quinta-feira, 31 de julho de 2025

Ecos Humanos | Sugestões Aceitas (2)

Para compreender a origem do post a seguir, leia aqui o anterior. Segue a mensagem que recebi do amigo Gumercindo e seu texto... Ele me pediu para escrever algo a respeito, mas achei tão verdadeiro e ri tanto com seu texto que resolvi publicá-lo na íntegra. Sobrou até para o John Lennon, coitado... Aqui vai!

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Uma “coisa” me incomoda faz tempo. Vou tentar explicar resumidamente e, se você concordar com a minha posição e achar que o assunto pode ir para o seu blog, por favor, trabalhe a ideia. Eventualmente sou convidado para algumas comemorações: casamentos, formaturas, bodas, batizados, reuniões de turma de escola, de turmas da juventude... São reuniões que, pela sua natureza, juntam pessoas que não se veem com frequência e algumas raramente se encontram. Pessoas que se gostam. A verdade é que a vida nos espalha pelo mundo. O surgimento das redes sociais amenizou esse distanciamento, mas apenas no aspecto das notícias, de estar parcialmente atualizado com os acontecimentos. No entanto, não substituiu – nem substituirá, na minha opinião – o prazer do encontro verdadeiro. 

Primos que eram muito próximos e nunca mais se viram, colegas de infância ou de faculdade, tios, avós, padrinhos.... Reencontros deliciosos. Essas conversas fluem de uma forma diferente do que ocorre via teclado. As lembranças vão conduzindo o rumo da prosa, com alegrias e tristezas, decepções e esperanças que, aos poucos, são confidenciadas e nos deixam muito mais próximos dos nossos interlocutores. O tom de voz é modulado de acordo com as emoções. Os intervalos de silêncio sedimentam as novidades.  Uma delícia!

Geralmente essas comemorações são precedidas de muitas providências relativas ao local, à decoração, aos comes e bebes, tudo com muito cuidado, com muito esmero. E incluída na relação de providências está a música. Ela é a razão do meu incômodo.

Não sei por qual motivo os músicos têm a certeza de que o propósito da reunião é ouvi-los. Para eles, não fomos lá pelos noivos, pelo diploma, pelo reencontro....  Nada disso. Fomos para ouvi-los, nada mais do que isso. E com essa convicção, ajustam o volume de seus amplificadores para a máxima potência. Conhecem de música, de ritmo, sabem as letras das canções, fazem arranjos...mas não conhecem nada de acústica. Os ajustes não mantêm uma relação balanceada entre a música e a voz. É cada um, no máximo, disputando com o outro. Desconhecem que os amplificadores de áudio têm uma faixa linear – que costuma ir até os 80% da potência – e depois entram na região de não-linearidade, ou seja, começam a distorcer o som. E o som distorcido é desagradável; ele cansa e irrita o ouvinte.  Tá bom, sei que se tiverem à sua disposição amplificadores de alta potência poderão trabalhar na região linear, garantindo o alto volume de som que julgam necessário. Nesse caso o som não é distorcido, mas continua desbalanceado e estupidamente alto.

Aí, você está numa mesa com oito ex-colegas de escola, muitos dos quais não encontrava havia anos e que, provavelmente, levará outros tantos anos para reencontrar, se tiver a felicidade de uma nova oportunidade, o que nem sempre acontece. E você malemá consegue conversar apenas com seus dois vizinhos, o da esquerda e o da direita, que não conseguem conversar um com o outro. Só falam com os seus outros dois vizinhos além de você. E, na verdade, você não conversa. Você berra no ouvido do outro, e depois dele dizer “hein?” duas ou três vezes, você vai desistindo da conversa que, então, é trocada pela audição de Imagine do John Lennon, que você contabiliza – com esta – a quadringentésima nonagésima oitava vez que ouviu. Mas em troca, não ficou sabendo nada daquela história engraçada que o seu amigo queria tanto lhe contar e que você queria tanto ouvir.

