presente, a atenção plena naquilo que você estiver fazendo. Como dizia, há tempos, lá em São Paulo, o coordenador da equipe de jovens e ansiosos arquitetos do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), "Vamos por partes; uma coisa de cada vez". Esse estar presente controla a respiração, fecha seu cone de interesse num único ponto e diminui a sensação de ansiedade resultante de um ângulo que se abre, cada vez mais. Mas neste
post, vou me ater às crianças.
Para começo de conversa, hoje, as crianças precisam
ter agenda para organizar suas atividades – escola, ortodontista,
balé, natação, judô, kumon, inglês, música, reforço, orientação, catequese... fora o tempo gasto nas redes sociais em jogos, fazendo ou assistindo a filmes de autopromoção, violência etc., desviando o foco e aumentando o isolamento social, entre outras coisas. Aliás, esse é um tema espinhoso e difícil que merece um post separado. Mas, voltando às atividades infantis - Ufa, cansei!
Os
pais justificam dizendo querer preparar
a criança para o futuro. Mas... e o presente? É
evidente que o excesso de atividades rouba das crianças o tempo para brincar, conversar com seus botões, suas bonecas, ursinhos e amigos
invisíveis. A psicologia nos ensina que até os sete anos, toda criança tem
amigos invisíveis, certo? Pois bem, tempo livre sem nenhuma
atividade é crucial. A
criança precisa de contemplação, de brechas na agenda, de tempo e espaço, de silêncio e
tranquilidade para crescer e se tornar um ser humano equilibrado. Na velocidade, no excesso, na cobrança e na ansiedade não se
percebe o pequeno, o detalhe, a minúcia; não sobra tempo para ver, apreender,
analisar e, muito menos, entender.
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Divulgação. Getty images |
É
nesse tempo ocioso, brincando, que a
criança amplia a socialização, questiona, tenta entender fatos
ocorridos,
desenvolve habilidades físicas, psicomotoras e emocionais, explora,
analisa, aprende, reinventa e elabora situações que acontecem na sua
vidinha. E quando falo em tempo livre, ocioso, refiro-me também ao tempo de convivência, de troca e de conversas com os pais, avós, primos, com a família, porque embora a criança aprenda muito mais com o exemplo, as palavras e as conversas têm peso e ensinam consideração, respeito, compaixão, solidariedade, humanidade, empatia.
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O fato é que não somos máquinas, não temos que fazer tudo e estar prontos para a vida aos 10 anos de idade! Ser
criança é não ter preocupações, é poder não se ocupar, além dos deveres e tarefas normais (às vezes, nada normais) da
escola. É fundamental viver e saborear o tempo, a passagem das horas, o clima, o ritmo da
respiração, dos batimentos cardíacos, da natureza, da vida. É urgente que as crianças retomem o contato direto com a
natureza – correr, pular, subir em árvores, colocar o pé no chão, pisar na grama, na areia, na
terra, na poça d’água. É saudável e necessário sentir as diferentes texturas e
temperaturas do meio ambiente nos pés, nas mãos, no corpo todo. É fantástico descobrir a vida brotando poderosa na natureza!
Claro,
sempre haverá o momento de aprender outras línguas, música, natação, judô, ballet e tudo o mais
que você acha que seu filho pode precisar, um dia. Mas, talvez o melhor
exercício que sua criança pode fazer, enquanto ainda pode, é
brincar, estar junto, ouvir histórias e conversar, de preferência com você. Mas
não acredite só em mim; converse, estude, pesquise e leia Paulo Freire,
Piaget, Maria Montessori, Vygotsky, Freud, Winnicott, entre tantos outros.
Referências
https://www.nucleodoconhecimento.com.br/educacao/brincar-na-educacao
https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/pediatras-destacam-a-importancia-das-brincadeiras-para-o-desenvolvimento-infantil/
https://www.pedagogia.com.br/artigos/jogoebrincadeiranaeducacaoinfantil/index.php?pagina=2
https://educacaointegral.org.br/reportagens/tedio-tempo-livre-tem-potencial-criativo-para-as-criancas-diz-autora/