sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Ecos Culturais | Caderninhos

Para relaxar a mente, seja no campo profissional ou não, todo mundo tem suas idiossincrasias ou manias. Alguns escolhem a música; uns pintam, outros dançam, leem, fazem trabalhos manuais, atividade física, yoga, meditação...outros correm e, estranhamente, quando esquecem o fone de ouvido, não conseguem correr!
Muitos escrevem, tomam nota, rabiscam e usam blocos, cadernetas ou cadernos de referência, os chamados commonplace books, em inglês. Sua origem remonta aos tempos da Grécia e da Roma antigas; foram muito comuns no Renascimento e muito usados por arquitetos, artistas e pensadores de todos os tempos. Suas páginas guardavam linhas, traços, planos, ideias, desenhos, poemas, lembretes. Thomas Jefferson, John Locke, Le Corbusier e Victor Hugo são alguns dos nomes conhecidos que usaram esses livretos. Aliás, ainda não vi um único arquiteto que não tenha um desses caderninhos...

No meu caso, desde jovenzinha, gosto de escrever. Não que eu não tenha tentado outras atividades como pintar, dançar, bordar e até costurar, mas meu negócio é a escrita, a linguagem, a rede de palavras e seus significados, e tudo o que acompanha essa prática. Adoro lápis de todos os tipos e cores, penas, canetas e canetinhas, mas, principalmente, blocos, bloquinhos, cadernos, cadernetas e caderninhos: de couro, de tecido, de moleskine, pintados à mão ou não, de papel artesanal, com ou sem pauta.

São delicados e práticos, estão sempre por perto, na bolsa, no bolso, na mochila. Acolhedores silenciosos, são espaços que recebem, sem questionar, minhas reflexões, ideias momentâneas e dúvidas, meus lembretes, pensamentos, rabiscos, instantes de "eureka" e insights mais profundos, rascunhos de textos ou poemas.... Não se trata de um diário, não fica trancado a sete chaves, nem vou ficar desesperada se alguém o ler, mas não há dúvida de que é meu, é personalizado. É como se fosse o pré-roteiro de um filme prestes a ser produzido, com a descrição do modo de ser e pensar de determinado personagem.

Afinal, escrever pode ser bem mais fácil do que falar e, ao escrever, é possível ordenar os pensamentos, trazer mais foco e clareza ao pensar, e ter mais discernimento quando se trata de fazer uma análise crítica de algo ou mesmo uma autoanálise, o autoconhecimento. Ao colocar para fora o que se pensa ou sente, é possível entender determinadas atitudes e situações vividas, agora entendidas sob outro ponto de vista. Ao escrever pode-se ressignificar experiências, mudar rotas, refazer a própria história ou lidar melhor com o novo, já que a vida não acontece de forma linear.

Enfim, ao escrever e, depois, ler o que escrevemos podemos entender melhor os outros e entender melhor nosso próprio ser, porque nessa hora estamos longe do calor do ocorrido; podemos desenvolver um outro olhar sobre uma situação passada e esse novo olhar, com certeza, vai reverberar no seu dia a dia de outra maneira. Como sabiamente disse certo médico mineiro que atravessou sertões e cruzou veredas:  

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem. O que Deus quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria, e inda mais alegre ainda no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito ― por coragem. Será? Era o que eu às vezes achava. Ao clarear do dia. (ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: Veredas, p.293).

Referências

http://desenhandopercursosurbanos.blogspot.com/2009/12/cadernos-de-croquis-de-le-corbusier.html

https://rhollick.wordpress.com/2021/10/29/commonplace-books/

http://papolie.com.br/

4 comentários:

  1. Também gosto de um caderninho, amiga. Agendas? Adoro. Escrever é sempre bom. Gostei.

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  2. E esse seu gosto pela escrita nos encanta!

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  3. Gosto,também de caderninhos e sempre gostei de escrever
    Ótima lembrança

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