Aquela tia querida, que você nunca mais viu e nunca mais vai ver, queria muito saber de você, da sua esposa, dos seus filhos e netos, da sua casa, do seu trabalho mas.... “It’s easy if you try” passou na frente. Ela queria lhe contar uma passagem do seu pai quando criança, o tratamento de saúde que está fazendo, uma viagem que acaba de acontecer... mas a sua voz mais fraca não venceu ... ”all the people”... Isso quando não colocam uns estilos infernais (que chamo assim, porque só podem ser obra do capeta). Devo ser muito exigente (um fresco, talvez), mas tem muita coisa que considero verdadeiras porcarias, sendo educado!

Sabe aquela risada gostosa e simultânea de um monte de gente ao redor de uma mesa ouvindo uma piada ou um caso engraçado contado por um dos participantes? Esquece! Impossível! Não existe compartilhamento maior que entre três ou quatro.

Enfim, depois de várias horas de absoluta e triste solidão, mesmo cercado de gente querida, começam as despedidas com um gosto amargo de que faltou alguma coisa. E o pior, alguma coisa irrecuperável. A cabeça zunindo: ...”you may say I’m a dreamer...”

E quando chega em casa, você vê que o encontro criou um enorme buraco, uma relação enorme de perguntas não feitas e cujas respostas não terá. Um gosto amargo.

Acho uma idiotice tão grande que os palavrões que conheço não são suficientes para qualificar. Acho de uma burrice e de um mau gosto sem explicação. Sei que as reuniões, muitas vezes, não são feitas apenas para nós, os mais velhos. Nossos filhos nos acompanham com namorados e muitas histórias que nos encantam não têm o menor sentido para eles. Nesse caso, a música ajuda muito a dar alegria à festa e a eles.

Existem recursos para uma convivência sadia e inteligente entre a música e a prosa. O simples posicionamento das caixas de som pode ajudar muito. Se bem feito, com a frente para os jovens e as costas para os mais velhos, já se criam melhores condições. O ajuste do volume do som ajuda muito. Intervalos entre seleções de músicas também funcionam, dando oportunidade para a prosa. Nesse caso, ajuda inclusive as paqueras, que começam com uma dança, mas precisam da conversa para a maior aproximação, o conhecimento, o despertar de interesse.

Daria para falar bem mais, mas eu só queria expressar o que sinto e, repetindo, se você compartilhar desse sentimento, aí seria interessante elaborar um texto e publicar no seu blog. Tenho a certeza que você faria um manifesto muito interessante.

- Texto de Gumercindo Naia, Varginha, jun.2025

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Ecos Humanos | Sugestões aceitas (1)




Vejam só que sucesso! O Blog Anita Plural é enviado a inúmeros amigos, colegas, pessoas que gostam de ler sobre diversos temas, se informar e, eventualmente, pensar em algo diferente do tradicional. Bem, vez ou outra, recebo comentários particulares que muito me incentivam, elogiam, apresentam outros pontos de vista ou até mesmo sugerem novas pautas. Desta vez, a sugestão veio de um amigo mineiro de longa data, o engenheiro eletrônico Gumercindo Naia, ou simplesmente Gu, como ele gosta de ser chamado pelos amigos. Bem-humorado, bom papo, inteligente e antenado, ele sugeriu escrever algo a respeito de um situação incômoda e que, acredito, não deve ser só dele. Mas, como a sugestão veio em forma de um belo texto, resolvi publicá-lo aqui. Mas antes, um preâmbulo...

Ao longo da vida de todos nós, acredito que há dois movimentos contrários com relação à nossa rede de relação com os outros. Quando jovens, naturalmente vamos aumentando nosso círculo de amizades; à medida que amadurecemos e nos tornamos adultos, em geral, esse círculo se modifica, mas ainda se mantém em um número significativo, com amigos da juventude, familiares, amigos do trabalho e da vida social... Por outro lado, à medida que envelhecemos, acabamos por restringir, de forma natural, esse mesmo círculo ou, ao menos, a participação em muitos eventos sociais. É natural que nos tornemos mais “seletivos” – distâncias, barulhos, questões de saúde... Motivos é que não faltam, mas o fato é que acabamos nos retraindo mais, às vezes, até demais. De qualquer modo, eventualmente somos convidados para comemorações várias, como aniversários de família, casamentos, formaturas, reuniões da turma da faculdade ou da juventude......

O que fazer? Duvido que você, caro leitor, ainda não tenha passado por isso. Então, algumas perguntas nos vêm imediatamente à mente: 1. Onde e quando será o evento? 2. Quem estará presente e como? 3. Com quem conseguirei conversar? E, por fim, 4. Será que valerá a pena o esforço e o deslocamento? 

No próximo post, reproduzo o texto desse querido amigo e indefectível leitor. Acredito que todos vão se reconhecer, ao menos um pouquinho, no texto dele. Aguardem até a próxima quinta ou sexta...

sexta-feira, 18 de julho de 2025

Ecos Culturais | Cajueira!


Crédito: https://redecajueira.com.br/
A Rede Cajueira
 é uma plataforma de informação e inspiração! Um projeto jornalístico de parte da mídia independente nordestina que busca desconstruir a visão estereotipada e homogeneizada da mídia tradicional sobre o Nordeste brasileiro. Foi criada, em 2020, por quatro mulheres nordestinas - as jornalistas Mariana Correia (PE), Mariana Ceci (RN), Nayara Felizardo (CE) e Joana Suarez (PE) -, que querem reinventar a visão que as pessoas, em geral, têm do Nordeste, mostrando seus diversos e lindos “frutos”. 
 

Aliás, o título Cajueira deriva do cajueiro, planta nativa da região, símbolo de fartura, diversidade e força. Bem, elas se uniram a um grupo de jornalistas independentes dos nove estados da região (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia) em uma ação afirmativa da diversidade da região. O grupo produz o Cajuzap (conteúdo mensal em áudio), uma Newsletter quinzenal e a Rede Cajueira, a plataforma do grupo, que sempre traz informações e notícias dos estados do Nordeste. 

Como qualquer veículo alternativo e aberto, o grupo conta com financiamento público para continuar seu trabalho. Os leitores  que apoiam a continuidade do projeto podem contribuir mensalmente (apoia.se/cajueira) ou enviar um pix de qualquer valor para cajueira.ne@gmail.com. Com a ajuda, o grupo promete retomar rapidamente alguns projetos por ora parados, como os conteúdos em áudio, os “cajuzinhos pra adoçar os ouvidos dos Cajuzapers”! 

Enquanto isso, a newsletter quinzenal continua firme com notícias de toda a região. Os temas abordados são variados: a permanência no território de comunidades tradicionais a despeito da violência e da ganância de projetos “supostamente verdes” que geram deslocamentos, perda da terra e desequilíbrios ambientais; filmes e documentários que resgatam a ancestralidade negra e indígena frente a séculos de apagamento histórico dos povos originários; as implicações da especulação imobiliária e das mudanças climáticas sobre os territórios, como a perda de áreas significativas da caatinga (projeto “Caatinga Resiste”), a variada e rica cultura da região, entre outros. O grupo fala ainda de literatura e cidades. Para isso, a Cajueira se integra a vários órgãos de imprensa dos estados nordestinos para compor sua resenha. Exemplos são o Jornal O Mangue, o site Alma Preta, a Revista Alagoana etc. 

Nota MIL e vida longa à Cajueira! © 2025 Cajueira.  

Referências  

ttps://redecajueira.com.br/

https://redecajueira.com.br/sobre/)

https://cajueira.substack.com/p/coming-soon

E-mail: cajueira.ne@gmail.com